domingo, 10 de abril de 2011

Comentando o Evangelho


Jesus é a ressurreição e a vida

A narrativa da ressurreição de Lázaro corresponde ao último dos sete sinais de libertação realizados por Jesus no Evangelho de João. Os relatos dos sete sinais procuram levar os cristãos a refletir sobre o sentido profundo dos fatos da vida humana: a falta de vinho numa festa de casamento (2,1-12), a doença do filho de um funcionário real (4,46-54), o paralítico à beira da piscina de Betesda (5,1-18), a fome do povo (6,1-15), o barco dos discípulos ameaçado pelas águas do mar (6,16-21), o cego de nascença (9,1-41) e, finalmente, a morte de Lázaro. Todos eles visam apresentar Jesus como o Messias que veio para resgatar a vida plena para os seres humanos. Em cada sinal, percebe-se um propósito pedagógico: a representação de um caminho novo apontado por Jesus para derrubar todas as barreiras que impedem a pessoa de realizar-se plenamente.

Jesus é o “Bom Pastor” que dá a vida por suas ovelhas (cf. 10,11). Ele é o verdadeiro caminho para a vida com dignidade e liberdade, vencendo as causas de todos os males. Vence a própria morte: é a vida definitiva. Somente os que creem em Jesus, com convicção, compreendem e acolhem essa verdade. Portanto, a finalidade principal dos sinais é levar os discípulos à fé autêntica. Ao informar que Lázaro havia morrido e, por isso, iria ao seu encontro, Jesus diz aos discípulos: “É para que vocês creiam” (11,15). Também lemos no final do evangelho: “Jesus fez ainda muitos outros sinais, que não se acham escritos neste livro. Esses, porém, foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenham a vida em seu nome” (20,30-31).

As personagens que aparecem no relato – Marta, Maria e os judeus – refletem diferentes concepções a respeito de Jesus. Primeiramente, podemos observar o comportamento de Marta. Sabendo que Jesus chegara a Betânia, “saiu ao seu encontro” e a ele se dirigiu, chamando-o pelos títulos cristológicos de “Senhor” e “Filho de Deus”. Diante da promessa da ressurreição, declara-lhe convictamente sua fé: “Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que vem ao mundo”. E vai anunciar à sua irmã Maria, que, por sua vez, imediatamente segue ao encontro de Jesus, mas não consegue declarar a fé nele como fez Marta. Está ainda angustiada e paralisada diante da realidade da morte. Já os judeus apenas seguem Maria, sem ter consciência de ir ao encontro de Jesus e muito menos fazer-lhe alguma confissão de fé.

São três modos de comportar-se diante de Jesus. O comportamento de Marta é o retrato das pessoas de fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, Salvador da humanidade. Para os que acreditam nele, a ressurreição é uma realidade não apenas para o futuro, mas para o presente. Toda atitude em favor da vida é sinal de ressurreição e gesto de glorificação a Deus, criador e libertador.

Os autores do evangelho fazem questão de mostrar o rosto humano de Jesus. Ele participa da dor das pessoas que sofrem, comove-se e chora. Sua comoção, porém, pode ser traduzida como impaciência com a falta de fé tanto de Maria como dos judeus. E, para além das lamentações, Jesus reza ao Pai para que, diante desse sinal definitivo da ressurreição, “eles acreditem” nele como enviado de Deus.

Lázaro (cujo nome significa “Deus ajuda”) está enterrado há quatro dias. O “quarto dia” refere-se ao tempo depois da morte de Jesus; é o tempo das comunidades que creem em Jesus morto e ressuscitado. Portanto, é o tempo da graça por excelência, que deve ser vivido de forma totalmente nova. Lázaro e as comunidades cristãs são chamados a sair dos túmulos do medo, da acomodação, do egoísmo e da tristeza; são chamados a “desatar-se” das amarras dos sistemas que oprimem e matam. As pessoas de fé autêntica, seguidoras de Jesus, são verdadeiramente livres. O “quarto dia” é o tempo da ressurreição, dom de Deus. (Celso Loraschi, Vida Pastoral nº 277, Paulus)

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