domingo, 20 de maio de 2012

Comentários do Evangelho


1. "NOVO HOMEM"(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
Meu grupo imaginário de debatedores do evangelho aspirantes a teólogos, se reuniu para refletir o evangelho desse domingo, Festa da Ascensão do Senhor. O Mota, que é o homem encarregado de comprar as hóstias e partículas da paróquia deu início a conversa. “Bom, nessa não caio mais, a apoteótica subida de Jesus ao céu é coisa secundária, os holofotes estão voltados para os discípulos, que recebem a missão, que será acompanhada de sinais prodigiosos”. Certo? Nem mal havia perguntado, o Ernesto, aquele que é líder em uma empresa, retrucou: “Epa! Se é festa da ascensão, a cena principal é Jesus subindo ao céu, pode conferir, vamos ver aqui...” O grupo abriu o Novo Testamento e a Dona Maria, empregada doméstica, observou “Olha, acho que esqueceram de avisar o Marcos que esse domingo é a festa da ascensão, tem três ou quatro palavras dizendo que Jesus foi elevado ao céu e mais nada”
E antes que o grupo esquentasse ainda mais a conversa, eu convidei todos a lerem o capítulo 16 , onde está inserido esse evangelho. A constatação foi a que eu já esperava “Se a ascensão fosse uma prova final, os coitados dos discípulos tomariam zero e seriam reprovados...” - comentou a catequista Roseli. De fato, o quadro que Marcos descreve, antes desse evangelho é meio tenebroso, as mulheres cheias de medo não disseram nada a ninguém, embora tivessem recebido do jovem vestido de branco, a missão de anunciar aos discípulos, Maria de Magdala até que anunciou aos discípulos, mas eles estavam aflitos e choravam, ouviram dizer que Jesus estava vivo, porque ela o tinha visto, mas não acreditaram. Quanto aqueles dois na estrada de Emaús, demorou para “cair a ficha” e perceber que Jesus caminhava com eles, daí foram anunciar ao restante, mas eles duvidaram. Quando Jesus se manifestou aos onze censurou-lhes a incredulidade e a dureza de coração, por não darem crédito ao anúncio. “É isso aí, tomaram a maior esfrega, foi bem feito!” – concluiu o Ernesto. “Eu é que não seria louco de confiar uma missão tão importante a um grupo desse!” – exclamou o Mota decepcionado.
Os discípulos não tinham poderes sobrenaturais, Jesus não confiou a missão a super-homens, o texto anterior nos mostra isso, e aí é que está o bonito da história, nós também muitas vezes temos dúvidas, não acreditamos, e diante de certos acontecimentos, demora para “cair a nossa ficha”, por isso a ascensão de Jesus marca o início da missão da Igreja, e daí a gente começa a se ver nesse evangelho, e principalmente no relato de Lucas em Atos, primeira leitura, quando vivenciamos uma fé da magia e ficamos olhando para o céu, esperando que Jesus volte para consertar tudo o que está errado.
“Olha, confesso que estou meio boiando” – comentou o Mota. “se é a Festa da Ascensão, ou em outras palavras, é a festa da subida de Jesus ao céu, é a sua volta para o Pai, como então descartarmos aquilo que no evangelho parece essencial?”, perguntou a esperta Roseli. De alguém que subiu na vida., a gente afirma que está em ascensão, na encarnação Jesus desceu, e esvaziando-se de si mesmo rebaixou-se á condição de escravo ao morrer na cruz, mas estando no fundo do poço, como podemos dizer, ele fez da condição humana o ponto de apoio para subir e alcançar a glória no mais alto do céu.
E assim, a natureza humana tão frágil e decaída, dominada pelo mal, se vê resgatada em sua dignidade maior, porque o Divino vem ao encontro do humano e se entrelaça na comunhão. Em Jesus toda a humanidade sobe, porque o céu se abre, o ser humano atinge a sua plenitude resgatando o paraíso do Eden que havia perdido. “Então esse “Sobe e Desce” de Jesus, nos evangelhos é apenas uma força de expressão?” – perguntou o Ernesto.
Na verdade Jesus nunca saiu do lado do Pai, mas também nunca nos deixou, esse entrelaçamento do Divino e humano, por livre iniciativa de Deus, é o mistério do Verbo encarnado, onde uma pessoa histórica e real, Jesus de Nazaré, dá um novo significado á vida do homem, trazendo aquele paraíso que perdemos, aqui dentro de nós e podemos falar sem medo, que festa da ascensão é a nova criação que agora se concretiza e se realiza em toda a humanidade, através de Jesus de Nazaré.
O anúncio do evangelho é exatamente essa Boa Nova, de que todo o homem é em Cristo nova Criatura, redimida, liberta e salva, destinada á comunhão plena com Deus em seu paraíso, e desta vez não há o perigo de sermos ludibriados pela serpente, fomos vacinados com a graça de Deus que recebemos no santo batismo.
O mundo inteiro precisa saber dessa Boa Nova, é essa precisamente a missão primária da nossa Igreja, acreditar que o anúncio é verdadeiro, e ser batizado, é condição essencial para quem quer passar por essa renovação espiritual que chamamos de salvação, onde somos configurados a Cristo e com ele já estamos no céu, mesmo ainda estando a caminho, por esta vida terrena. Se ele é a cabeça e nós os membros, não há como duvidar disso, pois o corpo forma uma unidade da qual a nossa Igreja é a expressão mais fiel. É por esta razão que o Senhor age com o discípulo, e confirma a palavra, por meio dos sinais, atestando a sua autenticidade, mesmo vindo de homens tão frágeis como todos nós. É a chancela, o carimbo de aprovação, que o Espírito imprime em nossa missão. (FESTA DA ASCENSÃO – Marcos 16, 14-19)
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail cruzsm@uol.com.br
2. A missão é o testemunho do amor misericordioso
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)
O evangelho de Marcos originalmente terminava em Mc 16,8 com o anúncio do anjo às mulheres, dizendo que Jesus ressuscitara e precedia os discípulos na Galileia. Provavelmente no segundo século, a Igreja, já estruturada, julgou inconveniente a falta das narrativas das aparições do Ressuscitado neste evangelho. Foram, então, acrescentadas três narrativas de aparições, que são resumos das narrativas de aparições dos outros evangelhos, particularmente de Lucas e João.
Nesta elaboração tardia, tipicamente institucional, a fala atribuída a Jesus, após as três aparições, vai no sentido de afirmar o poder excludente da Igreja, na qual a profissão de fé seguida do batismo já estava consagrada como caminho único e absoluto da salvação. Também ficam afirmados poderes excepcionais conferidos ao crente, como sinais da sua fé, o que contraria a realidade da simplicidade da fé a ser vivida no dia a dia pelos comuns dos mortais. Com uma visão amadurecida, compreende-se que não cabe à missão impor, condenar ou praticar ações espetaculares. A missão é o testemunho do amor misericordioso, a valorização e o cultivo das manifestações de vida encontradas nas diversificadas comunidades, vendo nelas o sinal da presença de Deus entre os povos, sem exclusões.
Os últimos versículos fazem alusão à ascensão aos céus, conforme narrada por Lucas em seu evangelho e mais desenvolvida nos Atos dos Apóstolos (primeira leitura), com um sumário de missão. A exaltação do Ressuscitado retirado da terra e glorificado no céu (segunda leitura) foi resultado da influência do messianismo escatológico nas mentes dos discípulos de origem no judaísmo. Esta visão, que relegou a segundo plano a revelação e a comunicação de Deus na vida e no testemunho de amor do Jesus histórico, influenciou durante séculos a teologia, a espiritualidade e a pastoral da Igreja, remetendo a fé em Jesus a uma recompensa na vida gloriosa futura e celestial. Hoje, resgatando-se as memórias de Jesus de Nazaré, na sua humanidade plena, a fé na sua presença, vivo, nas comunidades nos move ao alegre empenho em construir um mundo novo solidário e fraterno, em que todos se unam em torno do projeto da vida plena para todos, sem restrições.
Oração
Senhor Jesus, contemplando tua ascensão para junto do Pai, assumo a tarefa de levar, ao mundo inteiro e a toda criatura, a mensagem do teu Evangelho.
3. A SUBIDA AOS CÉUS(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).
O Evangelho de Marcos, em sua redação original, encerrava-se no versículo 8 do capítulo 16, com o encontro do túmulo vazio pelas mulheres. Os versículos 9 a 20, que o concluem, são um acréscimo tardio. A Igreja já estruturada teria julgado inconveniente a falta de narrativas das aparições do ressuscitado neste Evangelho. Foram, então, acrescentadas três narrativas, resumos das narrativas de aparições dos outros Evangelhos. A fala atribuída a Jesus, após as três aparições (v. 16), é no sentido de afirmar o poder excludente da Igreja, na qual a profissão de fé seguida do batismo já estava consagrada como caminho único e absoluto da salvação. Também ficam afirmados poderes excepcionais conferidos ao crente, o que contraria a simplicidade da fé a ser vivida no dia-a-dia pelos comuns dos mortais. Hoje se compreende que a prática missionária não é condenatória nem marcada por ações espetaculares. A missão é o testemunho do amor misericordioso e o reconhecimento, a valorização e o cultivo dos sinais de vida encontrados nos diversos povos e culturas. A subida aos céus está associada à narrativa de Lucas em seu Evangelho e mais desenvolvida nos Atos dos Apóstolos (primeira leitura). A exaltação do ressuscitado, retirado da terra e glorificado no céu (cf. segunda leitura), foi resultado da influência do messianismo escatológico davídico, presente nas mentes dos discípulos de origem judaica. Hoje, a fé na presença de Jesus vivo nas comunidades nos move ao alegre empenho em construir um mundo novo, solidário e fraterno, com união em torno do projeto de vida plena para todos, sem restrições.

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