“Esta é a luz verdadeira, que vindo ao mundo a todos ilumina.
Ela estava no mundo, e o mundo foi feito por ela, mas o mundo não a
reconheceu. Ela veio para o que era seu, mas os seus não a acolheram. A quantos, porém, a acolheram,
deu-lhes o poder de se tonarem filhos de Deus: são os que creem em seu nome. Estes foram gerados não do
sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo
1,9-12).
Muito
amados irmãos e irmãs, leitores e leitoras assíduos em frequentar estas nossas
Cartas mensais:
Nossa
reflexão neste mês dezembro - como, aliás, acontece todos os anos -, tem como
referência obrigatória dois acontecimentos: o primeiro, fim do Ano litúrgico e
início de um novo ano com o Advento, importante tempo de preparação e
expectativa, e o segundo, o Natal, celebração fundamental de nossa fé cristã.
1. Advento. Reza um
conhecido provérbio popular que “o melhor da festa é esperar por ela”. Se isto
é verdade para qualquer acontecimento importante histórico ou pessoal, longa e
ansiosamente esperado, o é, também, mas muito relativamente, com as celebrações
cristãs do Natal. Pois, o importante aqui, é a festa do nascimento do Filho de
Deus. Na liturgia católica há dois momentos significativos de expectativa e
preparação, a saber, a Quaresma e o Advento. Alguns
“olhares” que poderão ajudar-nos nesta preparação:
a)
Um olhar para o ano passado. Acabamos de
viver o Ano da Fé, isto é, o Ano da Palavra. Ao lançarmos um olhar para nós mesmos,
podemos nos perguntar se trabalhamos de verdade para o amadurecimento e
aprofundamento de nossa fé: “A quantos,
porém, a acolheram, deu-lhes o poder de se tonarem filhos de Deus: são os que
creem em seu nome”.
Como foi a sua
fidelidade no seguimento dos passos de Jesus, isto é, da
Palavra, durante o ano que passou? E sua participação na sua Comunidade de fé? Lembremo-nos que sempre é
tempo de exprimir a Jesus e à nossa comunidade
de fé um pedido de perdão e, ao mesmo tempo, de
imensa gratidão por todos os dons recebidos.
Passado este
ano, quase como um questionamento pessoal, podemos lembrar algumas palavras de
Bento XVI na Carta Apostólica Porta Fidei: “Ao longo deste
tempo, manteremos o olhar fixo sobre Jesus Cristo, «autor e consumador da fé» (Heb 12, 2): n’Ele encontra plena
realização toda a ânsia e anélito do coração humano. A alegria do amor, a
resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do perdão face à
ofensa recebida e a vitória da vida sobre o vazio da morte, tudo isto encontra
plena realização no mistério da sua Encarnação, do seu fazer-Se homem, do
partilhar conosco a fragilidade humana para a transformar com a força da sua
ressurreição. N’Ele, morto e ressuscitado para a nossa salvação, encontram
plena luz os exemplos de fé que marcaram estes dois mil anos da nossa história
de salvação”.
b) Um olhar
para o presente. O Advento é mais um tempo que Senhor nos concede
para que renovemos nossa esperança à luz da fé. A esperança de um mundo novo
querido e anunciado pelo Pai ao enviar seu Filho amado para caminhar conosco
anunciando um Reino de amor, de fraternidade, de justiça, de perdão e de paz. À
medida que esta esperança ilumina nossa vida, vamos comprometendo-nos para que,
nos limites de nossas condições de vida, façamos acontecer o Reino de Deus ao
nosso redor: na família, no trabalho, na vida de relações sociais, etc.
Entramos, assim, num clima de renovação de nossa fé e de nossa esperança. Entretanto, não podemos deixar de lembrar o chamado, insistido e
proclamado “espírito de natal” que uma cultura já semi paganizada visa a impor
a uma sociedade declaradamente materialista, relativista e consumista. Por
inútil
deixo
de me referir em detalhes a uma preparação paganizada para
o natal. Isto é, uma preparação que já começou há meses visando, única e
exclusivamente, ao consumo, à satisfação do ter e, infelizmente (quem sabe,
até, inconscientemente?), ao culto de deuses estranhos à cultura cristã – papais noeis, trenós, lâmpadas pisca-piscas, etc.. A isto
se insiste em chamar de “espírito de natal”! Nada mais
é do que quase uma imposição para o consumo de charmosas inutilidades
destinadas a preencher o vazio interior e a saciar a sede do ter que, quase
sempre, leva ao esbanjamento próprio de quem não descobriu - ou se a descobriu
dela se esqueceu – “uma fonte de água
viva jorrando para a vida eterna”! (cf.Jo
4, 14). É atitude típica daqueles que
preferem sujeitar-se à escravidão das confortáveis leis do consumo do que viver
plenamente a liberdade dos filhos de Deus concretizada no amor serviçal e doado.
“Ela (a Palavra) veio para o que era seu,
mas os seus não a acolheram”.
2.
Natal. Ao
mesmo tempo em que, agora, no Advento, tratamos de
olhar para o passado e para o presente, o olhar para o Natal já
daqui a poucos dias, reassume a ambos e descortina o olhar para o futuro. Por
quê? Porque Jesus, aquele que vai
nascer, aquele que esperamos no Natal de 2013 (2014 do Ano litúrgico), é aquele
que já está conosco, já vive no meio de nós, é sensível às nossas dores e
alegrias, deseja um mundo mais humano e mais digno para todos
porque “Jesus Cristo é o mesmo, ontem,
hoje e sempre” (Carta aos Hebreus 13,8).
Nunca, mas
nunca mesmo nos esqueçamos de que Deus, por Jesus, começa a salvar e a libertar
a humanidade a partir de sua encarnação no humano. Pobre e perseguido desde o
nascimento, é assim, que Ele se identifica com suas criaturas; não a partir de
cima, dos “altos céus” mas a partir dos pés no chão de nossas próprias
debilidades e limitações humanas. É isso mesmo que nos lembra o
Papa Bento XVI:
“A
tradição patrística e medieval, contemplando esta «Cristologia da Palavra»,
utilizou uma sugestiva expressão: O Verbo abreviou-Se. «Na sua tradução grega do Antigo
Testamento, os Padres da Igreja encontravam uma frase do profeta Isaías – que o
próprio São Paulo cita – para mostrar como os caminhos novos de Deus estivessem
já preanunciados no Antigo Testamento. Eis a frase: “O Senhor compendiou a sua
Palavra, abreviou--a” (Is 10,
23; Rm 9, 28). (…) O próprio
Filho é a Palavra, é o Logos: a Palavra eterna fez-Se
pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez--Se criança, para que a
Palavra possa ser compreendida por nós». Desde então a Palavra já não é apenas
audível, não possui somente uma voz;
agora a Palavra tem um rosto, que por isso mesmo podemos
ver: Jesus de Nazaré”.
Por isso, o Natal é tempo daquela
alegria que ultrapassa todos os limites de outras alegrias superficiais e
transitórias; é tempo daquelas luzes deslumbrantes que jamais se apagam aos
olhos dos seguidores do Menino; é tempo daqueles cantos jubilosos entoados e
cantados pelos anjos celestiais e ouvidos pelas comunidades orantes, mas,
sobretudo, ouvido no segredo dos corações dos que amam e se identificam com o
Menino da manjedoura: “Glória a Deus nos
mais alto dos céus, e na terra, paz aos que são do seu agrado” (Lc 2,14).
Vamos, então, vibrando de alegria em mais um Natal, acolher a Palavra: “A quantos, porém, a acolheram (a
Palavra), deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus: são os
que creem no seu nome...E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós. Nós
vimos a sua glória, glória que recebe do seu Pai como filho único, cheio de
graça e de verdade” (Jo 1,12.14).
Não seria
possível terminar nossa reflexão sem numa referência à Mãe do Menino, Maria.
Nada mais oportuna, portanto, do que a palavra do mesmo Papa Bento XVI: “Contemplando na Mãe de Deus uma vida
modelada totalmente pela Palavra, descobrimo-nos também nós chamados a entrar
no mistério da fé, pela qual Cristo vem habitar na nossa vida. Como nos recorda
Santo Ambrósio, cada cristão que crê, em certo sentido, concebe e gera em si
mesmo o Verbo de Deus: se há uma só Mãe de Cristo segundo a carne, segundo a
fé, porém, Cristo é o fruto de todos. Portanto, o que aconteceu em Maria pode
voltar a acontecer em cada um de nós diariamente na escuta da Palavra e na
celebração dos Sacramentos”.
A todos desejo um Santo Natal com a Virgem Maria e São José que nos acolhem à beira do presépio onde repousa o Menino que beijamos com todo o carinho do nosso coração.
Pe.José Gilberto BERALDO
Equipe
Sacerdotal do Grupo Executivo Nacional - MCC Brasil
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