terça-feira, 3 de junho de 2014

Carta MCC Brasil – Jun – 2014 (178ª.)




“Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes atividades, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito, em vista do bem de todos... Todas essas coisas as realiza um e o mesmo Espírito, que distribui a cada um conforme quer”. (1Cor 12, 4-7.11)
Muito amados irmãos e irmãs, “renascidos da água e do Espírito” (Cf Jo 3,5b), permaneçamos abertos – mente e coração - a uma nova manifestação do Espírito Santo!
 
 Celebração do Divino Espírito Santo, o Pentecostes. Logo no início deste mês de junho, celebramos, com toda a Igreja, a grande festa de Pentecostes, a descida do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos. Uma celebração que, concluindo o tempo pascal, é atualizada sobre cada discípulo e discípula de Jesus através dos tempos bem como sobre toda a Igreja de Cristo. Igreja que em nossos tempos está passando por tantos desafios sobretudo devido à radical mudança de cultura e de culturas; a uma reinterpretação de valores nem sempre ou quase nunca pautados pelos valores anunciados pela Boa Notícia de Jesus; a problemas internos e de prática alheios à mensagem e ao espírito do Reino de Deus...
 Miremos o nosso Papa Francisco que, tão iluminado pelo Espírito Santo, continua anunciando para toda a Comunidade eclesial, tanto através de suas palavras quanto de seu testemunho, uma renovação necessária e urgente. “Vinde Espírito Santo....  Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. E renovareis a face da terra”.  Ouçamo-lo ao concluir uma sua recentíssima homilia na Casa de Santa Marta onde mora, sobre a presença do Espírito Santo na Igreja: “O Espírito Santo é a presença viva de Deus na Igreja. É o que faz andar a Igreja, o que faz caminhar a Igreja. Cada vez mais, para além dos limites, mais adiante. O Espírito Santo, com seus dons, guia Igreja. Não se pode entender a Igreja de Jesus sem o Paráclito, que o Senhor envia para isso. E toma tantas decisões impensáveis. Realmente, impensáveis! Para usar uma palavra de São João XXIII: é precisamente o Espírito Santo que ‘atualiza’ a Igreja: verdadeiramente, precisamente a atualiza e a faz ir adiante. E nós, cristãos, devemos pedir ao Senhor a graça da docilidade ao Espírito Santo. A docilidade a este Espírito que nos fala no coração, nos fala nas circunstâncias da vida, nos fala na vida eclesial, nas comunidades cristãs, nos fala sempre” .   
 Sugestão para reflexão pessoal e/ou em comunidade: o Papa Francisco repete uma expressão já citada em inúmeras oportunidades: “docilidade ao Espírito Santo”. Para você e/ou para sua comunidade qual é o sentido do termo “docilidade”? Existe abertura de mente e de coração para a ação do mesmo Espírito Santo que “renova toda a face da terra” ou é mais cômodo ficar instalado nas tradicionais garantias e “seguranças” de salvação pessoal ou nas antigas expressões ou nos ultrapassados métodos de evangelização?     
 
Prossigamos, então com nossas reflexões sobre a Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” – A Alegria do Evangelho (EG) continuando o Capítulo I: “A transformação missionária da Igreja”, depois de termos considerado em nossa Carta anterior o parágrafo “Uma Igreja em saída”. 
02. “Pastoral em conversão (EG 25-33). Esses parágrafos fazem-nos lembrar o Documento de Aparecida (DA 365-372) do qual o próprio Papa Francisco, quando Cardeal, foi um dos principais redatores.  De fato, é preciso esforço para avançar na conversão pastoral e missionária exigindo uma renovação da Igreja inteira, como consciência de emenda dos defeitos. Numa Igreja sem fidelidade à vocação, suas estruturas sempre se corrompem. Assim, a verdadeira conversão pastoral leva à saída para a ação missionária. Por isso, essa saída é exigida de todas as instituições e movimentos eclesiais. Sobretudo dos movimentos cujo carisma manifesta a Igreja saindo ao encontro de todos ou, como diz o Papa, saindo para as “periferias existenciais”, lembrando-lhes que a pastoral em clave missionária exige coragem e exige ser ousada e criativa.
03. A partir do coração do Evangelho” (EG 34- 39). Sobrasai, aqui, a urgência de se levar em conta a maneira de comunicar a mensagem do Evangelho, pois com as “novidades” da internet e dos meios de comunicação de massa corremos o risco de mutilar e reduzir seu conteúdo. Daí o perigo de ficarmos em aspectos secundários da mensagem. Assim identificamos o secundário com o essencial de Jesus Cristo. Não é o caso de impor doutrinas, mas anunciar o mais necessário. O núcleo é a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Cristo. Na hierarquia das virtudes e ações está a fé quando atua por amor. O destaque principal é a misericórdia, mostrando o amor de Deus. Na pastoral é preciso olhar a proporção entre os valores anunciados. É o caso de quando se fala mais de temperança e menos de justiça e caridade. Mais da lei que da graça; mais da Igreja que de Jesus; mais do papa que da Palavra. Caso contrário, a mensagem pode correr o risco de perder “o perfume do Evangelho”.
1.4. A missão que se encarna nas limitações humanas (40-45). Não podemos ficar limitados em nossas imperfeições ao evangelizar. Lembra-se que a missão dos teólogos é a de ajudar a Igreja a amadurecer seu próprio juízo de ação. É preciso ouvir uns aos outros para entender melhor o Evangelho. Urge prestar atenção às mudanças rápidas e permanentes novidades sem nos escravizarmos a elas, pois acabamos por correr o risco de anunciar um deus que não é nem cristão. A fé tem o aspecto da cruz, que supõe adesão do coração com amor. Os preceitos dados por Cristo são pouquíssimos e nos tornam livres. Isso tem que ser levado em conta ao pensar numa reforma da Igreja. A culpa é diminuída pela ignorância, pela violência, pelo medo e vários fatores. O valor do ideal evangélico está na misericórdia e na paciência. A EG faz uma observação importantíssima referente ao sacramento da reconciliação, afirmando que o confessionário não pode ser câmara de tortura, mas de misericórdia. Um coração missionário está consciente das várias limitações humanas. Ele nunca se fecha e nem opta por agir com rigidez buscando defender-se a si mesmo. 
05. Uma mãe de coração aberto (46-49). A Igreja “em saída” deve estar sempre com as portas abertas. Foi o que fez o pai do filho pródigo na expectativa de retorno do filho. O evangelizador deve ser paciente na busca do caído pelo caminho. As portas devem estar abertas para todos, evitando moralismos. Nem as portas dos sacramentos devem ser fechadas para alguns. O batismo e a eucaristia são alimentos generosos para os fracos. Temos que agir com cuidado de não nos tornar controladores da graça e, sim, como seus fieis facilitadores. O dinamismo missionário deve atingir os pobres, doentes, esquecidos. Esses são os principais destinatários do Evangelho de Jesus Cristo.

Conclusão deste Capítulo I: sair do comodismo e fechamento para buscar quem está na margem

Sugestão para reflexão pessoal e/ou comunitária. A esta altura de nossas sínteses-reflexões sobre esses parágrafos do Capítulo I da EG deve ter ficado bem claro o significado ou, melhor a exigência da “Transformação missionária da Igreja”. Portanto, nunca é demais continuarmos a nos questionar sobre os nossos raios de ação e de presença missionárias. Permanece a alternativa de uma resposta à urgente pergunta: os Movimentos ditos eclesiais (com uma referência muito particular ao Movimento de Cursilhos) já tomaram consciência da necessidade dessa “transformação missionária” ou continuam, ainda em inúteis discussões sobre coisas acidentais ou, pelo menos, não tão importantes para o anúncio da Boa Notícia? Continuam fechados em si mesmos sem ousar uma saída missionária?
Na próxima Carta pretendemos tratar do Cap.II da EG: “Na crise do compromisso comunitário” (EG 50-109). Por ora, deixo meus queridos leitores sob a proteção de Maria, a primeira Evangelizadora, e com meu abraço amigo e fraterno no Senhor Jesus Cristo.
Pe. José Gilberto BERALDO - Equipe Sacerdotal – GEN

 

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