domingo, 2 de março de 2014

Comentário do Evangelho - O cristão não pode viver a sua fé na ambiguidade

O valor da vida humana ocupa o centro da celebração do Mistério Pascal desse domingo. Sabemos que a vida tem algumas necessidades básicas como: comer, beber, vestir, etc. Jesus não descarta a importância das necessidades básicas para vida, mas diz que não devem ser a principal preocupação. Neste sentido, elege uma única fundamental: fazer a vontade do Pai, colocando a vida nas mãos de Deus. Por isso, a principal necessidade da vida humana, é colocar a vida em Deus, porque se ele cuida das aves e dos lírios muito mais cuidado terá ele com a nossa vida. Em quem confiamos mais: em Deus, que cuida dos lírios e das aves do céu, ou no dinheiro, que muitas vezes se torna o “dono” de nossas vidas?.
 
        No tempo do sofrimento, da perseguição, da angústia de estar longe da terra que Deus prometeu e deu aos ancestrais de Israel, o povo sente-se abandonado por seu Deus. O texto de Isaías deste domingo é resposta a esse sentimento de abandono. O sentimento do povo não corresponde à realidade de Deus e o engajamento da parte de Deus com relação à Aliança. O amor de Deus para com seu povo ultrapassa qualquer amor humano, até aquele que une a mãe ao seu filho. Deus, mesmo quando não experimentamos sensivelmente, sempre está presente e vela sobre todos nós com uma ternura inefável.
 
        O texto do evangelho deste domingo faz parte do “sermão da montanha”. A fé em Deus implica, necessariamente, uma ética correspondente, isto é, um modo de agir e viver a existência humana que corresponda ao desígnio salvífico de Deus revelado em Jesus Cristo. O ser humano é colocado sempre, em todo tempo, diante da necessidade de decidir. No caso do cristão, em razão de seu enraizamento em Cristo, ele não pode viver a sua fé na ambiguidade, servindo a dois “senhores”, nem viver como se não cresse. A fé tem uma implicação ética e exige decisão, portanto, renúncia a tudo o que possa levar o discípulo a não assumir um comportamento condizente com as exigências da vocação cristã.
 
       Todos os bens da natureza e os que dela procedem são meios para que o ser humano possa viver em paz. A preocupação excessiva com os bens materiais se opõe à confiança devida a Deus e reivindica o lugar de Deus. O discípulo deve rejeitar tal ambiguidade e ilusão e viver a sua confiança em Deus sem deixar de usar os meios que o permita viver, assim como os seus semelhantes. É preciso fazer tudo como se tudo dependesse de nós e esperar tudo como se tudo dependesse de Deus.
 
      O apelo à confiança em Deus não é bênção ao comodismo, tampouco à passividade, mas exigência de olhar todos os aspectos da existência humana à luz dos valores do Reino de Deus. A confiança em Deus requerida do discípulo é reconhecimento de que Deus cuida de todos e de cada um particularmente. Deus conhece e vem sempre em socorro de nossa fraqueza. Confiemos no Senhor!
 
Carlos Alberto Contieri, sj
 
ORAÇÃO
Pai, centra toda minha vida na busca do teu Reino e na justiça que dele vem, de forma que nenhuma outra preocupação possa ser importante para mim.

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