sexta-feira, 20 de maio de 2011

Dom Sérgio da Rocha, Arcebispo de Teresina - PI


Uma Santa Nordestina

Quando se fala de santos, a tendência das pessoas é pensar naqueles que estão nos altares representados pelas imagens, ou que se encontram no céu, ou ainda num passado muito distante. De fato, inúmeros santos viveram há séculos ou há quase dois mil anos, porém muitos outros viveram em nosso tempo. Antes de serem imagens sacras ou de chegarem ao céu, foram pessoas que viveram na terra em meio aos desafios e alegrias da vida cotidiana, como nós. Assim aconteceu com a baiana Irmã Dulce, que será beatificada em Salvador, sua terra natal, no próximo dia 22 de maio. Sua beatificação é relevante para todo o Brasil, porém, enaltece especialmente a Bahia e todo o nosso querido Nordeste. Sua figura e atuação vão muito além da Igreja Católica sendo muito querida e admirada também por gente de outras denominações religiosas. Para a sua beatificação foi importante o reconhecimento de um milagre por sua intercessão, a recuperação de uma mulher sergipana que havia sido desenganada por médicos após sofrer hemorragia durante o parto. Contudo, a sua beatificação é acima de tudo o reconhecimento de uma vida santa que serve de exemplo para todos nós.

Falecida em 1992, já com fama de santidade, a Irmã Dulce, conhecida como o “anjo bom da Bahia”, chamava-se Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. Ao tornar-se religiosa na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, passou a ser chamada Ir. Dulce.  Quando enferma, teve a graça de ser visitada pelo beato Papa João Paulo II, em 1991. Deixou-nos grandes lições de vida como a humildade, a caridade, o serviço, a solidariedade e a partilha, motivada pela fé em Cristo e animada por uma vida intensa de oração. Consagrou-se a Deus servindo aos que sofrem e testemunhando o valor da vida dos que não têm a própria dignidade e direitos reconhecidos. Dedicou-se, com admirável caridade, ao serviço dos pobres, dos desamparados e dos doentes, reconhecendo neles o rosto sofredor de Jesus. Confiando na divina Providência e contando com a solidariedade das pessoas, fundou diversas obras sociais e estabelecimentos, dentre os quais se destaca o renomado Hospital Santo Antonio, em Salvador, em cuja capela encontra-se sepultada. Louvamos a Deus pela nova beata declarada pela Igreja, Irmã Dulce, assim como, por tantas mulheres e homens que se dedicam generosamente ao serviço da caridade em nossas famílias, hospitais, casas de acolhida e comunidades. “Beato”, isto é, “feliz” quem vive o mandamento do amor que Jesus nos deixou, como fez Irmã Dulce. [CNBB]

São Bernardino de Sena


Órfão de mãe aos três anos e de pai aos sete, foi criado por duas tias. Frequentou a universidade de Sena e, aos 22 anos ingressou na Ordem Franciscana. Ordenado sacerdote, São Bernardino percorreu toda a Itália, pregando o evangelho e propagando a devoção ao nome de Jesus, simbolizada pelas três letras iniciais do nome de Jesus: JHS (Jesus Salvador do Homens), hoje conhecidas pelos católicos do mundo inteiro. São Bernardino foi sem dúvida o pregador mais famoso na Itália do século XV, ao lado de São Vicente Ferrer e São João de Capistrano. O seu tempo foi marcado por calamidades que assolaram toda a Europa, causando morte e destruição. Em 1400, o próprio São Bernardino, que nessa ocasião tinha 20 anos, percorria com seus companheiros as ruas de Sena, cuidando das vítimas. Ao lado da peste, a guerra e a fome imprimiam um tom apocalíptico à situação, o que favorecia o misticismo e a meditação da paixão de Cristo. Dentro desse quadro, a contribuição de São Bernardino para uma espiritualidade cristã, centrada no amor pessoal a Cristo, foi enorme: Cristo é o centro de toda a vida cristã. Pregador popular, conseguia conversões prodigiosas de seus ouvintes. Obteve mais de 2000 vocações para a Ordem franciscana. Foi grande propagandista da devoção ao Santo Nome de Jesus e recusou três vezes a dignidade de bispo.

Evangelho: João (Jo 14, 1-6)


Eu sou o caminho, a verdade e a vida 


Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 1"Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tendes fé em mim também. 2Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós, 3e quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver estejais também vós. 4E para onde eu vou, vós conheceis o caminho". 5Tomé disse a Jesus: "Senhor, nós não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?" 6Jesus respondeu: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim". Palavra da Salvação!

Comentando o Evangelho


Vou preparar-vos um lugar


Embora convocasse os discípulos para se empenharem na prática do amor e da justiça, Jesus lhes descortinava, também, um horizonte para além dos limites da História. Ele lhes propunha uma meta a ser alcançada no fim da peregrinação terrena: a casa do Pai, com muitas moradas, espaço de acolhida para todos.

As palavras do Mestre visam estimular os discípulos a seguirem em frente, sem se deixarem abater pelas adversidades. Mas, seria injusto considerá-las como incentivo à passividade e à alienação. Elas só têm sentido para o discípulo que se lança à ação.

A meta da caminhada dos discípulos é a comunhão plena e eterna com o Pai. Comunhão esta preparada pela morte e ressurreição de Jesus que, desta forma, os precede e lhes promete ter para sempre consigo, na casa paterna.

O caminho para se chegar à casa do Pai é o próprio Jesus, que se definiu "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida". Jesus é o Caminho na medida em que é a Verdade pela qual a Vida é comunicada a quem o escolhe para chegar ao Pai. A casa do Pai é alcançada na medida em que o discípulo pauta seu agir pela Verdade proclamada por seu Mestre. E assim usufrui a Vida cuja plenitude encontra-se no término do Caminho, que é o mesmo Jesus. Importa apenas que o discípulo siga fielmente esse Caminho que é guia seguro para se chegar à casa do Pai. [Evangelho nosso de cada dia, Pe. Jaldemir Vitório, ©Paulinas, 1997]

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Dom Murilo S. R. Krieger, scj, Arcebispo de Salvador - BA


Um Rei pede passagem

Pelas estradas da Galileia passou um homem aparentemente comum. Vestia-se como os outros. Falava a mesma língua. Não tinha nenhum sinal externo que o tornasse diferente, que chamasse a atenção. Sua mensagem é que surpreendia a todos. Ele dizia: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).

Passou três anos renovando o mesmo anúncio: “O Reino de Deus está próximo!” Fazia questão de explicá-lo a todos: a pobres e a doentes, a ricos e a crianças. Não perdia ocasião de falar ou de mostrar com atos que reino era esse que estava chegando.

Um dia, entrou na cidade de Jerusalém. O povo não se conteve e começou a aclamá-lo: “Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor!” (Lc 19,38). Foi uma festa, uma belíssima festa. Todos davam passagem a esse rei que estava montado num jumentinho, ao mesmo tempo em que estendiam vestes e ramos de árvores pelo caminho. Havia também os que não participavam da alegria geral, e comentavam entre si: “Vede: nada conseguis. Todo mundo vai atrás dele!” (Jo 12,19).

Quatro dias depois, aquele mesmo Jesus que fora aclamado como enviado de Deus, estava diante de Pilatos, a maior autoridade local. Surpreso e curioso, Pilatos lhe perguntou: “Tu és o rei dos judeus?” E ouviu uma resposta que o deixou mais confuso: “Isso mesmo! Eu sou rei” (Mt 27,11). Por seu lado, o povo agora não o aclamava mais como “bendito”. Muito pelo contrário, num só grito, dizia e repetia: “Crucifica-o!... Crucifica-o!” (Mt 27,22-23).

Mais algumas horas e esse desejo do povo se realizaria. Aquele que passara a vida caminhando, e que dissera de si mesmo: “Eu sou o caminho” (Jo 14,6), estava agora imóvel, pregado numa cruz. Por ironia, haviam colocado sob o madeiro uma placa com a inscrição: “Jesus Nazareno, rei dos judeus” (Jo 19,19). Sob o riso de alguns, o alívio de outros e a dor de uns poucos, ele morreu, depois de ter perdoado a todos e de ter colocado sua vida nas mãos de seu Pai.

Fosse um simples rei, tudo teria terminado por aí. Mas, provando sua origem divina, três dias depois ressuscitou. Voltando para junto do Pai, e enviando o Espírito Santo que prometera, assegurava a expansão do seu reino. Ficava cada vez mais claro que não viera para um pequeno grupo de pessoas ou para determinada época. Seu projeto era e é para todas as pessoas, de todos os tempos e lugares. É reino, portanto, que não se confunde com os limites territoriais de um país, nem é formado por grupos fechados ou por pessoas que se consideram donas da verdade. É reino que nasce e cresce onde menos se espera. Por sinal, um dia, depois de tanto ouvirem Jesus falar a respeito desse reino, os apóstolos haviam lhe perguntado em que momento ele chegaria. Receberam uma resposta que, na ocasião, não entenderam bem: “O Reino de Deus já está no meio de vós” (Lc 17,21).

Na verdade, embora não seja deste mundo, é aqui e agora que esse reino se constroi. Ele cresce quando você estuda ou trabalha, quando se diverte ou reza, quando vence a tentação ou se doa ao irmão necessitado. Cresce quando você perdoa ou é perdoado, quando penetra no mistério de Cristo ou quando leva outros a conhecê-lo; quando toma parte num partido político e luta para nele introduzir critérios de justiça e verdade, ou quando se une aos vizinhos num trabalho de mutirão. Cresce quando você faz um retiro espiritual ou quando participa de uma ONG que trabalha por uma nobre causa.

Em cada uma dessas oportunidades ou em tantas outras, é Jesus que está passando em seu caminho e lhe dizendo: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Ouvindo tal apelo e aclamando o rei que vem em nome do Senhor, você estará colaborando com a expansão do Reino de Deus - reino que teve um de seus momentos mais importantes naquele domingo que passou a ser universalmente conhecido com o nome de Domingo de Ramos.

Esse domingo é uma porta que se abre para a Semana Santa. Nela, mergulharemos na Paixão e morte de Cristo e seremos convidados a acolher o Rei que pede passagem.

O galo não cantará antes que me tenhas negado três vezes


Naquele tempo, estando à mesa com seus discípulos, 21Jesus ficou profundamente comovido e testemunhou: "Em verdade, em verdade vos digo, um de vós me entregará". 22Desconcertados, os discípulos olhavam uns para os outros, pois não sabiam de quem Jesus estava falando.

23Um deles, a quem Jesus amava, estava recostado ao lado de Jesus. 24Simão Pedro fez-lhe um sinal para que ele procurasse saber de quem Jesus estava falando. 25Então, o discípulo, reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe: "Senhor, quem é?" 26Jesus respondeu: "É aquele a quem eu der o pedaço de pão passado no molho". Então Jesus molhou um pedaço de pão e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes.

27Depois do pedaço de pão, satanás entrou em Judas. Então Jesus lhe disse: "O que tens a fazer, executa-o depressa". 28Nenhum dos presentes compreendeu por que Jesus lhe disse isso. 29Como Judas guardava a bolsa, alguns pensavam que Jesus lhe queria dizer: "Compra o que precisamos para a festa", ou que desse alguma coisa aos pobres. 30Depois de receber o pedaço de pão, Judas saiu imediatamente. Era noite. 31Depois que Judas saiu, disse Jesus: "Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. 32Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo. 33Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco. Vós me procurareis, e agora vos digo, como eu disse também aos judeus: 'Para onde eu vou, vós não podeis ir’".

36Simão Pedro perguntou: "Senhor, para onde vais?" Jesus respondeu-lhe: "Para onde eu vou, tu não me podes seguir agora, mas me seguirás mais tarde". 37Pedro disse: "Senhor, por que não posso seguir-te agora? Eu darei a minha vida por ti!" 38Respondeu Jesus: "Darás a tua vida por mim? Em verdade, em verdade te digo: o galo não cantará antes que me tenhas negado três vezes". Palavra da Salvação!

Comentário do Evangelho


O traidor identificado


O anúncio da traição foi desconcertante para o grupo de discípulos. Independentemente de qualquer cultura, a traição é sempre um ato abominável. De modo especial, entre pessoas cujas vidas foram postas em comum, e nas quais se deposita toda confiança. Isto explica a surpresa dos discípulos quando Jesus anunciou que um deles haveria de traí-lo. E essa surpresa foi maior, quando o traidor foi identificado com Judas, filho de Simão Iscariotes.

O evangelista João dirá várias vezes que se tratava de um ladrão. Logo, alguém de caráter duvidoso, de quem se pode esperar tudo. A traição seria apenas mais uma manifestação da personalidade malsã deste discípulo. Os evangelhos, em geral, referem-se a Judas como alguém que vendeu sua própria consciência ao aceitar entregar o Mestre por um punhado de dinheiro.

Entretanto, é possível suspeitar de outras razões desta atitude tresloucada. Será que Judas entendeu, de fato, o projeto de Jesus? Terá sido capaz de abrir mão de seus esquemas messiânicos para aceitar Jesus tal qual se apresentava? Estava disposto a seguir um Messias pobre, manso, amigo dos excluídos e marginalizados, anunciador de um Reino incompatível com a violência e a injustiça? Judas esperava tirar partido do Reino a ser instaurado por Jesus. Vendo frustrado o seu intento, não teria tido escrúpulo de traí-lo?

Uma coisa é certa: Judas estava longe de sintonizar com Jesus. Algo parecido acontecia com Pedro, que haveria de negá-lo. Só que este recuou e se converteu à misericórdia do Senhor. [Evangelho nosso de cada dia, Pe. Jaldemir Vitório, ©Paulinas, 1997]

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Dom Orani João Tempesta, O. Cist., Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ


O Bom Pastor

No quarto domingo da Páscoa celebramos o Domingo do Bom Pastor, pois a cada ano escutamos um dos trechos do capítulo décimo do Evangelho de João. É quando comemoramos a Jornada Mundial de Oração pelas Vocações, neste ano já na 48ª ocasião. O tema escolhido pelo Papa Bento XVI é: “Propor as vocações na Igreja local”.

É uma boa ocasião para acolhermos a beleza da comparação que Cristo faz e, além de rezarmos pelos nossos pastores, colocarmo-nos todos sob a condução do nosso pastor comum, Jesus Cristo.

Aquele misterioso véu que impedia os discípulos e Maria Madalena de reconhecer Jesus ressuscitado cai, quando Ele, de diferentes maneiras, suscita e alimenta neles a fé. Ele entra com as portas fechadas, deseja, repetidamente, a paz e sopra sobre os apóstolos, come com eles. Faz Tomé tocar as feridas e colocar a mão na ferida que tem no lado; a Maria, em lágrimas, chama pelo nome, e assim abre-lhe os olhos.

A voz de Jesus é a voz que chama, a voz que inspira e orienta todos aqueles que O seguem e se esforçam para imitá-Lo nas diversas vocações cristãs. Ele chamou os apóstolos, escolheu os discípulos, mas continua a chamar incessantemente. Hoje, ele diz a todos: "Eu sou a porta das ovelhas", ou seja, o ingresso no Reino, a entrada da Igreja, o ingresso na vida divina, e, declarando-se Bom Pastor, acrescenta: “Ele chama as suas ovelhas, cada uma pelo nome, e as conduz para fora". É ainda a voz segura e convidativa de Jesus que chama para indicar o caminho; a voz que conduz a melhores pastagens, que amorosamente poupa e preserva dos perigos. É uma voz amiga, que cria comunhão e entendimento perfeito entre o pastor e as suas ovelhas. Pede-nos a escuta dócil e a fé mais ardente.  A Palavra do Senhor, de fato, ressoa continuamente na nossa Igreja.

É essa voz amorosa que nos chama para proclamá-Lo neste tempo diferenciado e plural. Saber que Cristo, através de sua Igreja, veio trazer vida em abundância para todos e, por isso mesmo, a verdadeira vida supõe passos importantes dentro de nossa vida e responsabilidade humanas. Hoje, principalmente, vemos a necessidade cultural que existe de sermos pessoalmente reconhecidos e respeitados.

A voz do Bom Pastor é bem distinta daquela enganadora dos que são ladrões e assaltantes e não entram pela porta, nem cuidam do rebanho, mas fogem diante do perigo porque são mercenários. A voz do Senhor é agora a voz dos apóstolos, como lemos que Pedro é forte e destemido, e todos aqueles que são convertidos por Cristo assumiram o mesmo timbre e não são capazes apenas de professar, mas também de testemunhar a sua fé até o dom da vida. Vale a pena confiar totalmente na condução segura de um pastor que nos amou até a cruz e se tornou a garantia da nossa salvação junto do Pai celeste.

Jesus é o pastor que chama as suas ovelhas pelo nome, Ele vai adiante delas e as ovelhas confiam Nele. O que nós precisamos é de pessoas que velem por nós, estejam alertas para responder os nossos problemas, fazendo-se como que nossos companheiros de viagem. Temos um forte desejo de sermos chamados pelo nome, não nos sentindo números, mas sentindo-nos profundamente amados por alguém. Jesus é a única pessoa que nos ama como somos, como o Bom Pastor. Quando muitas pessoas fogem de nós, sabemos que Jesus é o verdadeiro pastor, a porta das ovelhas que nunca nos abandona.

Jesus é a porta das ovelhas que acolhe o rebanho e nos dá a verdadeira liberdade, e os que confiam n’Ele recebem a plenitude da salvação.

É exatamente na Igreja que devemos nos sentir profundamente amados, livres, alegres, felizes diante do pastor que é o próprio Cristo manifestado através das mediações.

Neste dia mundial de orações pelas vocações de especial consagração, nós entendemos a missão que é oferecida a todos. Portanto, devemos orar principalmente por aqueles que se dedicam de modo especial a Cristo, e que são’ sinais de Jesus o único Pastor!

São João Nepomuceno


De família pobre, nasceu quando seus pais já estavam em avançada idade. Daí ser "João" o seu nome, numa alusão ao nascimento de João Batista que também nascera quando Santa Isabel já era bastante idosa. Estudou na universidade de Praga, onde se formou em Direito Canônico e doutorou-se em teologia. Ordenado sacerdote, sua grande eloquência levou-o à corte, e ali tornou-se capelão e confessor. A própria rainha e imperatriz Joana tomou-o para diretor espiritual. Pouco se sabe da realidade dos fatos que culminaram no seu cruel martírio. Alguns afirmaram que São João tornou-se um obstáculo às pretensões do rei, desejoso de controlar a Igreja. A opinião mais comum, entretanto, é que na impossibilidade de arrancar-lhe o segredo da confissão concernente à vida de sua esposa, o rei mandou torturá-lo. Primeiramente queimaram em fogo lento suas partes íntimas. Como continuasse firme na decisão de manter o segredo da confissão, sem que ninguém percebesse foi lançado nas águas do rio Moldava. Seu corpo foi, entretanto, descoberto e recebeu digna sepultura na Igreja de Santa Cruz. Em seu túmulo foi gravado este epitáfio: Aqui jaz o venerabilíssimo João Nepomuceno, doutor, cônego desta igreja e confessor da rainha, ilustre pelos seus milagres, o qual por ter guardado o sigilo sacramental foi cruelmente torturado, e lançado de cima da ponte de Praga, no rio Moldava, por ordem de Venceslau IV, no ano de 1383.

Evangelho: João (Jo 10, 11-18)


E haverá um só rebanho e um só pastor


Naquele tempo, disse Jesus: 11"Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. 12O mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa. 13Pois ele é apenas um mercenário e não se importa com as ovelhas. 14Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, 15assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas.

16Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor. 17É por isso que o Pai me ama, porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente. 18Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo; tenho poder de entregá-la e tenho poder de recebê-la novamente; esta é a ordem que recebi do meu Pai". Palavra da Salvação!

Comentário o Evangelho


O Pastor das ovelhas


A atitude mais dignificante de um pastor consiste em estar disposto a dar a sua vida em defesa do rebanho. Esquecendo-se de si mesmo, luta para garantir a sobrevivência de suas ovelhas, embora venha a morrer. Não existe forma melhor de comprovar a condição de guia do reanho! Só quem age assim merece o título de pastor.

No trato com seus discípulos, Jesus inspirava-se neste modelo de pastor. Conhecida os que havia chamado para estar com ele e partilhar a sua missão e o seu destino. Colocava-se no meio deles como amigo e servidor, interessado em que tivessem vida abundante – a vida eterna, oferecida pelo Pai. Cuidava para que a ação perversa dos adversários – certas alas radicais do farisaísmo, as autoridades religiosas e políticas, etc. – não viesse a prejudicá-los. Defendia-os dos ataques dos inimigos, calado a boca de quem acusava falsamente seus discípulos. Colocava-se a serviço deles, desejoso de que fizessem uma verdadeira experiência de Deus, reconhecido como Pai misericordioso. Lutava para congregar quem vivia disperso, vagado por caminhos impróprios, por ser mal orientados.

Toda esta ação de Jesus resultava do cumprimento da ordem que recebera de seu Pai: ser Mestre para guiar a humanidade para o reencontro com Deus. [O EVANGELHO NOSSO DE CADA DIA, Ano A, Paulinas]

sábado, 14 de maio de 2011

São Matias


"Matias foi discípulo do Senhor tão constante que o acompanhou durante os três anos de vida pública, sem separar-se nunca dele. Não chegou, contudo, a pertencer ao grupo mais íntimo dos doze apóstolos. Mas, após a traição de Judas Iscariotes, Matias foi eleito para ocupar seu cargo no Colégio Apostólico". Assim narram este fato os Atos dos Apóstolos: "Poucos dias depois (da ascensão de Jesus), eles fizeram uma reunião com mais ou menos cento e vinte seguidores de Jesus. Então Pedro se levantou e disse: 'Meus irmãos, tinha que acontecer aquilo que o Espírito Santo, por meio de Davi, falou nas Escrituras a respeito de Judas. Pois foi Judas o guia daqueles que prenderam a Jesus. Era ele do nosso grupo, porque havia sido escolhido para tomar parte do nosso trabalho...´ E Pedro continuou: 'Isto é o que está escrito nos livros dos Salmos: Que a casa dele fique abandonada e mais ninguém more nela. E também diz: Que outra pessoa ocupe o lugar dele e faça o trabalho que ele fazia. Portanto, precisamos escolher outro homem para pertencer ao nosso grupo e ser testemunha da ressurreição do Senhor Jesus. Deve ser um daqueles que nos acompanharam durante todo o tempo em que o Senhor Jesus andou entre nós, desde quando João anunciava o batismo até ao dia em que Jesus foi levado ao Céu'" (At 1,16-22).

Assim apresentaram dois homens: José, chamado Barsabás, apelidado O Justo e também Matias. Em seguida oraram dizendo: "Tu conheces, Senhor; os corações de todos. Agora, mostra qual dos dois tu escolheste para trabalhar como apóstolo..." Depois disto, fizeram sorteio para escolher um dos dois. O nome escolhido foi o de Matias, que se juntou ao grupo dos apóstolos (At 1,26).

Notícias posteriores dizem que Matias era provavelmente natural de Belém. Pregou o Evangelho na Palestina, na Ásia Menor e, enfim, foi apedrejado pelos judeus.

A mãe de Constantino Magno, Santa Helena, trouxe as relíquias de São Matias para Roma. Uma parte destas relíquias é venerada na Igreja antiquíssima de Treves, na Alemanha, e outra na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma.  A festa de São Matias nos relembra a triste apostasia de Judas, a quem Matias substituíra no Colégio dos Apóstolos. Foi o amor desordenado ao dinheiro que o levou à perdição. Com muito acerto nos diz São Paulo: "Os que querem fazer-se ricos, caem na tentação e no laço do demônio, em muitos desejos inúteis e perniciosos que submergem os homens no abismo da morte e da perdição. Porque a raiz de todos os males é a avareza, a qual cobiçando, alguns se desencaminharam da fé e se enredaram em muitas tribulações" (1Tm 6,9).

Que o exemplo do apóstolo São Matias nos estimule à fidelidade no seguimento de Cristo, nosso Mestre.  [O SANTO DO DIA de Dom Servilio Conti, páginas 210/211,  ©Editora Vozes, 1997]

Evangelho: João (Jo 15, 9-17)


Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros


Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 9"Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor. 10Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. 11E eu vos disse isto, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena. 12Este é o meu mandamento: amai­-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. 13Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos. 14Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. 15Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. 16Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça. O que então pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá. 17Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros. Palavra da Salvação!

Comentário o Evangelho


Este é o meu mandamento

Enquanto nos sinóticos o mandamento de Jesus é o amor ao próximo, entendido como amor a todos os homens, inclusive os inimigos, em João exprime-se como amor recíproco entre os discípulos de Jesus, amor que, aparentemente, não transpõe os restritos limites da comunidade. A razão desta insistência de João (que aliás não exclui o amor universal) é porque ele vê este amor em seu fundamento, por assim dizer, metafísico: a íntima participação na corrente de amor que une o Pai ao Filho. Ora, esse amor, que parece consumar-se e exaurir-se dentro da comunidade, torna-se motivo de abertura e dinamismo apostólico, porque por ele os demais (os de fora) conhecerão quem são os discípulos de Cristo. [MISSAL COTIDIANO, ©Paulus, 1997]

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Comentário o Evangelho


O ensinamento do Pai


É o Pai quem tem a iniciativa na dinâmica da fé dos cristãos. No seu amor, elege o ser humano para ser objeto de sua revelação, e o convida a aderir ao Filho Jesus. Só vai a Jesus quem é escolhido e impelido pelo Pai. Só se entrega a Jesus quem se deixa guiar pelo Pai. E tudo quanto o Pai realiza está em função de guiar a humanidade para o Filho. O ato de fé no Senhor Jesus é, portanto, indício de obediência ao ensinamento do Pai e de submissão à sua vontade.

A incredulidade configura-se como rebeldia contra o Pai. Não se trata de mera oposição a Jesus, numa atitude sem maiores conseqüências. Nem, tampouco, pode ser considerada como uma fatalidade na vida das pessoas, numa espécie de anulação de sua liberdade.

No ato de fé, está implicada a liberdade humana. Instruído pelo Pai, cabe ao ser humano acolher ou não a instrução recebida. Se a acolhe, sem dúvida será capaz de reconhecer em Jesus o enviado do Pai. Se a rejeita, não somente se tornará um adversário do Filho, mas também do Pai. Não é possível acolher a moção do Pai, mas fechar-se para o Filho. Ou seja, não dá para ficar no meio do caminho. Quem recebeu o ensinamento do Pai, necessariamente, irá a Jesus. [O EVANGELHO NOSSO DE CADA DIA, Ano A,  ©Paulinas, 1997]

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Dom José Antonio Peruzzo, Bispo de Palmas-Francisco Beltrão - PR


Animação Bíblica da Pastoral

Quem lê atentamente o Documento de Aparecida surpreende-se com algumas constatações corajosas a que a Igreja se propõe. Será necessário um tempo longo, paciente, assinalado por muita perseverança, para integrar à nossa vivência eclesial aquelas percepções tão verazes e, ao mesmo tempo, muito impregnadas das características genuínas dos cristãos dos primeiros dias da Igreja. Ao escrever este parágrafo, penso na ênfase a temáticas tão relevantes e de grande recorrência como “encontro pessoal com Cristo”, “conversão pastoral”, “conhecimento da Palavra”, anseio dos discípulos de Jesus em “alimentar-se com o Pão da Palavra”... As citações poderiam se enumerar e alongar. Estas menções pretendem apenas lembrar que se está tocando em questões e possibilidades sem as quais a Igreja poderia desfigurar gravemente sua própria identidade de discípula e missionária.

Ao mesmo tempo, muito já se falou que a humanidade atravessa um severo processo de transformação cultural. O mesmo já recebeu muitos nomes. Aqui, para simplificar, será mencionado apenas aquele já bastante conhecido: a chamada mudança de época. E este fenômeno é impossível mensurar. Tampouco se pode freá-lo. Seus desdobramentos suscitam, a cada dia, novas surpresas e perplexidades. Em meio a toda esta ebulição, quase tudo faz pensar que nos encaminhamos para a passagem de uma realidade de cristandade para outra de diáspora. Há muitos elementos a nos sugerir que, em termos de evangelização, teremos muitas proximidades com os caminhos e situações do cristianismo primitivo. E tudo isso está a instar os discípulos missionários do nosso tempo a indagações sobre os melhores percursos a palmear quando se trata de “transmitir a fé”. Afinal, é ela, a transmissão da fé em Jesus Cristo, a razão fundante de toda a ação evangelizadora.

Os primeiros cristãos não falaram de animação bíblica da pastoral. Mas a sua evangelização era profundamente bíblica; inteiramente perpassada pelas experiências e revelações bíblicas. Para anunciar a pessoa de Jesus Cristo, o Salvador ressuscitado, todas as esperanças do Antigo Testamento eram evocadas.  Era assim nos dias apostólicos. Basta observar o pensamento paulino ou as pregações presentes nos Atos do Apóstolos. E quando o anúncio do Evangelho recebeu sua formulação escrita, então quase tudo era matizado pela palavras dos evangelistas e dos apóstolos. Basta pensar nos primeiros escritos catequéticos  (Didaqué); nas reflexões de Orígenes, lançando as primeiras raízes da Lectio Divina; e também a fecunda teologia dos Santos Padres. Era a Bíblia, ou melhor, a Palavra, a conferir motivação, a dar ânimo, a suscitar força perseverante e transfigurar o sentido de suas vidas. Porque afinados com a Palavra, seu modo de pensar, de projetar, de realizar e de celebrar, era inteiramente impregnado da força transformadora gerada pelo encontro com o Senhor mediante a Palavra. Eram evangelizadores “biblicamente animados”. Muito animados.

Pois bem, a animação bíblica de toda a Pastoral é um tema que retorna à ribalta nestes últimos tempos. Parece interessante observar o sentido da expressão a partir de sua etimologia. Por este caminho é possível vislumbrar o que se quer acentuar. O termo latino animus refere-se àquela força interior, àquele princípio espiritual que, a partir de dentro, move ou motiva alguém a determinadas escolhas e ações. É como que a alma que suscita dinamismos em favor de uma causa.  O contrário é des-ânimo, falta de vigor, de alegria, falta de encanto. O Documento de Aparecida (n. 248) ao propor a animação bíblica da pastoral associa-a com “fonte de evangelização”, com “alimento com o Pão da Palavra”, com “encontro com Jesus Cristo vivo”. Basta observar as imagens de fundo: se secar a fonte, secará o córrego. Se faltar alimento, debilita-se o corpo. Se faltar encontro, vai-se a amizade.

Ainda caminhando pelos trilhos da etimologia, muito ajuda a perceber o sentido originário do termo “pastoral”. Pastoral vem de pastor, que, por sua vez, está ligado a pastagem. E a tal  da pastagem é dotada de uma grande força simbólica, associada à vida, à serenidade, à paz. Um dos melhores retratos figurativos do AT é o Sl 23: “O Senhor é o meu pastor, nada me falta”. Em seguida afloram expressões figurativas como “descansar em verdes prados”, “conduzir a águas tranqüilas”, “restaurar forças”, “guiar pelo caminho certo”, “bastão e cajado” que dão segurança, “mesa farta”, “habitar na casa do Senhor”. É este o linguajar do AT para falar de um bom pastoreio. É marcado por experiências ricas de esperanças (“restaurar forças”), de vida generosa e abundante (“verdes prados”), de paz (“descanso”, “águas tranqüilas”). Resultam da gratuidade de Deus, que se volta atento para o seu escolhido. É esta a experiência do salmista.

Por outro lado, Jesus, o bom Pastor, servindo-se de figuras semelhantes, dá um passo decisivo. Não se trata apenas das graças com as quais Deus cumula os seus. Vai mais além: agora se refere a quem Ele é estando com as suas ovelhas. O evangelho de João é quem nos ajuda. No cap. 10 há várias expressões primorosas: “Eu sou o bom pastor”, cuja característica é dar a própria vida em favor das ovelhas (vs. 11.14); sua relação com elas é de conhecimento recíproco (v. 14); elas conhecem a voz do pastor (vs. 4.16).  Ora, se a palavra “pastoral” procede desta terminologia, isso quer dizer que a mesma “pastoral” não se volta apenas para a oferta de serviços religiosos. Ainda que estes sejam feitos com generosidade, qualquer programa pastoral terá um caráter de pastoreio somente na medida em que as ovelhas puderem ouvir a voz amorosa do seu pastor e a Ele possam dar sua resposta. E o Povo de Deus “tem radar”, isto é, percebe quando os homens e mulheres de Igreja falam do que “ouviram do Senhor” ou quando é apenas discurso religioso.

Pois bem, agora podem-se tentar algumas achegas à expressão “Animação bíblica da Pastoral”. Antes, porém, cabem algumas premissas: animação bíblica quer se referir a ânimo gerado a partir da Palavra. Palavra é “pessoa”. Não se trata, pois de “animar-se” a partir das idéias ou das estratégias de Jesus. Tampouco se trata apenas de estudá-Lo. O discípulo não ama a pessoa de Jesus simplesmente porque o estuda. Estudá-Lo é possível até sem ser discípulo. Um exemplo será de grande ajuda agora: quem conhece mais um adolescente? Sua mãe, que muito o ama, ou o psicólogo que o examinou com todos os métodos das ciências do comportamento? É evidente que a mãe conhece melhor. Ela procura o especialista porque ama o filho; não o inverso, não procura o especialista para poder amar o filho. Ela e ele necessitarão, provavelmente, da palavra especializada, mas é nas relações de partilha afetuosa e interpessoal que o adolescente e sua mãe se construirão. Isso não se dá com ciência, mas nas experiências de amor vivido.

Voltando à “animação bíblica da pastoral” talvez seja útil começar por dizer o que ela não é. Não é mais uma “pastoral” entre outras, com seu coordenador, sua equipe, seu calendário de encontros e participações. Embora sejam necessários e, mais do que isso, indispensáveis, os encontros de estudo e formação ainda não são o “ânimo vital”, e não necessariamente “pastoreiam”. Então, o que é Animação Bíblica? Trata-se de “ânimo” que brota da Palavra. Palavra não é um conjunto de idéias, não é pensamento, não é conceito sobre Jesus. Palavra, aquela que se tornou Escritura, é portadora da pessoa mesma de Jesus. Algo parecido com a jovem que, ao receber a carta do seu amado, beija-a. Ela não quer beijar o papel, ou algumas frases. Ela está voltada à pessoa amada. O mesmo se pode falar da relação com Jesus mediante a Palavra presente na Bíblia. Por ela, pela palavra bíblica, é possível a amizade com Ele. Pela palavra bíblica se cultiva a afeição, o encontro, o silêncio atento diante dEle, a obediência a Ele, sempre com gratuidade e com confiança.

Em sua bela exortação pós-sinodal, o Papa Bento XVI se refere explicitamente à Animação Bíblica da Pastoral (n. 73). E explica que não se trata de sobrepor um ou outro evento singular a respeito da Bíblia. Ninguém pode falar convincentemente de uma pessoa sem ter-se encontrado com ela. Seria apenas “falar por ouvir dizer”. Seria apenas informação. E ninguém evangeliza oferecendo informações sobre Jesus. Para transmitir a fé, para anunciar a pessoa de Jesus, é necessário tê-lo encontrado; é preciso tê-lo experimentado; é preciso se deixar alcançar por Ele. É vivenciar o fascínio deste encontro, que nunca será “neutro”. Sempre haverá alguma reação-resposta. Alguns personagens dos evangelhos podem nos ajudar: Nicodemos (Jo 3,1-21), a Samaritana (Jo 4,1-12), Zaqueu (Lc 19,1-10), também Paulo, nunca mais foram os mesmos. Tornaram-se “agentes de pastoral” profundamente assinalados pelo encontro com o Senhor.

Pois bem, por Animação Bíblica da Pastoral não quer enunciar novos formatos, novos esquemas e organismos, novas sistematizações organizacionais de paróquias ou dioceses. Mais do que tudo, e antes de qualquer outra iniciativa, por animação bíblica se pretende dizer que todos os agentes evangelizadores, seja eles bispos, padres, religiosos, catequistas, ministros extraordinários, coordenadores, administradores de quaisquer instituições eclesiásticas, que todos tenham o “ânimo”, a linfa interior originada do encontro com Ele mediante a Palavra. E quem o encontra alegra-se com Ele, fala com Ele, compreende com os critérios e valores dEle, interpreta com Ele, assume as escolhas dEle. O agente de pastoral biblicamente animado não passa a fazer mais coisas, ou ter mais outros compromissos de agenda. Não é um modo de fazer. É um modo de ser diante de Jesus Cristo e, por causa dEle, um novo modo de ser diante dos outros.

Não se trata de intimismo. O intimista está à procura de suas conveniências mediante gratificações subjetivas de tipo religioso ou místico. Trata-se sim de intimidade com Jesus. A intimidade cria e aprofunda relações, transforma corações, recria ou renova opções e também move a ações. A intimidade com Ele traz paz e alegria. E se difunde a partir de quem a experimenta. Bento XVI assim se expressou referindo-se a animação bíblica: Que “se tenha realmente a peito o encontro pessoal com Cristo que Se comunica a nós na sua Palavra. Dado que ‘a ignorância das Escrituras é a ignorância de Cristo’, então podemos esperar que a animação bíblica de toda a pastoral ordinária e extraordinária levará a um maior conhecimento da Pessoa de Cristo, Revelador do Pai e plenitude da Revelação divina” (Verbum Domini, 73).

O que fazer para que nossos evangelizadores sejam “biblicamente animados”? Trata-se fundamentalmente de espiritualidade bíblica. Esta pode ser cultivada de diferentes modos. Vale lembrar que a Palavra tem uma “potência sacramental” (cf. Verbum Domini 56; 195) ou seja, ela realiza o que pronuncia. A liturgia, celebrada como verdadeira linguagem do mistério da pessoa de Jesus e a Leitura Orante da Palavra apresentam-se como as melhores possibilidades para que os discípulos de hoje, do mesmo modo como os da primeira hora da Igreja, evangelizem biblicamente inspirados. [CNBB]

Santos Abade de Cluny


Entre 926 e 1156, a célebre Abadia de Cluny, na França, foi governada quase ininterruptamente por santos abades: Santos Odon (926-942), Majolo (965-994), Odilon (998-1048), Hugo (1049-1109) e Pedro, o Venerável (+1156). Nesse período Cluny espalhou sua influência benéfica por toda a Europa, chegando a coordenar mais de 2000 mosteiros fervorosos, revigorando espiritualmente toda a Cristandade e produzindo também na ordem temporal excelentes efeitos.

Evangelho: João (Jo 6, 35-40)


Esta é a vontade do meu pai


Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 35"Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede. 36Eu, porém, vos disse que vós me vistes, mas não acreditais. 37Todos os que o Pai me confia virão a mim, e quando vierem, não os afastarei. 38Pois eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.  

39E esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas os ressuscite no último dia. 40Pois esta é a vontade do meu Pai: que toda pessoa que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia".  Palavra da Salvação!

Comentário o Evangelho


Fé e vida eterna


A vida de Jesus foi toda norteada pela vontade do Pai. Esta se resume em querer a salvação de todo ser humano, para o qual está reservada a vida eterna, na medida em que acolher a palavra de Jesus e se deixar guiar por ela.

Por isso, o ministério do Mestre pode ser definido como serviço à salvação da humanidade. Isto explica por que buscava estar presente ali onde a morte se fazia sentir com mais intensidade, junto de quem se tornara escravo do pecado. Os pecadores foram alvo de sua constante solicitude.

O desígnio do Pai era que não se perdesse ninguém dos que tinham sido entregues ao Filho. Evidentemente, a palavra de Jesus tem um sentido inclusivo: toda a humanidade foi-lhe entregue para ser salva, sem exclusão de ninguém. Sendo assim, o Filho devia empenhar-se para que a salvação - a vida eterna - atingisse cada criatura humana.

O caminho da salvação exige fé sincera no Filho Jesus. Confessá-la significava aderir à dinâmica de vida assumida por ele, cujo centro era a vontade do Pai, e deixar a vida divina permear a existência humana, de forma a transformá-la pelo amor.

Assim, o discípulo de Jesus tinha a chance de, já no curso de sua existência terrena, experimentar a vida eterna que lhe estava reservada. [O EVANGELHO NOSSO DE CADA DIA, Ano A, ©Paulinas, 1997]

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo

Beato João Paulo II, rogai por nós!!

No próximo dia 1º de maio, em Roma, será beatificado o papa João Paulo II. Fato extraordinário, pois ele faleceu há 6 anos apenas! Mas foi notável também a sua pessoa e, por isso, sua beatificação rápida não deve causar maravilha a ninguém. De fato, já no meio da numerosa multidão que acorreu ao seu funeral na Praça de São Pedro houve manifestações espontâneas, pedindo que fosse proclamado santo imediatamente!

Quando beatifica ou a canoniza algum de seus filhos, a Igreja afirma que esse foi um cristão autêntico, que viveu de forma extraordinária e exemplar como discípulo de Jesus Cristo. Não é o milagre que mais importa, mas a vida santa, a fé sólida, o amor e a comunhão com Deus, a caridade para com o  próximo, a consistência e mesmo a heroicidade das virtudes, o serviço prestado à Igreja e à humanidade, tudo motivado pela fé cristã.

Ninguém se torna santo depois da morte, mas durante a vida; o milagre, exigido no processo de beatificação e canonização, é visto como um sinal de Deus, a confirmar aquilo que a Igreja se propõe a fazer. E esta, após cuidadoso estudo e exame detalhado de todos os aspectos da vida daquele que vai ser beatificado ou canonizado, reconhece e proclama oficialmente que se tratou de um cristão exemplar enquanto viveu e que está no céu, junto de Deus; neste ato, a Igreja empenha o seu Magistério.

Quem não lembra do papa João Paulo II? Teve uma infância simples e sofrida na Polônia; na juventude padeceu os horrores da 2ª. grande guerra mundial e, em seguida, conheceu também os abusos totalitários do comunismo polonês e russo. Foi sacerdote idealista e dedicado; bispo dinâmico e corajoso; aos 58 anos de idade, foi eleito papa, permanecendo na Sé de São Pedro por quase 27 anos, como pastor dinâmico, corajoso, lúcido e generoso. Incentivou a formação do clero, dos religiosos e dos leigos, valorizou os diversos carismas presentes no Povo de Deus, cuidou de manter unida a Igreja e de corrigir desvios na fé e na vida moral e pastoral.

E empenhou-se para colocar em prática o Concílio Vaticano II, imprimindo na Igreja um novo dinamismo evangelizador; fez mais de 100 viagens internacionais, visitando 160 países, sempre animando as Igrejas locais e confirmando a fé do povo católico; foram viagens missionárias por excelência, nas quais mantinha encontros de diálogo também com autoridades civis, líderes religiosos e organizações sociais.

Para toda a comunidade humana, João Paulo II tornou-se uma autoridade moral indiscutível, como ficou bem claro no seu funeral, que reuniu um número e uma diversidade de chefes de Estado e de governo nunca antes vistos num mesmo lugar. Estavam todos ali para prestar homenagem ao Papa que marcou o mundo pelo seu empenho pelo respeito ao ser humano, pela paz e o bom entendimento entre os povos.

Era um homem de Deus, dedicado inteiramente à causa do Evangelho, e assim se apresentava diante do mundo; tinha uma devoção singela à Virgem Maria, como mostrava seu lema “totus tuus” (todo teu), a quem agradeceu a proteção na hora do atentado na praça de São Pedro, que poderia ter sido fatal. Na sua idade avançada e na doença que lhe tomava as forças, deu um exemplo comovente de dignidade e dedicação à sua missão até o fim.

Será beatificado no 2º Domingo da Páscoa, o “Domingo da Misericórdia”, por ele mesmo instituído. Que ele continue a interceder junto de Deus pela Igreja e pela humanidade inteira, para que a “Divina Misericórdia” se estenda sobre todos aqueles que ele amou tão exemplarmente aqui na terra. [CNBB]

São Pacômio


Foi o primeiro organizador da vida comum nos cenóbios, a vida monacal organizada, com um superior e, sua regra, que conta com 192 preceitos, continha hierarquia. Uns eram enfermeiros, ecônomos, confessores, etc. Exerceu influência em toda a vida religiosa através dos séculos. Retirou do mundo a fim de dedicar toda sua vida à oração, à penitência, à solidão. A comunidade fundada por ele teve um desenvolvimento tão rápido que durante sua vida reuniu sete mil monges e no final do sendo V, chegava a cinquenta mil. A base da vida religiosa era constituída fundamentalmente pela irrestrita castidade, pobreza e obediência ao superior. Pontualidade, silêncio, disciplina, recitação de certas preces, algumas penitências, tudo para incrementar o processo ascético dos monges.

Discurso do Pão do Céu


Depois que Jesus saciara os cinco mil homens, seus discípulos o viram andando sobre o mar. 22No dia seguinte, a multidão que tinha ficado do outro lado do mar constatou que havia só uma barca e que Jesus não tinha subido para ela com os discípulos, mas que eles tinham partido sozinhos. 23Entretanto, tinham chegado outras barcas de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão depois de o Senhor ter dado graças.  

24Quando a multidão viu que Jesus não estava ali, nem os seus discípulos, subiram às barcas e foram à procura de Jesus, em Cafarnaum. 25Quando o encontraram no outro lado do mar, perguntaram-lhe: "Rabi, quando chegaste aqui?" 26Jesus respondeu: "Em verdade, em verdade, eu vos digo, estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. 27Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do homem vos dará. Pois este é quem o Pai marcou com seu selo".  

28Então perguntaram: "Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?" 29Jesus respondeu: "A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou".  Palavra da Salvação!

Comentário o Evangelho


O alimento imperecível


Tendo sido procurado por interesses particulares, Jesus exorta o povo a buscar o alimento imperecível, que dura para a vida eterna. Mais importante que o pão material, necessário para matar a fome física, é o alimento que só o Filho do Homem pode oferecer.

Estas palavras de Jesus podiam dar margem a mal-entendidos. Seus ouvintes corriam o risco de pensar em algo misterioso, conhecido só pelo Mestre, que tinha o poder mágico de substituir o alimento material.

Entretanto, Jesus referia-se a algo muito mais simples: ele mesmo era o alimento que haveria de propiciar vida eterna a quem se dispusesse a acolhê-lo. Suas palavras deveriam ser tomadas num sentido espiritual-existencial. Alimentar-se de Jesus significa acolhê-lo como o Senhor de nossa própria existência. E isto resultará numa espécie de identificação da vida do discípulo com a do Mestre, passando por um processo de transformação. O parâmetro da ação do discípulo será o amor e a solidariedade. Os pobres e marginalizados serão objeto privilegiado de sua atenção. Por estar radicado em Deus, será livre para servir ao próximo, sem qualquer distinção.
Este modo de viver terá como desfecho a vida eterna. É a obra de Jesus em nós.

domingo, 8 de maio de 2011

Jesus ressuscitado manifesta-se na Eucaristia


"Eles reconheceram o Senhor ao partir o pão". Esta observação, de caráter litúrgico, ritualiza para nós a experiência da primeira comunidade cristã, das refeições fraternas nas casas dos cristãos, lembrando o Senhor Jesus, suas palavras e seus gestos de salvação, seu sacrifício supremo. Só pode reconhecer o Senhor quem percorreu o caminho dos problemas do homem, deles participando plenamente: o fracasso, a solidão, a busca de justiça e verdade, a coerência em direção a um mundo melhor, a solidariedade. Então o Cristo, anônimo e misterioso companheiro, testemunha e interlocutor das hesitações e dúvidas, revela-se não como aquele que tem solução para todas as questões, mas como alguém que, tendo aceito entrar no plano de Deus, tornou-se o primogênito de uma nova humanidade.

Em memória de mim


Reconhecemos o Senhor por meio de um rito, que é memorial da sua morte-ressurreição. Nesse rito, os acontecimentos históricos da vida de Jesus e os da sua Igreja hoje, como os de toda a humanidade, se  revelam  como  pertencendo ao mesmo plano de Deus; e a Igreja, que celebra a Páscoa do Senhor, confirma-se na esperança de um igual cumprimento do seu destino. "Não devia o Cristo sofrer tais coisas para entrar na sua glória?". Assim como a catequese primitiva (cf evangelho e 1ª leitura) se apoiava no testemunho da Escritura (a Lei, os Profetas, os Salmos) para interpretar o Cristo, também a nossa comunidade lê a Palavra de Deus para compreender a sua vida de hoje, para antecipar, na esperança, a sua glória com Cristo.

Por isso, "as duas partes que constituem a missa, isto é, a liturgia da Palavra e a liturgia eucarística, são tão estreitamente unidas entre si que formam um só ato de culto" (SC 56). Só quem partilha a mesma história pode partilhar o mesmo pão que é memorial, presença, profecia do Senhor ressuscitado.


Partilhar a eucaristia, partilhar o pão


A eucaristia, diz-nos o Concílio, e “ápice e fonte de toda a vida cristã”. A comunidade cristã não é um grupo reunido em torno de um interesse humanitário, um ideal filantrópico, um código moral, mas em torno de uma pessoa. Cristo ressuscitado presente na eucaristia, força unificadora da comunidade, força propulsora de seu desenvolvimento.

Como os discípulos de Emaús, desanimados e desiludidos, céticos e desconfiados, o mundo de hoje reconhece Cristo quando os cristãos sabem verdadeiramente “partir o pão".

A eucaristia não tem um sentido e um valor individualista; tem um alcance profundamente social. Como cristãos, partilhar o pão eucarístico implica um compromisso a partilhar o outro pão, um compromisso de justiça, de solidariedade, de defesa daqueles cujo pão é roubado pelas injustiças dos homens e dos sistemas sociais errados. Se faltarmos a esse compromisso, a participação do pão eucarístico não só perderá todo seu sentido revolucionário, mas se tornará um fenômeno alienante para a nossa consciência.

A participação do pão eucarístico nos obriga, por coerência, a uma distribuição mais equânime dos bens terrestres, a lutar contra toda desigualdade econômica, para que a ninguém falte o “pão cotidiano". E isso em nível de classes, de nações, de continentes. Se não soubermos repartir nosso pão com as populações e regiões de subnutridos, nossa credibilidade cristã estará comprometida e o mundo do subdesenvolvimento procurará outros caminhos para obter justiça, impelido pela "ira dos pobres".

"O meu e vosso sacrifício"



"De que serve ornar de vasos de ouro a mesa do Cristo, se ele mesmo morre de fome? Começa por alimentá-lo quando está faminto, e então poderás decorar sua mesa com o supérfluo. Dize-me: se, vendo alguém privado do sustento indispensável, o deixasses em jejum e fosses enfeitar sua mesa com vasos de ouro, achas que ele te seria agradecido? Ou não ficaria indignado? Ou ainda, se vendo-o vestido de andrajos e trêmulo de frio, o deixasses sem roupa para erigir-lhe monumentos de ouro, pretendendo assim honrá-lo, não diria ele que estarias zombando dele com a mais refinada ironia? Confessa a ti mesmo que ages assim com o Cristo, quando ele é peregrino, estrangeiro e está sem abrigo, e tu, em lugar de recebê-lo, decoras os pavimentos, as paredes e os capitéis das colunas. Suspendes candelabros com correntes de prata, e quando ele está acorrentado, não vais consolá-lo. Não digo isto para reprovar esses ornamentos, mas afirmo que é necessário fazer uma coisa sem omitir a outra; ou melhor, que se deve começar por esta, isto é, por socorrer o pobre"  (S. João Crisóstomo). [Missal Dominical, ©Paulus, 1995]