sábado, 9 de abril de 2011

Dom José Alberto Moura, CSS, Arcebispo Metropolitano de Montes Claros - MG


Acordar

Quem está sempre vigilante percebe os próprios movimentos e o que está em volta de si. Tem possibilidade de fazer escolhas e tomar o rumo da vida de mais proveito. A alienação, ao contrário, faz a pessoa viver como dormindo, sem usar os meios adequados para a própria realização.

O profeta Ezequiel alerta o povo para sair da própria sepultura e viver com dignidade: “Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel... Porei em vós o meu espírito, para que vivais...” (37,12.14). Acordar do sono da morte para viver desperto leva a pessoa a construir a vida com a certeza da missão dada por Deus a cada ser humano. Esta vida terrena vale a pena para quem a marca com o cuidado de quem tem um tesouro e sabe zelar por ele. Deus nos deu a vida e a terra para o uso carinhoso de quem assume sua administração para apresentar a Ele o resultado de sua tarefa. Mas é indispensável nossa responsabilidade em viver com a consciência dessa missão. Valemos e nos realizamos com a benemerência do que procuramos realizar da melhor maneira com o sonho da busca do verdadeiro tesouro da vida.

Para o bom exercício da caminhada nessa direção o apóstolo Paulo nos explica sobre a necessidade de nos imbuirmos da presença de Deus em nós. Tornamo-nos, então, criaturas novas, superando a contradição do pecado e vivendo segundo o Espírito e não segundo a carne. Enchemo-nos de alegria e temos a certeza de conseguirmos o objetivo de nossa caminhada terrena, alcançando a plena realização em Deus (Cf. Romanos 8,8-11). Mas a tarefa de condução da vida terrena vai se desenvolvendo com os critérios da justiça do Reino de Deus. Tornamo-nos pessoas fraternas, solidárias com os outros, trabalhando pela promoção da dignidade de todos. Esforçamo-nos para superar os mecanismos de morte, inclusive os da degradação da natureza. Somos pessoas de trabalho pela caminhada de sentido para todos.

Jesus é o grande modelo de doação de si. Não se eximiu de cumprir a missão dada pelo Pai. Tornou-se um de nós, ensinando-nos de modo profundamente humano como olhar e trabalhar pelo bem do semelhante, mesmo tendo que doar-se inteiramente, até a inteira vida, para os outros a terem de qualidade. Mostra isso nas parábolas do bom samaritano e do filho pródigo, nos milagres para ajudarem as pessoas a superarem seus problemas, mas, principalmente, para crerem nele e realizarem o projeto de Deus. Incansavelmente quer dar vitalidade a todos: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10). Quer dar vida física, de qualidade material. Mas vai muito além. Mostra que a vida de sentido faz a pessoa até sofrer os limites do sensível para ter a vida plena. Se fez milagres, e quantos!, foi  para mostrar seu poder de levar a pessoa que nele crê até os parâmetros da vida eterna. Ensina-nos a também darmos vida para que todos a tenham em abundância. Quem entra no âmago de sua missão é levado também a dar se si, desmedidamente,  para promover a realização maiúscula aos outros.

No milagre da ressurreição do amigo Lázaro, Jesus mostra que o “sono” da morte física não é nada para Ele. Promete a todos nós a vida imorredoura. Basta estarmos acordados para usarmos bem a caminhada terrena, acumulando tesouro para o eterno. Fazêmo-lo quando damos de nós para respeitarmos e promovermos os seres criados por Deus com verdadeiro zelo, ternura e amor.

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