Jesus, com seus discípulos, havia ampliado sua missão aos
territórios gentílicos vizinhos da Galileia, tendo chegado bem ao norte, próximo
a Cesareia de Filipe. A partir daí, decide dirigir-se a Jerusalém, ao sul, para
proclamar a sua Boa-Nova aos peregrinos que ali chegavam em vista de participar
da festa judaica da Páscoa, que se aproximava. Com este propósito Jesus e os
discípulos atravessam novamente a Galileia.
Neste contexto, as narrativas de Marcos marcarão o contraste
entre a mentalidade dos discípulos e a novidade de Jesus. Os discípulos
esperavam de Jesus ações de poder e glória terrena, o que chocava com a proposta
do próprio Jesus de humildade e serviço, com a doação da própria vida.
Jesus pressente a repressão e o fim que o esperam em Jerusalém,
onde será posto à prova pelos chefes religiosos do Templo. No caminho para a
cidade, prepara os discípulos para suportarem o possível desfecho trágico.
Assim, fala a eles sobre o Filho do Homem, referindo-se a si mesmo, que será
entregue e o matarão. Jesus já havia advertido os discípulos sobre tal
expectativa quando tentava desfazer a compreensão de Pedro de que ele seria um
messias poderoso e glorioso (primeiro "anúncio da Paixão", cf. 16 set.). E,
ainda, repetirá, novamente, sua advertência quando já se aproximavam de
Jerusalém (terceiro "anúncio da Paixão", cf. 21 out.).
Com isto Jesus expressa sua fragilidade diante dos poderosos
deste mundo, descartando qualquer competição pelo poder. Completa com a menção
da ressurreição, aludindo ao dom da vida de amor que não se extingue, porém os
discípulos não compreendem e têm medo de perguntar.
Os discípulos estão fixados na ideologia do messias poderoso,
um novo Davi que restauraria o reino de Israel, e, esperando de Jesus a ascensão
ao poder, disputam qual seria, então, o maior, isto é, quem ocuparia os cargos
mais importantes. São os anseios antagônicos à proposta de Jesus que provocam
conflitos na comunidade e, de maneira mais ampla, no mundo, onde os ímpios
ambiciosos da riqueza e do poder fazem a guerra e semeiam a morte (cf. segunda
leitura), tornando-se loucos e frustrados. A vida do ímpio, o qual reprime e
mata o justo, pelo qual se sente ameaçado, é bem retratada no capítulo 2 do
livro da Sabedoria, de onde foi extraída a primeira leitura da liturgia de
hoje.
Jesus chama os Doze e, invertendo os critérios de competição,
reafirma a característica essencial do Reino: a humildade e o serviço como
concretização do amor. É neste amor que está a realização e a grandeza de cada
um. Ao tomar uma criança e abraçá-la, com carinho, Jesus está se identificando
com ela. A criança, do ponto de vista de uma sociedade de eficiência e produção,
é considerada inútil e marginalizada. Jesus convida a todos a se tornarem
crianças, na humildade, na simplicidade, na fraternidade e na abertura para o
novo, com esperança e alegria, e, com esta opção, estão acolhendo Jesus e
entrando em comunhão com Deus.
(José Raimundo Oliva - Portal Paulinas)
Oração
Pai, tira do meu coração os ideais mundanos de glória, e coloca-me no verdadeiro caminho para ser glorificado por ti, fazendo-me servidor de todos.
Pai, tira do meu coração os ideais mundanos de glória, e coloca-me no verdadeiro caminho para ser glorificado por ti, fazendo-me servidor de todos.
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