“Fortalecei
os vossos corações” (Tg 5,8)
Irmãos, leitores e
leitoras, estejam no coração e na vida de cada um, de cada uma, a paz e a graça
de Deus Pai, Filho e Espírito Santo!
Durante todo o mês de
março vivenciaremos o tempo da Quaresma, o “momento favorável” ao qual se
refere São Paulo na Segunda Carta aos Coríntios (2Cor 6,2), conforme lembramos
na Carta passada. Nessa mesma carta propusemos uma breve reflexão sobre o tripé
quaresmal, isto é, sobre o Jejum, a Oração e a Caridade (Esmola). Sobre a
Campanha da Fraternidade proposta pela Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil para a Quaresma 2015 tendo por tema: “Fraternidade, Igreja e Sociedade” e por lema: “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45) supõe-se já amplo conhecimento
e reflexão facilitados pelas Dioceses, Paróquias e Comunidades eclesiais. Por
isso, proponho que nesta Carta relembremos a importante Mensagem do Papa
Francisco para esta Quaresma e reflitamos sobre como vivenciá-la sobretudo como
participantes no Movimento de Cursilhos. Pela necessária limitação de espaço,
deixo para nossa próxima Carta a continuidade da reflexão que estamos propondo acerca
da Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” (EG).
A Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2015. A citação da Palavra de Deus que
encabeça esta Carta é a mesma da abertura da Mensagem quaresmal do Papa
Francisco. O luminoso foco dessa Mensagem está num ponto nem sempre ou muito
pouco lembrado quando se analisa a atual situação da Igreja católica na
sociedade e na vida de cada católico. Tanto dos que se dizem fieis à Igreja,
quanto daqueles que dela se afastaram. O foco está na “globalização da indiferença”. Lembremos a introdução da mensagem
onde o Papa, quase que definindo a indiferença, mostra a sua globalização.
Referindo-se, primeiramente ao amor de Deus para conosco, assim se expressa: “Ele não nos olha com indiferença;
pelo contrário, preocupa-se com cada um de nós, conhece-nos pelo nome, cuida de
nós e vai à nossa procura, quando O deixamos. Interessa-Se por cada um de nós;
o seu amor impede-Lhe de ficar indiferente perante aquilo que nos acontece”.
Em seguida, o Papa mostra a
atitude de muitos de nós e suas consequências que acabam por adquirir “dimensão mundial”: “Coisa diferente se passa conosco! Quando
estamos bem e comodamente instalados, esquecemo-nos certamente dos outros
(isto, Deus Pai nunca o faz! ), não nos interessam os seus problemas, nem as
tribulações e injustiças que sofrem; e, assim, o nosso coração cai na indiferença:
encontrando-me relativamente bem e confortável, esqueço-me dos que não estão
bem!”. Hoje, esta atitude egoísta de
indiferença atingiu uma dimensão mundial tal que podemos falar de uma
globalização da indiferença. Trata-se de um mal-estar que temos obrigação, como
cristãos, de enfrentar”.
E, como que para nos despertar, o Papa chama a voz dos profetas: “Quando o povo de Deus se converte ao seu amor, encontra resposta para as
questões que a história continuamente nos coloca. E um dos desafios mais
urgentes, sobre o qual quero deter-me nesta Mensagem, é o da globalização da
indiferença. Dado que a indiferença para com o próximo e para com Deus é uma
tentação real também para nós, cristãos, temos necessidade de ouvir, em cada
Quaresma, o brado dos profetas que levantam a voz para nos despertar. A Deus
não Lhe é indiferente o mundo, mas ama-o até ao ponto de entregar o seu Filho
pela salvação de todo o homem”.
Desenvolvendo o corpo da Mensagem, o Papa o faz em três pontos inspirados
na Palavra de Deus:
1º. À Igreja: “Se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros” (1 Cor 12,26). “Nesta (na Eucaristia), tornamo-nos naquilo
que recebemos: o corpo de Cristo. Neste corpo não encontra lugar a tal
indiferença que, com tanta frequência, parece apoderar-se dos nossos corações;
porque quem é de Cristo pertence a um único corpo e, n’Ele, um não olha com
indiferença o outro”. E continua o Papa: “A
Igreja é “communio sanctorum”, não só porque, nela, tomam parte os Santos mas
também porque é comunhão de coisas santas: o amor de Deus, que nos foi revelado
em Cristo, e todos os seus dons; e, entre estes, há que incluir também a
resposta de quantos se deixam alcançar por tal amor. Nesta comunhão dos Santos
e nesta participação nas coisas santas, aquilo que cada um possui, não o
reserva só para si, mas tudo é para todos. E, dado que estamos interligados em
Deus, podemos fazer algo mesmo pelos que estão longe, por aqueles que não
poderíamos jamais, com as nossas simples forças, alcançar: rezamos com
eles e por eles a Deus, para que todos nos abramos à sua obra de salvação”.
2º. Às paróquias e Comunidades: “Onde está o teu irmão?” (Gn 4,9.
Este parágrafo é como que a continuidade do anterior, pois seu viés é
comunitário como aquele. Eis o ponto fundamental colocado logo no início: “Tudo o
que se disse a propósito da Igreja universal é necessário agora traduzi-lo na
vida das paróquias e comunidades. Nestas realidades eclesiais, consegue-se
porventura experimentar que fazemos parte de um único corpo? Um corpo que,
simultaneamente, recebe e partilha aquilo que Deus nos quer dar? Um corpo que
conhece e cuida dos seus membros mais frágeis, pobres e pequeninos? Ou
refugiamo-nos num amor universal pronto a comprometer-se lá longe no mundo, mas
que esquece o Lázaro sentado à sua porta fechada (cf. Lc 16,19-31)? Para
receber e fazer frutificar plenamente aquilo que Deus nos dá, deve-se
ultrapassar as fronteiras da Igreja visível em duas direções”. Quais direções? A primeira é “unindo-nos à Igreja do Céu na oração” e a segunda é que “cada comunidade cristã é chamada a
atravessar o limiar que a põe em relação com a sociedade circundante, com os
pobres e com os incrédulos”. E quase como que um propósito para toda a
Quaresma, o Papa expressa assim seu desejo: “Amados
irmãos e irmãs, como desejo que os lugares onde a Igreja se manifesta,
particularmente as nossas paróquias e as nossas comunidades, se tomem ilhas de
misericórdia no meio do mar da indiferença!”
3º. A cada um dos
fieis: “Fortalecei os
vossos corações” (Tg 5,8). Se todos os aspectos anteriores da “globalização da
indiferença”, são importantes, este, sem dúvida, sobressai pelo questionamento
pesoal sobre o mal da indiferença. Pois, de atitudes pessoais é que resultam
projetos comuns tanto da Igreja como das Paróquias e Comunidades. Assim se
exprime a Mensagem a respeito das reações de cada fiel: “Também como indivíduos temos a
tentação da indiferença. Estamos saturados de notícias e imagens
impressionantes que nos relatam o sofrimento humano, sentindo ao mesmo tempo
toda a nossa incapacidade de intervir. Que fazer para não nos deixarmos
absorver por esta espiral de terror e impotência? Em primeiro lugar, podemos
rezar na comunhão da Igreja terrena e celeste. Não subestimemos a força da
oração de muitos! A iniciativa 24 horas para o Senhor, que espero se celebre em
toda a Igreja - mesmo em nível diocesano - nos dias 13 e 14 de Março, pretende
dar expressão a esta necessidade da oração. Em segundo lugar, podemos levar
ajuda, com gestos de caridade, tanto a quem vive próximo de nós como a quem
está longe, graças aos inúmeros organismos caritativos da Igreja. A Quaresma é
um tempo propício para mostrar este interesse pelo outro, através de um sinal -
mesmo pequeno, mas concreto - da nossa participação na humanidade que temos em
comum. E, em terceiro lugar, o sofrimento do próximo constitui um apelo à
conversão, porque a necessidade do irmão recorda-me a fragilidade da minha
vida, a minha dependência de Deus e dos irmãos”.
Sugestão
para reflexão pessoal e/ou em grupo. Caso
for possível, ler no grupo, trocando impressões, todo o texto da Mensagem.
Pode-se aproveitar todo o tempo quaresmal para este exercício, procurando
aplicar o conteúdo da Mensagem quer na Igreja ou na Paróquia e Comunidade, quer
particularmente no aspecto pessoal. Entretanto, fica aqui uma sugestão
referente ao Movimento de Cursilhos e relacionada com a questão da
“globalização da indiferença”: sendo sinceros e coerentes, nossos grupos do MCC
tem pensado e contribuído apenas para o crescimento pessoal de seus participantes,
ajudando, com isso, a ‘criar ilhas de indiferença e de seguranças exclusivas’
em lugar de, como deseja o Papa, “tornar-se ilhas de misericórdia no meio do
mar da indiferença”?
Com meu abraço
fraterno, termino a todos desejando uma vivência compromissada neste
privilegiado tempo da Quaresma para superar, dentro de nossas limitações, a
“globalização da indiferença!
Pe. José Gilberto BERALDO
Equipe
Sacerdotal do Grupo Executivo Nacional – GEN –
Movimento
de Cursilhos do Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário