sexta-feira, 18 de março de 2011

Dom Bruno Gamberini, Arcebispo Metropolitano de Campinas - SP

Nosso pai terreno

Prezados irmãos e irmãs

Acabo de ler a notícia que o comissário da Comissão Europeia de Energia, Günther Oettinger, qualificou o acidente nuclear de Fukushima, no Japão, como um “apocalipse”, pois, segundo ele, as autoridades perderam o controle da situação. O comissário não descartou o pior para o Japão, embora a Cruz Vermelha Internacional diga que a situação está controlada. Estamos todos ainda assustados e atônitos pelas consequências dramáticas do terremoto e dos tsunamis que aconteceram na última sexta-feira e, mais ainda, os acidentes que se seguiram nas usinas atômicas, com o temor de um desastre nuclear.

Nós estamos unidos em oração ao povo japonês, rogando a misericórdia de Deus para que amenize tanto sofrimento. São milhares de mortos, machucados e desaparecidos em cidades totalmente devastadas. É sempre importante lembrarmos que não é vontade de Deus que desastres aconteçam e que não se trata de castigos ou afins. Tenho a plena certeza que o povo japonês vai, novamente, dar provas de sua grandeza, na sua plena recuperação psicológica e do país.

O terremoto e os tsunamis foram um desastre natural, mas o acidente nuclear tem, sim, a responsabilidade humana. Diz-nos o texto da Campanha da Fraternidade que a humanidade recebeu de Deus a superioridade para cumprir a missão de cuidar da Mãe Terra para que ele seja fecunda e gere Vida para todos. Nós estamos fazendo como muitos filhos que, para se verem livres dos pais, por várias razões, os abandonam à própria sorte.

Embora muitos homens tenham a pretensão de serem deuses, jamais deixarão de ser homens, criatura, criada à semelhança de Deus, mas não seu igual. Ouvi várias entrevistas de cientistas que diziam que “dominavam a atividade atômica” e que nada poderia ocorrer de errado nas usinas instaladas pelo mundo afora. Aqui no Brasil, as autoridades de Angra dos Reis garantem que existe um planejamento adequado para várias hipóteses de acidentes. Espero que não seja necessário colocar à prova!

Quem dera pudéssemos todos nos espelhar nos exemplos de santidade de São José, santo querido que celebramos memória no próximo sábado, dia 19 de março. O Papa Leão XIII, em 1889, na Encíclica Quamquam pluries nos lembra alguns detalhes simples, mas interessantes da vida de José, que o levaram a ser o Patrono da Igreja Católica Apostólica Romana. José era casado com Maria e pai adotivo de Jesus. Pelo casamento, foi o ser humano que mais se aproximou da sublime dignidade da Mãe de Deus, que ultrapassa todas as criaturas.

Pela tradição cabia aos filhos obediência, honra e reverência aos seus pais e, certamente, foi essa a atitude de Jesus. Como “cabeça” da família, José “era o legítimo e natural guardião, chefe e defensor da Sagrada Família”. Diz o Papa Leão XIII que foi essa a atitude de José. Conseguia através de seu trabalho o sustento para Maria e Jesus. Nos momentos de perigo à vida de seu Filho, não titubeou e partiu para o exílio, encontrando refúgio seguro. Enfim, no seu silêncio, foi o protetor, o educador, o exemplo de vida para sua esposa e filho.

Leão XIII diz que “a casa divina que José governou com autoridade de um pai, continha em si a Igreja nascente. Da mesma forma que a Santíssima Virgem é a Mãe de Jesus, ela é a Mãe de todos os cristãos, a quem deu à luz no Monte Calvário, em meio às dores supremas da Redenção. Jesus Cristo é, pois, primogênito dos cristãos, que por adoção e Redenção são seus irmãos. E por essas razões, o Santo Patriarca referiu-se à multidão de cristãos que compõem a Igreja, como confiados especialmente ao cuidado de José, essa ilimitada família estendida por toda a terra, sobre a qual, uma vez que é o marido de Maria e pai de Jesus Cristo, mantém paternal autoridade”.

Por isso, peçamos confiantes ao nosso pai terreno, José, a proteção contra tanta dor e sofrimento que acometem o mundo, principalmente aos nossos irmãos e irmãs do Japão.


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