quarta-feira, 4 de julho de 2012

Comentários do Evangelho


1. “O Reino chega além-fronteira”
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Para ser possível entendermos esse milagre relatado por São Mateus e assim fazer a nossa reflexão, vamos fazer um corte no evangelho. De um lado temos a Galiléia e toda a região onde Jesus anuncia o Reino, e que não é muito extensa. O lago é o elemento divisor, não só geograficamente, mas teologicamente, assim como o Rio Jordão que aparece constantemente nos evangelhos.
De um lado Jesus, seus seguidores, o ideal do Reino pregado, que visa a salvação do homem, entendida na libertação plena de tudo o que possa oprimir o ser humano, inclusive as enfermidades, em sua grande maioria atribuídas a possessão demoníaca, porque a medicina era precária e não conseguia dar conta de explicar e combater essas enfermidades.Então, as coisas nessa área da saúde, que não se conseguia explicar, atribuía-se á Força demoníaca, um pouco parecido com o que hoje se vê nas igrejas neo-pentecostalistas onde alimenta-se o poder dos supostos “ministros de Deus”, com a expulsão dos demônios.
O que temos do outro lado, nessa terra dos Gadarenos? Exatamente o contrário, lá as pessoas paganizadas não conhecem os profetas, a Lei de Moisés, nem imaginam quem é Jesus e nem querem dele saber, sendo ele um intruso, um estranho no ninho e por conta disso, o ser humano é escravo e possesso do mal, do pecado e do egoísmo nele presente.
O evangelho nos apresenta o confronto entre esses dois mundos tão diferentes: o do Reino de Deus, que traz Vida e Liberdade para todos, e o Reino do Mal, que aprisiona e esmaga o homem dentro de si mesmo, no submundo das trevas, da ignorância, arrogância e prepotência, distantes de Deus e longe desse Reino Novo. Qualquer semelhança com a pós-modernidade, será mera coincidência.
“Que tens a ver conosco, Filho de Deus?”. O que Deus tem a ver com a nossa vida, com a Família, Vida conjugal, vida social, política e economia? A nossa Igreja, portadora do anúncio da Salvação, é constantemente rechaçada na pós-modernidade, quando fala em questões de ética, moral, defesa da Vida, da Família e da Dignidade humana. As ideologias contrárias aos princípios cristãos, vem de encontro á Igreja, para questioná-la com a mesma arrogância e prepotência dos demônios que possuíam esses dois infelizes relatados no evangelho ”Que tens a ver conosco, Jesus, Filho de Deus, viestes nos atormentar?”. De fato, para a Força do mal presente na sociedade, o anúncio do evangelho é um tormento porque questiona, gera discernimento e nos leva a tomar decisão contrária aos interesses do mal.
Com respeito a manada de porcos, faço, por minha conta uma ponte com o evangelho de Lucas onde na parábola do Filho Pródigo, este acaba sendo um limpador de chiqueiro de porcos. Despojado da sua dignidade, o homem escravo do pecado, acaba se submetendo á força do mal, da qual torna-se um servidor, como no caso do Filho Pródigo que era “cuidador de porcos”.
Os demônios imploram a Jesus que querem ir para os porcos, pois diante dele o Mal reconhece o seu lugar. E por fim, a manada de porcos se precipita ao lago do alto de um penhasco perecendo afogados. Lago e mar têm o mesmo significado no evangelho: é o domínio das forças do mal, de monstros como Leviantã, potência máxima do Mal.
2. O grande poder de Jesus
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)
Mateus reproduz aqui uma narrativa de milagre que Marcos já incluíra em seu evangelho, alguns anos antes. Embora mencione dois possessos, e não um, Mateus resume a narrativa de Marcos e a inclui no bloco de dez milagres, em seguida ao milagre da tempestade no mar acalmada. Com estes milagres, Mateus prepara o envio dos doze e o discurso missionário.
Enquanto em Marcos a narrativa destaca a dimensão amorosa e libertadora de Jesus em face dos vários sistemas opressores, tanto na área de influência judaica como em território gentílico, em Mateus o destaque é o grande poder de Jesus. O seu poder é sobre a natureza e sobre os demônios. Assim revestido de poder, Jesus é apresentado com os traços do messias esperado pelo judaísmo.
Percebem-se, assim, as diferenças de enfoques sob os quais é visto Jesus: por um lado, Jesus libertador e amoroso, por outro lado, Jesus poderoso.

Oração
Pai, coloca-me bem junto de teu Filho Jesus, para que as forças do mal não prevaleçam contra mim nem me mantenham prisioneiro de seu poder opressor.
3.A VITÓRIA SOBRE O MAL
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).
O incidente com a vara de porcos, em território pagão, esconde uma temática teológica, retrabalhada pelo evangelista a partir de um motivo folclorístico, com traços de comicidade: o Filho de Deus venceu o mal, libertando a humanidade do poder demoníaco.
Os espíritos malignos, tendo-se apoderado dos dois gadarenos, tornaram-nos refratários a Jesus, levando-os a rejeitar sua presença. Insociáveis e violentos, esses homens viviam no mundo da morte, pois moravam nos sepulcros, seu lugar de habitação, tendo sido reduzidos a um estado de total desumanização.
A presença de Jesus reverteu este quadro. Era impossível que ele ficasse impassível diante de uma situação tão deplorável! Sua atitude imediata foi libertar os gadarenos, ordenando aos demônios que voltassem para o mundo da impureza, simbolizada pelos porcos presentes nas imediações. Foi deles a iniciativa de pedir para serem mandados para lá. Afinal, os homens tinham sido recuperados para a vida, libertados do mal.
Os habitantes de Gadara não foram capazes de reconhecer o poder de Jesus. Um misto de medo, confusão e ressentimento pela perda dos porcos apoderou-se deles. Por isso, pediram que ele se retirasse de seu território.
Em todo caso, doravante os dois homens miraculados seriam um símbolo vivo do poder libertador do Messias Jesus.
Oração
Espírito que liberta do mal, purifica meu coração de tudo quanto me desumaniza e me impede de viver em comunhão com meus semelhantes.

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