quinta-feira, 30 de abril de 2015

Carta MCC Brasil - Maio 2015 – 177ª.


“Com efeito, quando estávamos entre vós, demos esta regra: ‘Quem não quer trabalhar também não coma’. Ora, temos ouvido falar que, entre vós, há alguns vivendo desordenadamente, sem fazer nada, mas intrometendo-se em tudo. A essas pessoas ordenamos e exortamos no Senhor Jesus Cristo
                 que trabalhem tranquilamente e, assim, comam o seu próprio pão”. (2Ts 3, 10-12).

Caríssimos leitores e leitoras,


 É possível que, ao se deparar com o texto paulino acima algum leitor o ache estranho ou, pelo menos, fora de lugar. Na realidade seu objetivo é motivar uma reflexão sobre uma realidade fundamental da vida humana que é o trabalho. E, por quê? Porque, ao celebrar no dia Primeiro de Maio o DIA DO TRABALHO, dele podemos encontrar algumas repercussões durante todo o mês. Sua repercussão encontra eco no dia a dia de cada homem, da cada mulher na luta cotidiana pela própria vida e pela vida dos seus e da própria sociedade.

       Desejo, pois, partilhar algumas ideias que já externei num artigo recente e que me parecem oportunas nesta ocasião na qual a Igreja propõe como modelo do trabalhador ninguém menos que o pai adotivo de Jesus, São José. São José Operário. Vamos partir de um tema abrangente para os que deixam iluminar suas vidas pela fé. Melhor, para os que querem ver a realidade com os olhos de Deus: o trabalho humano visto com os olhos de Deus. De fato, esta atitude convém aos que nEle creem e que com Seu projeto de amor querem modelar suas vidas.
Evidentemente, não é possível tratar aqui de todas as implicações sociais do trabalho e de suas consequências, a maioria das quais, de algum modo, experimentadas na própria pele por milhões de trabalhadores pelo mundo e – porque não? – aqui também no Brasil: injustiças, exploração e escravização de todos os tipos, desemprego cada vez mais acentuado, salários ainda que legais, mais absolutamente injustos e indignos, desrespeito à pessoa gerando revolta e, muitas vezes, até violência,

1. Trabalho e projeto de Deus na Bíblia. Ao entregar a terra às suas primeiras criaturas humanas, o Senhor deu-lhes o poder de submetê-la (cf. Gn 3,28). É o primeiro indício da lei do trabalho. Entretanto, na raiz do peso do trabalho estão a ingratidão e a desobediência dos nossos primeiros pais. Mas é nessa mesma raiz que vamos encontrar o projeto de Deus para suas criaturas: “Comerás o pão com o suor do teu rosto, até voltares ao solo do qual foste tirado” (Gn 3, 19. Assim, percorrendo o Antigo Testamento deparamo-nos com inúmeros textos referentes ao trabalho humano, ao seu peso, mas, também, à sua dignidade e ao seu valor.  A construção do Templo de Javé, em Jerusalém, das Sinagogas, o apascentar as ovelhas nos campos e montanhas, o cultivo da terra para que produza frutos para sustento das comunidades, etc.. Tudo enobrece o trabalho do povo eleito e Deus o acompanha e encoraja enviando o tempo favorável para colheitas abundantes e suficientes para todo o povo.

2. Jesus, operário como seu pai adotivo, São José: “Não é ele o filho do carpinteiro?” (Mt 12,55; cf. Mc 6,3). A pessoa e o testemunho de vida de Jesus, sobretudo nos seus primeiros trinta anos, santificaram o trabalho de suas mãos. Além do conhecido trabalho diário em Nazaré, supõem alguns historiadores que no tempo de Jesus, devido à construção, na Palestina, de uma cidade gigantesca chamada Séphora, recrutava-se mão de obra de todas as partes e que José e Jesus também teriam ali trabalhado por algum tempo.  Seria, mais ou menos, como na construção da nossa Brasília, para onde afluíam operários recrutados de todos os cantos do país – os famosos candangos. Jesus e José poderiam ter sido como “candangos” do seu tempo. O fundamental para nós é que, trabalhando arduamente na sua carpintaria ao lado seu pai adotivo, Jesus santificou o trabalho, dele fazendo não apenas uma obrigação imprescindível para o sustento da família mas, sobretudo, um precioso meio de santificação e de testemunho de solidariedade.


3. O trabalho nos Documentos do Magistério da Igreja.

Além de outros documentos, dois sobressaem pela importância e pelas orientações pastorais neles contidas. O primeiro é a Encíclica RERUM NOVARUM SOBRE A CONDIÇÃO DOS OPERÁRIOS, do Papa Leão XIII, de 15 de Maio de 1891, na qual o Papa manifesta sua preocupação tanto com as condições dos operários tratados quase como escravos como com as opressoras condições de trabalho a que eram obrigados para sobreviver, saindo de uma cultura agrícola para uma cultura totalmente nova, a da conhecida Revolução Industrial.

O segundo Documento, tão importante quanto o primeiro - ou, quem sabe, até mais por sua atualidade - é a Encíclica LABOREM EXERCENS SOBRE O TRABALHO HUMANO NO 90º. ANIVERSÁRIO DA RERUM NOVARUM, do Papa São João Paulo II, de 14 de Setembro de 1981. Como motivação para a leitura de toda esta importante encíclica, reproduzo sua introdução: “É MEDIANTE O TRABALHO que o homem deve procurar-se o pão quotidiano e contribuir para o progresso contínuo das ciências e da técnica, e sobretudo para a incessante elevação cultural e moral da sociedade, na qual vive em comunidade com os próprios irmãos. E com a palavra trabalho é indicada toda a atividade realizada pelo mesmo homem, tanto manual como intelectual, independentemente das suas características e das circunstâncias, quer dizer toda a atividade humana que se pode e deve reconhecer como trabalho, no meio de toda aquela riqueza de atividades para as quais o homem tem capacidade e está predisposto pela própria natureza, em virtude da sua humanidade. Feito à imagem e semelhança do mesmo Deus no universo visível e nele estabelecido para que dominasse a terra, o homem, por isso mesmo, desde o princípio é chamado ao trabalho. O trabalho é uma das características que distinguem o homem do resto das criaturas, cuja atividade, relacionada com a manutenção da própria vida, não se pode chamar trabalho; somente o homem tem capacidade para o trabalho e somente o homem o realiza preenchendo ao mesmo tempo com ele a sua existência sobre a terra. Assim, o trabalho comporta em si uma marca particular do homem e da humanidade, a marca de uma pessoa que opera numa comunidade de pessoas; e uma tal marca determina a qualificação interior do mesmo trabalho e, em certo sentido, constitui a sua própria natureza”.
 
Ambas as encíclicas são orientadoras originais da Doutrina Social da Igreja, sobre a qual e com frequência, tratam alguns importantes documentos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB.
 
 
 4. Dia 1º. De Maio, Dia de São José Operário. Visando a imprimir um sentido mais evangélico e cristão ao Dia do Trabalho e a despertar a consciência da dignidade do trabalhador, a Igreja preocupou-se em dar a esse dia a oportunidade de uma reflexão e de um conteúdo mais elevado, apresentando o modelo de operário na pessoa de São José. Pio XII o declarou patrono dos trabalhadores e o Papa São João XXIII declarou São José patrono da Igreja. É assim que, no mesmo dia 1º. de Maio a Igreja Católica celebra o Dia de São José Operário.   Estas sábias iniciativas lembram que o trabalho não deve ser tratado, apenas, como um necessário e justo meio de sobrevivência ou, ainda, de mera acumulação de bens em detrimento de tantos milhões de empobrecidos ou somente como realização pessoal e profissional, mas, sobretudo, como meio de santificação e como instrumento de construção de uma sociedade mais justa e mais solidária.  
 
 
Oração: São José Operário, rogai por todos os operários deste nosso Brasil: pelos empregados e pelos milhões de desempregados; pelos injustiçados e pelos empobrecidos pelo salário indigno bem como por suas famílias e dependentes. E iluminai os empresários e empregadores para que se deixem conduzir pelos valores do Evangelho e não pela tentação da exploração da mão de obra de seus irmãos ou pela tentação do lucro fácil à custa do suor e das lágrimas de tantos!
 
 
5. Maio, mês mariano. Maria, a serva do Senhor. Maria, a Mãe do Filho de Deus encarnado. Maria, a bendita entre todas as mulheres. Maria, a sofredora ao pé da cruz, deixando que, por amor, uma espada lhe atravessasse o coração. Maria, a servidora da santa Família. Maria, a dona de casa perfeita: lavar, cozinhar, limpar, entregar-se ao serviço do Reino... Maria, exemplo de solidariedade na visita à sua prima Isabel. Maria, Mãe de Deus, Mãe da Igreja, nossa Mãe: rogai por nós!
 Com meu carinhoso abraço, irmão e amigo,
Pe.José Gilberto BERALDO
Equipe Sacerdotal GE


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