domingo, 6 de novembro de 2011

COMENTÁRIOS DO EVANGELHO


1. "VIVER HOJE O AMANHÃ..."
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)

Ser santo não é uma decisão do homem, mas uma resposta ao convite que Deus nos faz em Jesus Cristo: Sede perfeitos como o vosso Pai é perfeito! Perfeição nesse sentido, nunca foi e nem será o forte do homem, feito de barro, vulnerável ao pecado, sujeito a tantas fraquezas, marcado por tantas limitações. Se santidade fosse isso, Deus seria o maior dos injustos, pois é o mesmo que um homem perfeito sair em disparada e pedir para que um deficiente físico o acompanhe nessa corrida. Nunca teríamos a menor chance de ser santos. Há ainda outra corrente que acha que a santidade é apenas para alguns, que têm uma conduta exemplar, são pacientes, tolerantes, dóceis, calmos, prestativos, solidários, educados, nunca perdem a cabeça e o equilíbrio, nunca reclamam de nada e aceitam tudo, sendo bondosos o tempo todo. De pessoas assim, é melhor manter distância e ser cauteloso, porque me dizia um padre muito amigo, o santinho de hoje pode ser o diabinho de amanhã!
Ser calmo ou ter os nervos a flor da pele, ter equilíbrio emocional, demonstrar serenidade, ser amável e dócil, ser prestativo e educado, sem dúvida que são belas virtudes, mas não necessariamente um indicativo de santidade, pois conheço histórias de grandes santos que eram bem temperamentais. Há ainda outro conceito perigoso de santidade, que é ter o poder de realizar coisas prodigiosas, os chamados milagres. Conheço pessoas descrentes de Deus e da igreja, e que contudo praticam essas virtudes. E já tive conhecimento de curas operadas por pessoas de outras correntes religiosas, até opostas ao cristianismo.
A idéia de que santidade é coisa restrita de alguns homens e mulheres especiais, parece-me um tanto quanto equivocada, pois o visionário do apocalipse afirma categoricamente na primeira leitura, que se trata de uma multidão, de onde se conclui facilmente, que santidade é uma proposta de vida que Deus faz a toda humanidade, onde Jesus Cristo é o modelo e a referência máxima, nele a gente se encontra como Filho de Deus, não mais desfigurado pela corrupção do pecado, mas liberto, vitorioso e perfeito como fomos criados e concebidos pelo Pai. Somente Nele, com ele e por ele seremos santos! Mas encontrei nas leituras dessa “Festa de Todos os Santos”, uma definição ainda mais bonita e completa do que é a Santidade - “Viver hoje o amanhã”.
É preciso ter os pés no chão, pois uma coisa é enfrentar com coragem os desafios do presente e buscar soluções concretas, o outro é camuflar a situação, fazendo uma belíssima coreografia, sem mudar o cenário! É maquiar para parecer belo! A copa do mundo que vai acontecer no Brasil em 2014, será um desses momentos, de grande ilusão e utopia.
As bem-aventuranças proclamadas solenemente por Jesus, no alto de um monte, são profundamente realistas: a Primeira e a Oitava trazem o verbo no presente, “... porque deles é o Reino dos Céus”, ao passo que as demais, usam o verbo no futuro, “porque serão, verão, alcançarão...”.   Ser pobre em espírito é fazer de Deus a sua única riqueza, é possuir já nesta vida a plenitude da vida futura. É ser discípulo e estar em constante aprendizado a partir do evangelho, vivendo hoje tudo o que cremos e esperamos no amanhã. Esta postura diferente trará incompreensão e perseguição, mas em compensação, a alegria será verdadeira, porque não se fundamenta naquilo que se vê, mas sim no que se espera.
Jesus Cristo trouxe o futuro até nós, sendo precisamente esta crença e esperança que nos faz ter uma identidade própria, fomos marcados para fazer a diferença neste mundo tão descrente, que não consegue vislumbrar a Vida Nova, para a qual fomos destinados por Deus, desde o início da Criação.
José da Cruz é diácono permanente da
Paróquia Nossa S. Consolata-Votorantim/SP
e-mail:
cruzsm@uol.com.br

2. A pobreza é a forma concreta de libertar-se da submissão
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)

O "Sermão da montanha" é o programa do Reino dos Céus. É o Reino proclamado por João Batista (Mt 3,2) e, depois, pelo próprio Jesus (Mt 4,17). Em Mateus, Jesus faz a sua proclamação no alto de uma montanha, como momento inaugural de seu ministério na Galiléia. Moisés, no alto da montanha, recebeu de Deus as tábuas da Lei e Mandamentos. Agora é Jesus que, no seu anúncio do programa do Reino, transmite as oito bem-aventuranças aos discípulos que vêm a ele, no alto. O estado de felicidade associado à prática destas bem-aventuranças enche de esperança e atrai quem ouve Jesus.
Nas bem-aventuranças encontramos valores universais, que podem ser entendidos e acolhidos por todos. Outras bem-aventuranças são encontradas nos evangelhos: "Todas as gerações me chamarão de bem-aventurada..." (Lc 1,48); "Bem-aventurados os que escutam a palavra de Deus e a praticam..." (Lc 11,28); "Bem-aventurado quem não se escandalizar de mim..." (Mt11,6); "Bem-aventurados os que não viram e creram...", e várias outras mais. Estas bem-aventuranças ultrapassam o decálogo de Moisés. Elas não são mandamentos sob a forma imperativa, mas a oferta de um estado de felicidade a ser vivido por aqueles que comungam com a vontade de Deus. Elas orientam para práticas a serem assumidas por aqueles que buscam a vida. Entre a pobreza e a justiça, estão as demais bem-aventuranças.
A pobreza é a forma concreta de libertar-se da submissão aos interesses dos ricos e poderosos, colocando sua vida a serviço da Vida. O apelo à justiça, marcante em Mateus, é o fundamento das demais bem-aventuranças, pelas quais podermos transformar este mundo em um mundo de fraternidade, justiça e paz.
As quatro primeiras bem-aventuranças, nesta proclamação de Jesus, dirigem-se aos que sofrem a opressão e exploração do sistema social, anunciando a intervenção libertadora de Deus. São os pobres, que choram, submissos à opressão e à exploração, e que esperam pela justiça. As quatro últimas apontam para aqueles que se empenham em uma prática transformadora do mundo. São os misericordiosos que se solidarizam com os sofredores, com o coração desapegado das riquezas e livres para servir aos mais necessitados. Promovem a vida e a paz, comprometendo-se com a luta pela implantação da justiça característica do Reino dos Céus, no seguimento de Jesus.
Os bem-aventurados não são um "pequeno resto", mas sim "uma multidão imensa... de todas as tribos, nações línguas e povos" (primeira leitura), semelhantes a Jesus, o Filho de Deus (segunda leitura).

OraçãoPai, move-me pelo Espírito a trilhar o caminho da santidade, colocando minha vida em tuas mãos e buscando viver as bem-aventuranças proclamadas por teu Filho Jesus.

3. ENTREGUES NAS MÃOS DO SENHOR
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).

A santidade não é um artigo de luxo reservado a um grupo de privilegiados. É um ideal para o qual todos os cristãos devem tender, independentemente de sua condição social ou eclesial. Como ninguém é excluído, também ninguém pode eximir-se de dar sua resposta a este apelo divino. O importante é ter uma visão correta da santidade, para se evitar esmorecimentos diante de concepções falsas, e também para não ir atrás de um projeto de santidade incompatível com a proposta de Jesus.
O Evangelho entende a santidade como a capacidade de entregar-se totalmente nas mãos do Pai, de quem tudo se espera e em nome de quem se age em favor do semelhante. Neste caso, santidade e bem-aventurança identificam-se.
A bem-aventurança dos pobres em espírito, dos mansos, dos aflitos e dos que têm fome e sede de justiça acontece quando as pessoas, nestas condições, contam apenas com o auxílio que vem de Deus. Seria inútil contar com as criaturas e esperar delas o socorro.
Por outro lado, também os misericordiosos, os puros de coração, os construtores de paz e os perseguidos por causa da justiça trilham um caminho de santidade. Sem uma profunda adesão a Deus e a seu Reino, jamais se disporiam a prestar ao próximo um serviço gratuito e desinteressado, e a escolher um projeto de vida em que os interesses pessoais passam para um segundo plano. A santidade, neste caso, consiste em imitar o modo divino de agir.

Oração Pai, move-me pelo Espírito a trilhar o caminho da santidade, colocando minha vida em tuas mãos e buscando viver as bem-aventuranças proclamadas por teu Filho Jesus.

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