sexta-feira, 6 de março de 2015

Carta MCC Brasil – Março 2015 – (175ª.)



“Fortalecei os vossos corações” (Tg 5,8)

Irmãos, leitores e leitoras, estejam no coração e na vida de cada um, de cada uma, a paz e a graça de Deus Pai, Filho e Espírito Santo!  
Durante todo o mês de março vivenciaremos o tempo da Quaresma, o “momento favorável” ao qual se refere São Paulo na Segunda Carta aos Coríntios (2Cor 6,2), conforme lembramos na Carta passada. Nessa mesma carta propusemos uma breve reflexão sobre o tripé quaresmal, isto é, sobre o Jejum, a Oração e a Caridade (Esmola). Sobre a Campanha da Fraternidade proposta pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil para a Quaresma 2015 tendo por tema: “Fraternidade, Igreja e Sociedade” e por lema: “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45) supõe-se já amplo conhecimento e reflexão facilitados pelas Dioceses, Paróquias e Comunidades eclesiais. Por isso, proponho que nesta Carta relembremos a importante Mensagem do Papa Francisco para esta Quaresma e reflitamos sobre como vivenciá-la sobretudo como participantes no Movimento de Cursilhos. Pela necessária limitação de espaço, deixo para nossa próxima Carta a continuidade da reflexão que estamos propondo acerca da Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” (EG).
A Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2015. A citação da Palavra de Deus que encabeça esta Carta é a mesma da abertura da Mensagem quaresmal do Papa Francisco. O luminoso foco dessa Mensagem está num ponto nem sempre ou muito pouco lembrado quando se analisa a atual situação da Igreja católica na sociedade e na vida de cada católico. Tanto dos que se dizem fieis à Igreja, quanto daqueles que dela se afastaram. O foco está na “globalização da indiferença”. Lembremos a introdução da mensagem onde o Papa, quase que definindo a indiferença, mostra a sua globalização. Referindo-se, primeiramente ao amor de Deus para conosco, assim se expressa: Ele não nos olha com indiferença; pelo contrário, preocupa-se com cada um de nós, conhece-nos pelo nome, cuida de nós e vai à nossa procura, quando O deixamos. Interessa-Se por cada um de nós; o seu amor impede-Lhe de ficar indiferente perante aquilo que nos acontece”.  
 
 
Em seguida, o Papa mostra a atitude de muitos de nós e suas consequências que acabam por adquirir “dimensão mundial”: “Coisa diferente se passa conosco! Quando estamos bem e comodamente instalados, esquecemo-nos certamente dos outros (isto, Deus Pai nunca o faz! ), não nos interessam os seus problemas, nem as tribulações e injustiças que sofrem; e, assim, o nosso coração cai na indiferença: encontrando-me relativamente bem e confortável, esqueço-me dos que não estão bem!”. Hoje, esta atitude egoísta de indiferença atingiu uma dimensão mundial tal que podemos falar de uma globalização da indiferença. Trata-se de um mal-estar que temos obrigação, como cristãos, de enfrentar”.
 
 
E, como que para nos despertar, o Papa chama a voz dos profetas: “Quando o povo de Deus se converte ao seu amor, encontra resposta para as questões que a história continuamente nos coloca. E um dos desafios mais urgentes, sobre o qual quero deter-me nesta Mensagem, é o da globalização da indiferença. Dado que a indiferença para com o próximo e para com Deus é uma tentação real também para nós, cristãos, temos necessidade de ouvir, em cada Quaresma, o brado dos profetas que levantam a voz para nos despertar. A Deus não Lhe é indiferente o mundo, mas ama-o até ao ponto de entregar o seu Filho pela salvação de todo o homem”.
 
Desenvolvendo o corpo da Mensagem, o Papa o faz em três pontos inspirados na Palavra de Deus:
 
1º. À Igreja: “Se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros” (1 Cor 12,26). “Nesta (na Eucaristia), tornamo-nos naquilo que recebemos: o corpo de Cristo. Neste corpo não encontra lugar a tal indiferença que, com tanta frequência, parece apoderar-se dos nossos corações; porque quem é de Cristo pertence a um único corpo e, n’Ele, um não olha com indiferença o outro”. E continua o Papa:  “A Igreja é “communio sanctorum”, não só porque, nela, tomam parte os Santos mas também porque é comunhão de coisas santas: o amor de Deus, que nos foi revelado em Cristo, e todos os seus dons; e, entre estes, há que incluir também a resposta de quantos se deixam alcançar por tal amor. Nesta comunhão dos Santos e nesta participação nas coisas santas, aquilo que cada um possui, não o reserva só para si, mas tudo é para todos. E, dado que estamos interligados em Deus, podemos fazer algo mesmo pelos que estão longe, por aqueles que não poderíamos jamais, com as nossas simples forças, alcançar: rezamos com eles e por eles a Deus, para que todos nos abramos à sua obra de salvação”.
 
 2º. Às paróquias e Comunidades: “Onde está o teu irmão?” (Gn 4,9. Este parágrafo é como que a continuidade do anterior, pois seu viés é comunitário como aquele. Eis o ponto fundamental colocado logo no início: Tudo o que se disse a propósito da Igreja universal é necessário agora traduzi-lo na vida das paróquias e comunidades. Nestas realidades eclesiais, consegue-se porventura experimentar que fazemos parte de um único corpo? Um corpo que, simultaneamente, recebe e partilha aquilo que Deus nos quer dar? Um corpo que conhece e cuida dos seus membros mais frágeis, pobres e pequeninos? Ou refugiamo-nos num amor universal pronto a comprometer-se lá longe no mundo, mas que esquece o Lázaro sentado à sua porta fechada (cf. Lc 16,19-31)? Para receber e fazer frutificar plenamente aquilo que Deus nos dá, deve-se ultrapassar as fronteiras da Igreja visível em duas direções”. Quais direções? A primeira é “unindo-nos à Igreja  do Céu na oração” e a segunda é que “cada comunidade cristã é chamada a atravessar o limiar que a põe em relação com a sociedade circundante, com os pobres e com os incrédulos”. E quase como que um propósito para toda a Quaresma, o Papa expressa assim seu desejo: “Amados irmãos e irmãs, como desejo que os lugares onde a Igreja se manifesta, particularmente as nossas paróquias e as nossas comunidades, se tomem ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença!”
3º. A cada um dos fieis: “Fortalecei os vossos corações” (Tg 5,8). Se todos os aspectos anteriores da “globalização da indiferença”, são importantes, este, sem dúvida, sobressai pelo questionamento pesoal sobre o mal da indiferença. Pois, de atitudes pessoais é que resultam projetos comuns tanto da Igreja como das Paróquias e Comunidades. Assim se exprime a Mensagem a respeito das reações de cada fiel: Também como indivíduos temos a tentação da indiferença. Estamos saturados de notícias e imagens impressionantes que nos relatam o sofrimento humano, sentindo ao mesmo tempo toda a nossa incapacidade de intervir. Que fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de terror e impotência? Em primeiro lugar, podemos rezar na comunhão da Igreja terrena e celeste. Não subestimemos a força da oração de muitos! A iniciativa 24 horas para o Senhor, que espero se celebre em toda a Igreja - mesmo em nível diocesano - nos dias 13 e 14 de Março, pretende dar expressão a esta necessidade da oração. Em segundo lugar, podemos levar ajuda, com gestos de caridade, tanto a quem vive próximo de nós como a quem está longe, graças aos inúmeros organismos caritativos da Igreja. A Quaresma é um tempo propício para mostrar este interesse pelo outro, através de um sinal - mesmo pequeno, mas concreto - da nossa participação na humanidade que temos em comum. E, em terceiro lugar, o sofrimento do próximo constitui um apelo à conversão, porque a necessidade do irmão recorda-me a fragilidade da minha vida, a minha dependência de Deus e dos irmãos”.
Sugestão para reflexão pessoal e/ou em grupo.  Caso for possível, ler no grupo, trocando impressões, todo o texto da Mensagem. Pode-se aproveitar todo o tempo quaresmal para este exercício, procurando aplicar o conteúdo da Mensagem quer na Igreja ou na Paróquia e Comunidade, quer particularmente no aspecto pessoal. Entretanto, fica aqui uma sugestão referente ao Movimento de Cursilhos e relacionada com a questão da “globalização da indiferença”: sendo sinceros e coerentes, nossos grupos do MCC tem pensado e contribuído apenas para o crescimento pessoal de seus participantes, ajudando, com isso, a ‘criar ilhas de indiferença e de seguranças exclusivas’ em lugar de, como deseja o Papa, “tornar-se ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença”?
Com meu abraço fraterno, termino a todos desejando uma vivência compromissada neste privilegiado tempo da Quaresma para superar, dentro de nossas limitações, a “globalização da indiferença!

   Pe. José Gilberto BERALDO
Equipe Sacerdotal do Grupo Executivo Nacional – GEN –
Movimento de Cursilhos do Brasil

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