Pela variedade de temas neste texto, pode-se supor que se trata
de uma compilação do evangelista Marcos, talvez a partir de exortações
catequéticas veiculadas pelas tradições das comunidades primitivas.
Conforme o evangelista, tendo estado nos povoados de Cesareia
de Filipe, ao norte da Galileia, Jesus com seus discípulos, retornando ao sul
com destino a Jerusalém, passam por Cafarnaum. Falando em nome dos demais, João,
um dos doze apóstolos, diz a Jesus que, vendo alguém que expulsava demônios em
nome dele, o haviam impedido porque tal pessoa não pertencia ao grupo. Na
primeira leitura de hoje, temos uma narrativa semelhante que termina com a
proclamação de Moisés: "Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que
o Senhor lhe concedesse o seu espírito!".
A expulsão de demônios significava a libertação de pessoas
oprimidas e atormentadas pelo sistema sociorreligioso em que viviam. Os próprios
discípulos haviam falhado nesta ação libertadora (Mc 9,18) e, agora, impediam
outros de agirem assim. Com isto, negam o projeto de Jesus. Pela narrativa
percebe-se que havia pessoas que tinham fé em Jesus, possivelmente gentios da
Galileia, e agiam em seu nome, embora não pertencessem aos doze que circundavam
Jesus.
Os Doze, aqui representados por João, ainda estão apegados à
esperança messiânica davídica segregacionista, característica da tradição do
Primeiro Testamento, e rejeitam aqueles que estão fora do grupo. Jesus os
repreende, pois a missão não está no proibir, mas, sim, no valorizar todos os
gestos e todas as práticas libertadoras e promotoras da vida, mesmo que sejam
praticadas por pessoas que estejam fora dos grupos missionários confessionais.
Há quem julgue que o missionário é aquele que tem a salvação e vai levá-la aos
pecadores; é perito na doutrina e vai ensinar os que a ignoram; recebe um poder
com o qual vai dar eficiência à missão. Pelo contrário, cabe à missão, a exemplo
de Jesus, reconhecer, valorizar e solidarizar-se com as manifestações de vida,
de busca da liberdade e da justiça, onde quer que floresçam. Em qualquer povo,
em qualquer cultura, em qualquer tempo.
A seguir, no texto de Marcos, com caráter catequético, temos
uma fala de Jesus estimulando a acolhida a todos aqueles que vêm em seu nome. As
sentenças sobre a queda dos pequenos são orientações para prevenir escândalos
dentro da própria comunidade de discípulos. As alusões às quedas pela mão ou
pelo olho são simbólicas, com variado sentido. Podem indicar más ações e
aspirações de poder e prestígio. Os anúncios finais de condenação não condizem
com a índole misericordiosa e compassiva de Jesus, indicando tratar-se de
adaptações tardias das comunidades de origem do judaísmo, pois refletem o deus
do Primeiro Testamento que é o "Terror de Isaac" (Gn 31,42), que castiga e
condena. A queda dos pequenos muitas vezes é provocada pelos ricos, que vivem
luxuosamente, entregues à boa vida, condenando o justo e o assassinando (segunda
leitura).
(José Raimundo Oliva - Portal Paulinas)
Oração
Senhor Jesus, faze-me alegrar com o Reino que dá seus frutos, na história humana, das formas mais imprevistas, para além do controle humano.
Senhor Jesus, faze-me alegrar com o Reino que dá seus frutos, na história humana, das formas mais imprevistas, para além do controle humano.
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