segunda-feira, 5 de maio de 2014

Carta MCC Brasil – Maio 2014 – 177ª.


 “Depois disso, Jesus apareceu de novo aos discípulos, à beira do mar de Tiberíades... Jesus disse-lhes: ‘Vinde comer’.  Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar quem era ele, pois sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-se, tomou o pão e deu a eles. E fez a mesma coisa com no peixe.Esta foi a terceira vez que Jesus, ressuscitado dos mortos, apareceu aos discípulos” (Jo 21, 1.12-14).
 Meus muito amados irmãos e irmãs, leitores e leitoras, coparticipantes da vida nova de Jesus Ressuscitado, escutemos com alegria a sua divina e humana saudação “A paz esteja convosco”!

 Cristo ressuscitado continua vivo no meio de nós. Essa referência ao epílogo do Evangelho de João quer projetar uma dimensão de atualidade, de força, de transformação e, sobretudo, de uma sempre nova experiência da presença de Jesus na história e na vida da Igreja e de cada um dos seus seguidores. Ainda que, liturgicamente, termine o tempo pascal no dia de Pentecostes com a irrupção do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos e na pequena comunidade inicial, Jesus está vivo! Jesus continua vivo! Jesus continua presente!  Jesus ressuscitado continua “repartindo o pão e o peixe” entre nós, ou seja, o seu Corpo e o seu Sangue... em cada eucaristia... todos dias... todos os instantes, ao redor do mundo onde haja quem possa pronunciar “Este é o meu Corpo... este é o cálice do meu Sangue”!   Ou, por acaso, envolvem-nos, ainda, as “trevas da noite do mar de Tiberíades”, isto é, de uma “cultura de morte”, de uma civilização sempre e a cada dia mais longe de Deus? Ou os nossos sofrimentos, as nossas angústias, as preocupações normais da vida, impedem-nos de fazer uma nova experiência de sua presença descobrindo em nós mesmos e na Igreja uma vida nova, partilha que é com a vida de Jesus ressuscitado? Ou continuamos ainda receosos de “lançar a rede para a pesca” missionária, por duvidamos de que ele se encontre, hoje, no meio de nós?  Ou, quem sabe, andam fechados nossos ouvidos e tão blindado o nosso coração que já não escutamos o chamado de Jesus Ressuscitado, enviando-nos como enviou os primeiros para aquela pesca que chamamos de “missionária” quando garantiu-nos sua presença na ousada aventura de “fazer discípulos entre todas as nações, e batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” para logo acrescentar – não perdêssemos a esperança e a certeza de sua presença viva – “Eis que estrou convosco todos os dias, até o fim dos tempos”? (Mt 28, 19.20b).  

Assim, firmemente alicerçados e esperançados, é que seguimos refletindo sobre a tão oportuna, porque essencialmente missionáriam, Exortação, “Evangelii Gaudium” (EG) do nosso Papa Francisco. Não por acaso, no contexto de nossa reflexão acima, chegamos ao Capítulo I – “A transformação missionária da Igreja”.

I. Capítulo I – A transformação missionária da Igreja

Seguidores de Jesus que somos por força do nosso batismo ou, desejosos de sê-lo por opção de vida, encontramos sempre atual o mandato missionário de Jesus Cristo: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19–20). Atitude e atividade missionarias não são privilégio dos primeiros apóstolos e discípulos ou de alguns escolhidos - toda a Igreja é enviada para a missão (EG 19). Se um grande número de católicos fomos lembrados, desde crianças, que missionários eram aqueles e aquelas que deixavam suas famílias, suas pátrias para “evangelizar os pagãos”, é hora - e já passou da hora - de criarmos viva consciência de que todos somos missionários e de que cada metro quadrado de nossas circunstâncias é “terra de missão”, como alguém se expressou, no século passado, referindo-se à cidade de Paris, capital da França, outrora chamada de “filha primogênita da Igreja”!

1. Uma Igreja “em saída” (EG 20-24): São cinco parágrafos nos quais o Papa como que já sintetiza todo o documento.

1.1. Como Abraão, Moisés, Jeremias foram chamados a sair e ir como enviados também nós, no “Ide” de Jesus somos chamados a sair do comodismo e evangelizar. A última frase desse parágrafo tem uma singular importância para cada cristão, para cada comunidade, para cada movimento, pois se trata da questão do discernimento na atualização dos carismas. Entretanto, seja ele qual for, é o momento de “sair do comodismo” e de ter coragem de alimentar a alegria e de “alcançar todas as periferias”: “Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho” (EG 20).

Pergunta para reflexão pessoal e/ou em comunidade: a resposta, para ser coerente com a postura de seguidores de Jesus, vai exigir a sinceridade que Ele mesmo pede (“Seja o vosso sim; sim, o vosso não, não. O que passa disso vem do maligno” – Mt 5, 37). Para tratar dos respectivos carismas, do seu discernimento ou de sua aplicação prática, nossas dioceses, paróquias, associações, movimentos - em todos os níveis (paroquial, diocesano, nacional, continental ou mundial) empregam tempo considerável, viagens longas e contínuas, sem falar no dinheiro para isso utilizado. Pergunta-se (ao Movimento de Cursilhos, especialmente, uma vez que dele tenho uma vivência de mais de quarenta anos): o tempo que se emprega para a prática ou a agilização ou a concretização dos respectivos carismas é proporcional ao tempo que se consome com discussões intermináveis sobre a teoria? Ou, ano após ano, em reuniões de revisão, em assembleias, encontros, etc. as respostas vêm “maquiadas” para impressionar ou, então, saindo pela tangente, apresenta-se aquela desculpa quase sempre imperdoável caso seja como que uma escapatória das responsabilidades assumidas, afirmando que “a nossa realidade aqui é outra”?

1.2. Alegria do evangelho, que enche a vida dos discípulos, é missionária. Alegria que supera qualquer outra alegria; alegria que invade todo o ser do evangelizador: “Esta alegria (da volta) é um sinal de que o Evangelho foi anunciado e está a frutificar, mas contém sempre a dinâmica do êxodo e do dom, de sair de si mesmo, de caminhar e de semear sempre de novo, sempre mais além” (EG 21).

1.3. É vital que a Igreja saia para evangelizar, sem demora e sem medo. Depois de afirmar que “a Palavra tem uma potencialidade que não conseguimos prever” (EG 22), num parágrafo importantíssimo, o Papa usa sua criatividade para empregar o termo “primeirar”, referindo-se à necessidade de dar prioridade no envolvimento de uma Igreja “em saída”: “A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. Vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva. Ousemos um pouco mais no tomar a iniciativa!” (EG 24).

Pergunta para reflexão pessoal e/ou em comunidade: sua comunidade, seu grupo, ou o seu movimento estão mais “pré-ocupados” com normas, leis, estatutos, reuniões fechadas entre amigos que servem para agendar outras reuniões ou encontros, etc. do que, como discípulos missionários ocupados em “primeirar” uma “Igreja em saída” para as periferias em todas as suas dimensões: geográficas, sociais, ambientais, etc?  

Na nossa próxima Carta, assim permitindo-o o Senhor, proporemos algumas reflexões sobre o tema seguinte: “Pastoral em conversão” (EG 25-33).

E, lembrando o mês de Maria, a primeira evangelizadora e já prenunciando a alegria, o entusiasmo e o ardor missionário com a efusão do Espírito Santo em Pentecostes no próximo dia 8 de junho, a todos deixo meu carinhoso abraço fraterno,

 
Pe. José Gilberto BERALDO
Equipe Sacerdotal do GEN – MCC Brasil

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