segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Comentário do Evangelho

 
     É surpreendente que o texto comece com a leitura profética sem sequer mencionar a Lei, o elemento mais importante do ofício. De fato, a leitura profética era concebida como uma explicitação ou uma ilustração da Lei. Qualquer homem judeu podia fazê-la, assim como a homilia, contanto que fosse instruído e gozasse de boa reputação.
     Os versículos 18 e 19 citam a passagem do livro de Isaías que Jesus leu. De fato, Lucas associa Is 61,1-2 e Is 58,6 segundo uma prática corrente. Cita Is 61,1 e a primeira frase do v. 23. Omite, sem razão aparente, a frase para curar os corações desanimados de Is 61,1, substituindo-a com a frase para colocar em liberdade os oprimidos, tirada de Is 58,63. O v.20 menciona, com precisão, os gestos de Jesus e assinala a reação de curiosidade e de expectativa de parte da assembleia.
     No v.21, Jesus toma a palavra para comentar a leitura. O v. 22 assinala uma primeira reação da assembleia. Ficam todos admirados com as palavras de Jesus. Elas ultrapassam tudo o que podiam esperar da boca de um conterrâneo que julgavam conhecer muito bem. Nos versículos 23 a 27, Jesus responde à surpresa e à admiração dos seus ouvintes. Adiantando-se-lhes, começa por formular, Ele próprio, o desafio que eles deviam ter na ponta da língua: “faz na tua terra o que ouvimos dizer que tens feito em Cafarnaum”. Jesus responde ao desafio, primeiro declarando que nenhum profeta é bem recebido na sua terra; depois, ilustrando a Sua declaração com os exemplos de Elias e Eliseu.
     Os versículos 28 e 29 demonstram uma segunda reação da assembleia totalmente diferente da primeira. Todos os ouvintes se enfurecem contra Jesus, expulsam-No da cidade e tentam assassiná-Lo. O v. 30 conclui o relato com a reação de Jesus: imperturbável e sem um ferimento, Cristo segue o Seu caminho.
      Jesus sabia que era o Filho de Deus e se apresentou aos homens que estavam na sinagoga como sendo o cumprimento daquela promessa que estava na leitura de Isaías, a qual Ele tinha proclamado. Enquanto alguns O ouviam, maravilhados, outros desconfiavam dizendo: “Não é este o filho de José?” E, por isso, Jesus disse que um profeta não é bem aceito na sua terra.
Esta cena também pode acontecer conosco. Pense naquelas pessoas que conviveram com você desde criança, que lhe viram crescer, sabem de onde você veio, por onde passou, com quem aprendeu tudo o que sabe e conseguem identificar até de onde você tirou cada ideia. Para elas você continuará sempre criança, mesmo que faça prodígios e milagres. Pense nos seus amigos de colégio, da universidade, do trabalho, da internet, do seu movimento, da Igreja, da nova cidade onde você foi morar… Enfim, das pessoas com quem você se relacionou quando já estava com algumas ideias formadas.
     Essas pessoas não o conhecem nem sabem de onde vieram as suas influências. E o mais importante de tudo: acreditam que você tem algo a adicionar ao que elas têm ou ao que elas são.
O mais surpreendente: se você acompanhou, desde criança, o crescimento de alguém mais novo que você, observe como considera previsíveis as atitudes e as palavras dessa pessoa. E, sem saber, acaba colocando uma barreira que dificulta que algo venha dela para você. Foi assim que Jesus se sentiu em Nazaré. É assim que a maioria dos profissionais se sente em casa, principalmente quando a resolução de um problema – doméstico ou familiar – exige que as pessoas confiem na capacidade dele. Daí que surgiu o ditado: “Em casa de ferreiro, o espeto é de pau”.
     Imagine se Jesus nascesse, nos dias de hoje, e fosse um desses garotos que brincam na sua rua, que você viu nascer e está acompanhando o crescimento dele; daqui há uns 20 anos, ele voltasse adulto, qual seria a sua reação? “Esse garoto é Filho de “seu” Zé, o marceneiro? Que brincava com os meninos na rua? Só se for para rir! Impossível! Nunca que ele teria essa capacidade! Eu vi onde ele estudou, as travessuras que aprontou, conheço os pais dele”. E Ele iria dizer: “De fato, um profeta não é bem recebido em sua terra. Então, os prodígios não acontecerão aqui, mas nos lugares onde as pessoas acreditem em mim”.
     A lição prática do Evangelho de hoje é: não subestimemos a capacidade das pessoas que são próximas a nós. Muitas vezes, elas realizam “prodígios” para os outros, mas não conseguem fazer nada em casa por não terem abertura. Daí o ditado: “Santo de casa não faz milagres”.
(Padre Bantu Mendonça)

Oração
Senhor Jesus, que o meu projeto de vida corresponda ao teu, e que eu tenha sempre mais a consciência de ser portador de uma missão recebida do Pai.

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