domingo, 23 de setembro de 2012

Meditação - Remodela-me, Senhor



 Desci à casa do oleiro a fim de encomendar um vaso.  No momento em que esperava para ser atendido, meus olhos admirados passeavam de um objeto a outro, encantados com sua beleza. Foi quando reparei em um canto um pequeno pedaço de barro. Pareceu-me abandonado. Aproximei-me e, ali mesmo, fui testemunha de uma coisa espantosa. Remodela-me, Senhor! - repetia com ar sofredor a pobre criatura.
     Impressionado, dirigi-me ao oleiro:  “Amigo, sempre apreciei teu trabalho. Como todos sabem, a melhor obra é a que sai de tuas mãos, no entanto, me recuso a acreditar que por mero descuido relegaste um pequeno pedaço de barro a mais triste solidão”.
     Ele me fitou em silêncio, a princípio pensei que fosse condenar minha aflição, mas após alguns minutos se pronunciou:  “Caro amigo, aprecio tua preocupação, porém o pequeno barro de nada me serve, te garanto que não tem jeito não Como assim, me recuso a acreditar que tão hábil oleiro não saiba o barro aproveitar”.
     - Julgaste-me mal. Este barro é que é um enganador, garanto que milhares de vezes o tomei entre as mãos e todas as vezes decepcionado, me vi forçado a abandoná-lo. É impossível trabalhar com ele, e se o deixo perto de mim é porque mesmo assim o amo de coração.
     - Mas que defeito tão grave é este?
     - É simples, não se deixa modelar.
     Entendo! - exclamei desconcertado.
     Neste dia, deixei a  olaria pensativo. Quantas vezes pedimos, imploramos e  não sabemos aproveitar as oportunidades que a vida nos dá.  Cada dia uma nova porta se abre à nossa frente. Cada dia somos chamados a fazer a experiência da Ressurreição.
     Podemos aceitar o convite e caminhar ou ficar parado, olhando mais uma porta se fechar.  Remodela-me, Senhor! - repetia o pequeno barro. Será que ele queria ser remodelado? E você?
                                                            Regina Célia Suppi

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