Caríssimos
leitores e leitoras,
É
possível que, ao se deparar com o texto paulino acima algum leitor o ache
estranho ou, pelo menos, fora de lugar. Na realidade seu objetivo é motivar uma
reflexão sobre uma realidade fundamental da vida humana que é o trabalho. E,
por quê? Porque, ao celebrar no dia Primeiro de Maio o DIA DO TRABALHO, dele
podemos encontrar algumas repercussões durante todo o mês. Sua repercussão
encontra eco no dia a dia de cada homem, da cada mulher na luta cotidiana pela
própria vida e pela vida dos seus e da própria sociedade.
Desejo,
pois, partilhar algumas ideias que já externei num artigo recente e que me
parecem oportunas nesta ocasião na qual a Igreja propõe como modelo do
trabalhador ninguém menos que o pai adotivo de Jesus, São José. São José
Operário. Vamos partir de um tema abrangente para os que deixam iluminar suas
vidas pela fé. Melhor, para os que querem ver a realidade com os olhos de Deus:
o trabalho humano visto com os olhos de Deus. De fato, esta atitude convém aos
que nEle creem e que com Seu projeto de amor querem modelar suas vidas.
Evidentemente, não é possível tratar aqui de todas as implicações
sociais do trabalho e de suas consequências, a maioria das quais, de algum
modo, experimentadas na própria pele por milhões de trabalhadores pelo mundo e
– porque não? – aqui também no Brasil: injustiças, exploração e escravização de
todos os tipos, desemprego cada vez mais acentuado, salários ainda que legais,
mais absolutamente injustos e indignos, desrespeito à pessoa gerando revolta e,
muitas vezes, até violência,
1. Trabalho e projeto de Deus na Bíblia. Ao entregar a terra às suas
primeiras criaturas humanas, o Senhor deu-lhes o poder de submetê-la (cf. Gn
3,28). É o primeiro indício da lei do trabalho. Entretanto, na raiz do peso do
trabalho estão a ingratidão e a desobediência dos nossos primeiros pais. Mas é
nessa mesma raiz que vamos encontrar o projeto de Deus para suas criaturas: “Comerás o pão com o suor do teu rosto, até
voltares ao solo do qual foste tirado” (Gn 3, 19. Assim, percorrendo o
Antigo Testamento deparamo-nos com inúmeros textos referentes ao trabalho
humano, ao seu peso, mas, também, à sua dignidade e ao seu valor. A construção do Templo de Javé, em Jerusalém,
das Sinagogas, o apascentar as ovelhas nos campos e montanhas, o cultivo da terra
para que produza frutos para sustento das comunidades, etc.. Tudo enobrece o
trabalho do povo eleito e Deus o acompanha e encoraja enviando o tempo
favorável para colheitas abundantes e suficientes para todo o povo.
2. Jesus, operário como seu pai adotivo, São
José: “Não é ele o filho do carpinteiro?”
(Mt 12,55; cf. Mc 6,3). A pessoa e o testemunho
de vida de Jesus, sobretudo nos seus primeiros trinta anos, santificaram o
trabalho de suas mãos. Além do conhecido trabalho diário em Nazaré, supõem
alguns historiadores que no tempo de Jesus, devido à construção, na Palestina,
de uma cidade gigantesca chamada Séphora, recrutava-se mão de obra de todas as
partes e que José e Jesus também teriam ali trabalhado por algum tempo. Seria, mais ou menos, como na construção da
nossa Brasília, para onde afluíam operários recrutados de todos os cantos do
país – os famosos candangos. Jesus e José poderiam ter sido como “candangos” do
seu tempo. O fundamental para nós é que, trabalhando arduamente na sua
carpintaria ao lado seu pai adotivo, Jesus santificou o trabalho, dele fazendo
não apenas uma obrigação imprescindível para o sustento da família mas,
sobretudo, um precioso meio de santificação e de testemunho de solidariedade.
3. O trabalho nos Documentos do Magistério da Igreja.
Além de outros documentos,
dois sobressaem pela importância e pelas orientações pastorais neles contidas.
O primeiro é a Encíclica RERUM NOVARUM SOBRE A CONDIÇÃO DOS OPERÁRIOS, do Papa
Leão XIII, de 15 de Maio de 1891, na qual o Papa manifesta sua preocupação
tanto com as condições dos operários tratados quase como escravos como com as
opressoras condições de trabalho a que eram obrigados para sobreviver, saindo
de uma cultura agrícola para uma cultura totalmente nova, a da conhecida
Revolução Industrial.
O segundo Documento, tão
importante quanto o primeiro - ou, quem sabe, até mais por sua atualidade - é a
Encíclica LABOREM EXERCENS SOBRE O TRABALHO HUMANO NO 90º. ANIVERSÁRIO DA RERUM
NOVARUM, do Papa São João Paulo II, de 14 de Setembro de 1981. Como motivação
para a leitura de toda esta importante encíclica, reproduzo sua introdução: “É
MEDIANTE O TRABALHO que o homem deve procurar-se o pão quotidiano e contribuir
para o progresso contínuo das ciências e da técnica, e sobretudo para a
incessante elevação cultural e moral da sociedade, na qual vive em comunidade
com os próprios irmãos. E com a palavra trabalho é indicada toda a atividade
realizada pelo mesmo homem, tanto manual como intelectual, independentemente
das suas características e das circunstâncias, quer dizer toda a atividade
humana que se pode e deve reconhecer como trabalho, no meio de toda aquela
riqueza de atividades para as quais o homem tem capacidade e está predisposto
pela própria natureza, em virtude da sua humanidade. Feito à imagem e
semelhança do mesmo Deus no universo visível e nele estabelecido para que
dominasse a terra, o homem, por isso mesmo, desde o princípio é chamado ao
trabalho. O trabalho é uma das características que distinguem o homem do resto
das criaturas, cuja atividade, relacionada com a manutenção da própria vida,
não se pode chamar trabalho; somente o homem tem capacidade para o trabalho e
somente o homem o realiza preenchendo ao mesmo tempo com ele a sua existência
sobre a terra. Assim, o trabalho comporta em si uma marca particular do homem e
da humanidade, a marca de uma pessoa que opera numa comunidade de pessoas; e
uma tal marca determina a qualificação interior do mesmo trabalho e, em certo
sentido, constitui a sua própria natureza”.
Ambas as encíclicas são
orientadoras originais da Doutrina Social da Igreja, sobre a qual e com
frequência, tratam alguns importantes documentos da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil - CNBB.
4. Dia 1º. De Maio, Dia de São José Operário. Visando a imprimir um
sentido mais evangélico e cristão ao Dia do Trabalho e a despertar a
consciência da dignidade do trabalhador, a Igreja preocupou-se em dar a esse
dia a oportunidade de uma reflexão e de um conteúdo mais elevado, apresentando
o modelo de operário na pessoa de São José. Pio XII o declarou patrono dos
trabalhadores e o Papa São João XXIII declarou São José patrono da Igreja. É
assim que, no mesmo dia 1º. de Maio a Igreja Católica celebra o Dia de São José
Operário. Estas sábias iniciativas
lembram que o trabalho não deve ser tratado, apenas, como um necessário e justo
meio de sobrevivência ou, ainda, de mera acumulação de bens em detrimento de
tantos milhões de empobrecidos ou somente como realização pessoal e
profissional, mas, sobretudo, como meio de santificação e como instrumento de
construção de uma sociedade mais justa e mais solidária.
Oração: São José Operário, rogai por todos os operários deste nosso Brasil:
pelos empregados e pelos milhões de desempregados; pelos injustiçados e pelos
empobrecidos pelo salário indigno bem como por suas famílias e dependentes. E
iluminai os empresários e empregadores para que se deixem conduzir pelos
valores do Evangelho e não pela tentação da exploração da mão de obra de seus
irmãos ou pela tentação do lucro fácil à custa do suor e das lágrimas de tantos!
5. Maio, mês
mariano. Maria, a serva do Senhor.
Maria, a Mãe do Filho de Deus encarnado. Maria, a bendita entre todas as
mulheres. Maria, a sofredora ao pé da cruz, deixando que, por amor, uma espada
lhe atravessasse o coração. Maria, a servidora da santa Família. Maria, a dona
de casa perfeita: lavar, cozinhar, limpar, entregar-se ao serviço do Reino...
Maria, exemplo de solidariedade na visita à sua prima Isabel. Maria, Mãe de
Deus, Mãe da Igreja, nossa Mãe: rogai por nós!
Com meu
carinhoso abraço, irmão e amigo,
Pe.José Gilberto BERALDO
Equipe
Sacerdotal GE