Podemos perceber que Marcos, ao escrever seu evangelho, teve a
intenção de caracterizar três etapas do ministério de Jesus. A primeira, até o
capítulo 8, versículo 21, envolvendo o ministério de Jesus na Galileia e nas
regiões gentílicas vizinhas, abrange desde o batismo de João até a passagem por
Betsaida; é uma fase de formação dos discípulos, e a palavra chave é a "casa",
mencionada frequentemente como lugar onde a comunidade se encontra com Jesus. A
segunda etapa, do capítulo 8, versículo 22, ao capítulo 10, versículo 52, que
envolve a viagem com destino a Jerusalém, a partir de Betsaida e dos povoados de
Cesareia de Filipe, ao norte da Galileia; nesta etapa a palavra-chave é o
"caminho", repetida várias vezes, ao longo do qual Jesus prepara os discípulos
para o desfecho de seu ministério em Jerusalém, destacando-se nesta etapa os
três "anúncios da Paixão" (Mc 8,31-32; 9,30-32; 10,32-34; cf. 30 maio). A
terceira etapa, a partir do capítulo 11, abrange o ministério de Jesus em
Jerusalém, culminando com a Paixão, morte e ressurreição.
A leitura de hoje, com a cura do cego de Jericó, fecha a
segunda etapa do ministério de Jesus, cujo início foi demarcado também com a
cura de um cego em Betsaida. Com este artifício literário, incluindo a caminhada
para Jerusalém entre duas curas de cegos, Marcos realça que Jesus está empenhado
em abrir os olhos dos próprios discípulos quanto à natureza de sua missão no
mundo.
Nesta caminhada, aproximando-se de Jerusalém, passam por
Jericó, situada a cerca de 25 km daquela cidade de destino. Os discípulos
acompanham Jesus, sem ainda compreender, com clareza, o sentido pleno de sua
missão, pois tinham dele uma visão messiânica triunfalista.
A narrativa da cura é feita em cores vivas, como em uma cena
teatral: a multidão que acompanha Jesus; o cego, mendigo, sentado à beira da
estrada; seus gritos insistentes, indiferente à repreensão de muitos; o chamado
de Jesus e o seu pulo, jogando o manto fora, concluindo com a recuperação da
visão.
Pode-se imaginar que os mendigos de Jericó se instalassem à
beira do caminho que, vindo do norte, levava a Jerusalém, contando com a
benevolência e a piedade dos peregrinos, que, em grandes grupos, viajavam para a
cidade a fim de cumprir o preceito de participação na festa da Páscoa judaica,
no Templo.
O cego que estava à beira do caminho, de certo modo, é a imagem
destes discípulos em sua incompreensão. Ele "vê", equivocadamente, Jesus como o
"Filho de Davi", messias poderoso e triunfante da tradição judaica do Primeiro
Testamento. Contudo, este homem quer libertar-se de sua cegueira. Jesus
pergunta-lhe: "Que queres que eu te faça?". Esta pergunta havia sido dirigida,
pouco antes (cf. 30 maio) a Tiago e João, cuja resposta revela que, cegamente,
aspiravam ao poder. Bartimeu, simplesmente, quer "ver", e, vendo Jesus Nazareno
com clareza, ele o segue em seu caminho.
Nossa fé consiste em "ver" Jesus presente, hoje, no mundo,
humilde e amoroso, caminhando com seus discípulos na construção de um mundo novo
de justiça e paz.
(José Raimundo Oliva - Portal Paulinas)
Oração
Pai, dá-me forças para lutar contra a cegueira que me impede de reconhecer teu amor misericordioso manifestado em Jesus. Faze com que eu veja!
Pai, dá-me forças para lutar contra a cegueira que me impede de reconhecer teu amor misericordioso manifestado em Jesus. Faze com que eu veja!
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