1. "NOVO HOMEM"(O comentário do
Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
Meu grupo imaginário de debatedores do evangelho aspirantes a
teólogos, se reuniu para refletir o evangelho desse domingo, Festa da Ascensão
do Senhor. O Mota, que é o homem encarregado de comprar as hóstias e partículas
da paróquia deu início a conversa. “Bom, nessa não caio mais, a apoteótica
subida de Jesus ao céu é coisa secundária, os holofotes estão voltados para os
discípulos, que recebem a missão, que será acompanhada de sinais prodigiosos”.
Certo? Nem mal havia perguntado, o Ernesto, aquele que é líder em uma empresa,
retrucou: “Epa! Se é festa da ascensão, a cena principal é Jesus subindo ao céu,
pode conferir, vamos ver aqui...” O grupo abriu o Novo Testamento e a Dona
Maria, empregada doméstica, observou “Olha, acho que esqueceram de avisar o
Marcos que esse domingo é a festa da ascensão, tem três ou quatro palavras
dizendo que Jesus foi elevado ao céu e mais nada”
E antes que o grupo esquentasse ainda mais a conversa, eu
convidei todos a lerem o capítulo 16 , onde está inserido esse evangelho. A
constatação foi a que eu já esperava “Se a ascensão fosse uma prova final, os
coitados dos discípulos tomariam zero e seriam reprovados...” - comentou a
catequista Roseli. De fato, o quadro que Marcos descreve, antes desse evangelho
é meio tenebroso, as mulheres cheias de medo não disseram nada a ninguém, embora
tivessem recebido do jovem vestido de branco, a missão de anunciar aos
discípulos, Maria de Magdala até que anunciou aos discípulos, mas eles estavam
aflitos e choravam, ouviram dizer que Jesus estava vivo, porque ela o tinha
visto, mas não acreditaram. Quanto aqueles dois na estrada de Emaús, demorou
para “cair a ficha” e perceber que Jesus caminhava com eles, daí foram anunciar
ao restante, mas eles duvidaram. Quando Jesus se manifestou aos onze
censurou-lhes a incredulidade e a dureza de coração, por não darem crédito ao
anúncio. “É isso aí, tomaram a maior esfrega, foi bem feito!” – concluiu o
Ernesto. “Eu é que não seria louco de confiar uma missão tão importante a um
grupo desse!” – exclamou o Mota decepcionado.
Os discípulos não tinham poderes sobrenaturais, Jesus não
confiou a missão a super-homens, o texto anterior nos mostra isso, e aí é que
está o bonito da história, nós também muitas vezes temos dúvidas, não
acreditamos, e diante de certos acontecimentos, demora para “cair a nossa
ficha”, por isso a ascensão de Jesus marca o início da missão da Igreja, e daí
a gente começa a se ver nesse evangelho, e principalmente no relato de Lucas em
Atos, primeira leitura, quando vivenciamos uma fé da magia e ficamos olhando
para o céu, esperando que Jesus volte para consertar tudo o que está errado.
“Olha, confesso que estou meio boiando” – comentou o Mota. “se
é a Festa da Ascensão, ou em outras palavras, é a festa da subida de Jesus ao
céu, é a sua volta para o Pai, como então descartarmos aquilo que no evangelho
parece essencial?”, perguntou a esperta Roseli. De alguém que subiu na vida., a
gente afirma que está em ascensão, na encarnação Jesus desceu, e esvaziando-se
de si mesmo rebaixou-se á condição de escravo ao morrer na cruz, mas estando no
fundo do poço, como podemos dizer, ele fez da condição humana o ponto de apoio
para subir e alcançar a glória no mais alto do céu.
E assim, a natureza humana tão frágil e decaída, dominada pelo
mal, se vê resgatada em sua dignidade maior, porque o Divino vem ao encontro do
humano e se entrelaça na comunhão. Em Jesus toda a humanidade sobe, porque o céu
se abre, o ser humano atinge a sua plenitude resgatando o paraíso do Eden que
havia perdido. “Então esse “Sobe e Desce” de Jesus, nos evangelhos é apenas uma
força de expressão?” – perguntou o Ernesto.
Na verdade Jesus nunca saiu do lado do Pai, mas também nunca
nos deixou, esse entrelaçamento do Divino e humano, por livre iniciativa de
Deus, é o mistério do Verbo encarnado, onde uma pessoa histórica e real, Jesus
de Nazaré, dá um novo significado á vida do homem, trazendo aquele paraíso que
perdemos, aqui dentro de nós e podemos falar sem medo, que festa da ascensão é a
nova criação que agora se concretiza e se realiza em toda a humanidade, através
de Jesus de Nazaré.
O anúncio do evangelho é exatamente essa Boa Nova, de que todo
o homem é em Cristo nova Criatura, redimida, liberta e salva, destinada á
comunhão plena com Deus em seu paraíso, e desta vez não há o perigo de sermos
ludibriados pela serpente, fomos vacinados com a graça de Deus que recebemos no
santo batismo.
O mundo inteiro precisa saber dessa Boa Nova, é essa
precisamente a missão primária da nossa Igreja, acreditar que o anúncio é
verdadeiro, e ser batizado, é condição essencial para quem quer passar por essa
renovação espiritual que chamamos de salvação, onde somos configurados a Cristo
e com ele já estamos no céu, mesmo ainda estando a caminho, por esta vida
terrena. Se ele é a cabeça e nós os membros, não há como duvidar disso, pois o
corpo forma uma unidade da qual a nossa Igreja é a expressão mais fiel. É por
esta razão que o Senhor age com o discípulo, e confirma a palavra, por meio dos
sinais, atestando a sua autenticidade, mesmo vindo de homens tão frágeis como
todos nós. É a chancela, o carimbo de aprovação, que o Espírito imprime em nossa
missão. (FESTA DA ASCENSÃO – Marcos 16, 14-19)
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail cruzsm@uol.com.br
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail cruzsm@uol.com.br
2. A missão é o testemunho do amor
misericordioso
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)
O evangelho de Marcos originalmente terminava em Mc 16,8 com o
anúncio do anjo às mulheres, dizendo que Jesus ressuscitara e precedia os
discípulos na Galileia. Provavelmente no segundo século, a Igreja, já
estruturada, julgou inconveniente a falta das narrativas das aparições do
Ressuscitado neste evangelho. Foram, então, acrescentadas três narrativas de
aparições, que são resumos das narrativas de aparições dos outros evangelhos,
particularmente de Lucas e João.
Nesta elaboração tardia, tipicamente institucional, a fala
atribuída a Jesus, após as três aparições, vai no sentido de afirmar o poder
excludente da Igreja, na qual a profissão de fé seguida do batismo já estava
consagrada como caminho único e absoluto da salvação. Também ficam afirmados
poderes excepcionais conferidos ao crente, como sinais da sua fé, o que
contraria a realidade da simplicidade da fé a ser vivida no dia a dia pelos
comuns dos mortais. Com uma visão amadurecida, compreende-se que não cabe à
missão impor, condenar ou praticar ações espetaculares. A missão é o testemunho
do amor misericordioso, a valorização e o cultivo das manifestações de vida
encontradas nas diversificadas comunidades, vendo nelas o sinal da presença de
Deus entre os povos, sem exclusões.
Os últimos versículos fazem alusão à ascensão aos céus,
conforme narrada por Lucas em seu evangelho e mais desenvolvida nos Atos dos
Apóstolos (primeira leitura), com um sumário de missão. A exaltação do
Ressuscitado retirado da terra e glorificado no céu (segunda leitura) foi
resultado da influência do messianismo escatológico nas mentes dos discípulos de
origem no judaísmo. Esta visão, que relegou a segundo plano a revelação e a
comunicação de Deus na vida e no testemunho de amor do Jesus histórico,
influenciou durante séculos a teologia, a espiritualidade e a pastoral da
Igreja, remetendo a fé em Jesus a uma recompensa na vida gloriosa futura e
celestial. Hoje, resgatando-se as memórias de Jesus de Nazaré, na sua humanidade
plena, a fé na sua presença, vivo, nas comunidades nos move ao alegre empenho em
construir um mundo novo solidário e fraterno, em que todos se unam em torno do
projeto da vida plena para todos, sem restrições.
Oração
Senhor Jesus, contemplando tua ascensão para junto do Pai, assumo a tarefa de levar, ao mundo inteiro e a toda criatura, a mensagem do teu Evangelho.
Senhor Jesus, contemplando tua ascensão para junto do Pai, assumo a tarefa de levar, ao mundo inteiro e a toda criatura, a mensagem do teu Evangelho.
3. A SUBIDA AOS
CÉUS(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe.
Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e
disponibilizado no Portal Dom Total a cada
mês).
O Evangelho de Marcos, em sua redação original, encerrava-se no
versículo 8 do capítulo 16, com o encontro do túmulo vazio pelas mulheres. Os
versículos 9 a 20, que o concluem, são um acréscimo tardio. A Igreja já
estruturada teria julgado inconveniente a falta de narrativas das aparições do
ressuscitado neste Evangelho. Foram, então, acrescentadas três narrativas,
resumos das narrativas de aparições dos outros Evangelhos. A fala atribuída a
Jesus, após as três aparições (v. 16), é no sentido de afirmar o poder
excludente da Igreja, na qual a profissão de fé seguida do batismo já estava
consagrada como caminho único e absoluto da salvação. Também ficam afirmados
poderes excepcionais conferidos ao crente, o que contraria a simplicidade da fé
a ser vivida no dia-a-dia pelos comuns dos mortais. Hoje se compreende que a
prática missionária não é condenatória nem marcada por ações espetaculares. A
missão é o testemunho do amor misericordioso e o reconhecimento, a valorização e
o cultivo dos sinais de vida encontrados nos diversos povos e culturas. A subida
aos céus está associada à narrativa de Lucas em seu Evangelho e mais
desenvolvida nos Atos dos Apóstolos (primeira leitura). A exaltação do
ressuscitado, retirado da terra e glorificado no céu (cf. segunda leitura), foi
resultado da influência do messianismo escatológico davídico, presente nas
mentes dos discípulos de origem judaica. Hoje, a fé na presença de Jesus vivo
nas comunidades nos move ao alegre empenho em construir um mundo novo, solidário
e fraterno, com união em torno do projeto de vida plena para todos, sem
restrições.
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