Jesus não ressuscitou muita gente naquele tempo, os
evangelhos mencionam apenas três: Lázaro de Betania, irmão de Marta e Maria, a
filhinha de Jairo, Chefe da Sinagoga, e o filho da viúva de Naim, que Lucas
narra no evangelho desse domingo.
Conclui-se, portanto, que não era propósito de Jesus
libertar e salvar os homens da morte biológica, pois se fosse assim, sua missão
teria sido um fracasso já que ressuscitou apenas esses três e nem José, seu pai
adotivo, ele teria conseguido livrar da morte. Há ainda outra questão importante
a ser considerada: que vantagem teria se ressuscitar fosse apenas retornar a
esta vida, com todas as suas limitações e aprendizado, suas angústias e
tribulações? Por acaso não iríamos morrer novamente, como o próprio Lázaro, a
filha de Jairo e o moço que Jesus ressuscita nesse evangelho? Não, não valeria a
pena, com toda certeza!
Essa vida nova que Cristo nos dá, através de sua paixão,
morte e ressurreição, é infinitamente melhor e superior a esta existência
terrena, a ponto do apóstolo Paulo afirmar em uma de suas cartas “os sofrimentos
do tempo presente nem se comparam àquilo que Deus irá nos revelar”, ou ainda “o
que vemos hoje é como se fosse em um espelho, mas depois nos veremos como de
fato o somos”.
A chave que decifra esse mistério da Vida e da morte está
precisamente em Cristo, nele o Pai não só se revela, mas revela também quem é o
homem. A graça de Deus que em Cristo recebemos nos faz criaturas novas onde o
mistério é iluminado pela luz da Fé.
Essa grande e feliz Verdade chegou até nós por causa do
evangelho, anunciado pelo próprio Cristo – filho de Deus feito homem, que ao
trazer-nos a Boa Nova permitiu-nos conhecer a Deus, descobrindo o sentido da
nossa vida na Vida de Cristo, onde todos os limites humanos foram superados, ao
dar-nos acesso a Deus, rompendo para sempre a barreira do pecado.
Sem este anúncio e esta graça, a nossa esperança por uma
Vida Nova, seria vã, não passaria de uma grande utopia, uma fantasia e ilusão
que um belo dia chegaria ao seu final, mas o homem que vive pela fé, a comunhão
com Cristo, sabe em seu coração que não caminha para o fracasso da morte e esta
esperança viva é que dá a esta vida terrena um sentido novo.
Portanto, nossa Vida está em Cristo porque nele nos
movemos e somos, sem ele, nossa caminhada terrena não passa de um cortejo
fúnebre, onde somos como um morto vivo, caminhando para a ruína da morte
biológica, para ser devorado pela terra.
A vida do homem que tomou a decisão de viver sem Deus,
ignorando esta Salvação e Libertação oferecida por Jesus, é muito triste, porque
ele se ilude com toda pompa que esta vida oferece, satisfazendo seus desejos
egoístas, colocando toda sua esperança nas coisas que passam, e no final,
descobre que foi enganado, quando percebe que caminha para a morte. Mas nunca é
tarde para reverter esse quadro doloroso, pois, para quem caminha assim, como se
fosse um corpo sem vida, irradiando tristeza e dor aos que o acompanham, o
evangelho desse domingo anuncia algo maravilhoso: no sentido contrário, vem
chegando Cristo Jesus, Senhor da Vida, aquele que movido de compaixão, como na
entrada da cidade de Naim, irá dizer a viúva e aos que a seguiam no enterro de
seu filho: não chores!
Hoje há tantas mães caminhando tristes, levando seus
filhos para a sepultura, há tanta gente caminhando cabisbaixa, sem uma
perspectiva de vida e sem esperança no coração. Não chores mais – diz o Senhor,
que ao tocar no esquife, que são as misérias do homem, dirá com firmeza “Moço,
eu te ordeno, levanta-te!”.
E diante de sua palavra libertadora e restauradora, o
homem renasce e se torna uma nova criatura, só Cristo é a nossa vida, só ele tem
a palavra de ordem, capaz de nos levantar de todos os nossos pecados que querem
nos arrastar inexoravelmente para a morte. Longe de Deus e da sua Salvação
oferecida por Jesus, iremos fatalmente morrer, mas com ele teremos a Vida
Eterna, que extrapola os nossos limites e nos reconduz ao paraíso da plenitude,
resgatando a nossa imagem e semelhança com que fomos criados por Deus.
É missão nossa como Igreja anunciar a toda criatura esta
vida que vem de Jesus, mas isso só será possível se como ele, tivermos no
coração essa compaixão, que nos leve a sofrer e chorar com quem sofre e chora,
onde um sorriso, um abraço, uma palavra de consolo ou um gesto de caridade,
sempre feito em nome de Jesus, terá a mesma força de sua palavra libertadora,
capaz de levantar quem se julga morto. O cristão, como qualquer ser humano,
também pranteia seus mortos, mas a diferença está naquilo que ele espera: a
plenitude da Vida, reservada aos que crêem que esta vida é uma peregrinação para
a casa do Pai, predestinados que fomos desde toda a eternidade.
Diácono José da Cruz
ORAÇÃO
Pai, torna-me sensível ao sofrimento e à dor de cada pessoa que encontro no meu caminho. Que a minha compaixão se demonstre com gestos concretos.
Pai, torna-me sensível ao sofrimento e à dor de cada pessoa que encontro no meu caminho. Que a minha compaixão se demonstre com gestos concretos.
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