quinta-feira, 14 de abril de 2011

Dom Genival Saraiva, Bispo de Palmares - PE


Prática quaresmal – a esmola

A espiritualidade e a solidariedade estão presentes na vida do povo e se expressam de muitas formas. Os católicos, numa vivência milenar, associam à Quaresma as práticas da oração, da esmola e do jejum como gesto penitencial e solidário. Essas práticas, por sinal, constituem uma herança do povo de Deus, no Antigo Testamento. São muitas as passagens bíblicas que tratam da esmola. “Uma das mais antigas discussões bíblicas encontra-se no Livro de Tobias, escrito em Aramaico no ano 200 a.C., e que foi incorporado na Bíblia com a sua tradução em grego. Em Tobias, eleemosyne é usada com o significado específico de que esta palavra havia de ter no Novo Testamento: dar esmola aos pobres. Dar esmola é misericórdia, misericórdia expressa em dinheiro”.

Jesus assume essas práticas e as propõe como sinais de identificação de seus seguidores. Assim, conforme relata o Evangelista Lucas, Zaqueu, ao encontrar Jesus, se reencontra, revê seu ofício de cobrador de impostos, passando a doar esmola e praticar a justiça: “Senhor, a metade dos meus bens darei aos pobres, e se prejudiquei alguém, vou devolver quatro vezes mais.” (Lc 19,8) Jesus chama a atenção para a possibilidade de distorção das práticas da esmola, da oração e do jejum, quando se tornam puro ritualismo exterior que perde, consequentemente, a sua razão de ser que é aproximar as pessoas de Deus e de seus semelhantes. Aliás Jesus coloca como ponto de partida a questão da motivação ou da intenção que move as pessoas na observância dessas práticas. Se pretendem ser vistas e reconhecidas como boas e perfeitas, porque as observam, Jesus diz que já receberam a sua recompensa. (cf Mt 6,1-18) Na era apostólica, a esmola era uma das práticas da comunidade cristã, como se lê nos Atos dos Apóstolos: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava suas coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum. (...) Entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro e o depositavam aos pés dos apóstolos. Depois era distribuído conforme a necessidade de cada um.” (At 4,32.34-35) À luz desses exemplos bíblicos, percebe-se que a prática da esmola tem um sentido profundo diante de Deus e um valor muito grande perante os homens porque implica a vivência da fraternidade e o exercício da solidariedade. No gesto concreto da doação a pessoas necessitadas, sempre se revela o rosto de Jesus necessitado, como ele ensina: “Pois eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede e me destes de beber” (Mt 25,35)

Movidos pela caridade, os discípulos de Cristo, por uma razão de fé, fazem da esmola uma doação fraterna; outros podem fazer por uma questão de filantropia que sempre um significado social, como expressão de solidariedade humana. Biblica e eclesialmente, nem os doadores devem alimentar um estado de dependência nas pessoas contempladas com a doação de sua esmola e estas, tampouco, devem adotar uma atitude de acomodação, porque isso lhes tolheria a capacidade de autoafirmação e autopromoção. Ao realizar, anualmente, a Campanha da Fraternidade no Brasil, a Igreja Católica educa os fiéis para participarem do “gesto concreto”, na linha da caridade e da solidariedade, que permitirá à CNBB e às Dioceses criarem, respectivamente, o Fundo Nacional de Solidariedade e o Fundo Diocesano de Soliariedade. A “Coleta da Campanha da Fraternidade”, no Domingo de Ramos, contempla o sentido bíblico da esmola e vai além, dado que sempre está na direção de causas sociais que exigem intervenções preventivas e corretivas. Com efeito, “Os recursos arrecadados serão destinados prioritariamente a projetos que atendam aos objetivos propostos pela CF 2011.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário