“O povo que
andava na escuridão, viu uma grande luz;
para os que
habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu” (Is 9,1)
Muito
queridos amigos e irmãos, leitores e leitoras: que todos possamos ser, de novo
neste Natal e sempre, iluminados pela luz que é o próprio Cristo!
Esta
é a nossa última carta de 2014. Mês de dezembro; mês intenso do Advento e, dia
25 do mês, celebração litúrgica e festiva do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo!
Iniciamos, portanto, expressando aquele desejo tradicional, mas não menos
carinhoso e fraterno de que a preparação seja sempre mais consciente e a
celebração venha carregada de expectativas de que, neste Natal de Jesus,
renasça em todos os seus seguidores, em toda a Igreja e para todo o mundo a
esperança de mais amor, de mais fraternidade, de mais solidariedade, de mais
misericórdia; de não à violência, de não ao ódio, de não à discriminação. Que
não seja somente mais um natal com “ene” minúsculo, ou seja, natal-presentes,
natal-papai-noel, natal-panetone, natal-ceia farta e, sim, um Natal com “ene”
maiúsculo: Natal com Jesus Salvador, Natal com um renascer para a Vida, Natal
com o “sim” de Maria...Seja, enfim, este Natal, a aurora de “novos céus e de uma nova terra” já
vislumbrados pelo evangelista João no Apocalipse (Ap 21,1).
Primeiro
aniversário da “Evangelii Gaudium”. No clima de um novo
nascimento do Natal, portanto, de “coisas novas” e de acontecimentos novos,
parece-me oportuno lembrar o primeiro aniversário, no dia 24 de novembro pp.,
da magnífica e providencial Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium – A Alegria
do Evangelho – do nosso Papa Francisco. Aliás, é tal a importância desta Exortação que
a sua lembrança pode vir, ainda, como um questionamento/reflexão. Como em todo
o momento significativo da história, é salutar e necessário que lancemos um
olhar para este ano que passou para refletir sobre que frutos a EG produziu até
agora.
Sugestão
para reflexão pessoal e/ou em grupo. Portanto,
que frutos já produziu ou está
produzindo a EG na Igreja no mundo
inteiro, nas Igrejas Nacionais e nas Dioceses...? E nas Comunidades e
Movimentos eclesiais? E, por ser de nosso interesse mais próximo, no Movimento
de Cursilhos - que, aliás, dedicou muitos momentos de formação de seus
responsáveis e participantes, de suas Escolas Vivenciais, de suas Assembleias
nos vários níveis - está produzindo frutos palpáveis de mudança de
mentalidades, de revisão em profundidade, de adaptação concreta ao seu método
querigmático-vivencial, às suas expressões na proclamação da Mensagem do Reino
e, sobretudo, ao ardor de seus membros? Para ajudar-nos, ouçamos o que nos diz
a EG sobre a “eterna novidade”: “Cristo é a ‘Boa Nova de valor eterno’ (Ap 14, 6), sendo ‘o mesmo ontem, hoje
e pelos séculos’ (Heb 13, 8),
mas a sua riqueza e a sua beleza são inesgotáveis. Ele é sempre jovem, e fonte
de constante novidade. A Igreja não cessa de se maravilhar com a ‘profundidade
de riqueza, de sabedoria e de ciência de Deus’ (Rm 11, 33). São João da Cruz dizia: “Esta espessura de sabedoria
e ciência de Deus é tão profunda e imensa, que, por mais que a alma saiba dela,
sempre pode penetrá-la mais profundamente”. Ou ainda, como afirmava Santo
Irineu: “Na sua vinda, (Cristo) trouxe consigo toda a novidade”. Com a sua
novidade, Ele pode sempre renovar a nossa vida e a nossa comunidade, e a
proposta cristã, ainda que atravesse períodos obscuros e fraquezas eclesiais,
nunca envelhece. Jesus Cristo pode romper também os esquemas enfadonhos em
que pretendemos aprisioná-Lo, e surpreende-nos com a sua constante criatividade
divina. Sempre que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original do
Evangelho, despontam novas estradas, métodos criativos, outras formas de
expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de renovado significado para
o mundo atual. Na realidade, toda a ação evangelizadora autêntica é sempre
“nova” (EG 11). Ou, como lembra
o próprio Papa, ficará a EG como mais um documento do magistério eclesiástico? Lembra o Papa: “Não ignoro que hoje os documentos não
suscitam o mesmo interesse que noutras épocas, acabando rapidamente esquecidos.
Apesar disso sublinho que, aquilo que pretendo deixar expresso aqui, possui um
significado programático e tem consequências importantes. Espero que todas as
comunidades se esforcem por atuar os meios necessários para avançar no caminho
duma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como
estão. Neste momento, não nos serve uma “simples administração”.
Constituamo-nos em “estado permanente de missão” em todas as regiões da terra” (EG 25).
A carta do mês de
novembro pp. foi dedicada às conclusões da 43a. Assembleia Nacional do MCC do
Brasil realizada em outubro. A fim de situar essas conclusões no contexto da
Evangelii Gaudium (EG), nela voltamos a alguns itens de nossas reflexões
anteriores. Com a presente, pretendemos retomar o Capítulo III da Exortação
Apostólica, objeto de nossas atenções durante todo este ano de 2014.
Antes, porém, caros
leitores, permitam-me cumprir um dever de justiça – prazerosamente, aliás -, manifestando
minha gratidão a D. Paulo Mendes Peixoto, Arcebispo de Uberaba, pela
colaboração indireta por ele proporcionada aos nossos comentários sobre a EG, com
a síntese por ele elaborada com frases curtas e incisivas de cada um de seus parágrafos.
Obrigado, D. Paulo!
Sempre alimentando
aquele sonho de sua aplicação na prática, tanto do MCC como de outras
comunidades eclesiais interessadas, continuamos a refletir sobre a EG, com o
capítulo III, “O anúncio do Evangelho”
(110-175). Dele já foi feita a introdução no final da carta de outubro pp..
Quatro são seus momentos importantes: 1) Todo
o povo de Deus anuncia o Evangelho (111-134); b) A homilia (135-144); c) A
preparação da pregação (145-159); d) Uma
evangelização para o aprofundamento do querigma (160-175). Por serem a
homilia e sua preparação destinadas especialmente aos ministros ordenados, não
vamos comentá-las aqui (ainda que sejam muito oportunas e úteis também para os
responsáveis por palestras, mensagens, etc. a quem se aconselha que as leiam e
estudem na íntegra procurando aplicá-las na sua missão evangelizadora).
01. Todo o povo de Deus anuncia o
Evangelho (111-134). A
evangelização é dever da Igreja e do povo peregrino evangelizador. E, por ser
de todo um povo, trata-se de um mistério que “mergulha as raízes na Trindade”.
Assim sendo, a iniciativa é de Deus através do Espírito como primazia da graça.
A este respeito, assim se expressa a EG: “A salvação, que Deus nos oferece, é obra da sua misericórdia.
Não há ação humana, por melhor que seja, que nos faça merecer tão grande dom.
Por pura graça, Deus atrai-nos para nos unir a Si. Envia o seu Espírito aos
nossos corações, para nos fazer seus filhos, para nos transformar e tornar
capazes de responder com a nossa vida ao seu amor. A Igreja é enviada por Jesus
Cristo como sacramento da salvação oferecida por Deus. Através da sua ação
evangelizadora, ela colabora como instrumento da graça divina, que opera
incessantemente para além de toda e qualquer possível supervisão. Bem o
exprimiu Bento XVI, ao abrir as
reflexões do Sínodo: “É sempre importante saber que a primeira palavra, a
iniciativa verdadeira, a atividade verdadeira vem de Deus e só inserindo-nos
nesta iniciativa divina, só implorando esta iniciativa divina, nos podemos
tornar também – com Ele e n’Ele – evangelizadores”. O princípio da primazia da graça deve ser um farol
que ilumine constantemente as nossas reflexões sobre a evangelização” (EG 112).
Esta
afirmação pode encontrar um eco profundo também no Movimento de Cursilhos, cujo
carisma gira em torno do eixo GRAÇA ou seja, da própria VIDA DIVINA. Já na fase
do Cursilho, quando se proclamam as mensagens, a da GRAÇA, A VIDA NA VIDA deixa
clara sua centralidade, de forma que todas as demais mensagens respiram ou
deveriam respirar e transpirar seu conteúdo.
Este
parágrafo está proposto nos seguintes densíssimos sub-itens: a) Um povo para todos; b) Um povo com muitos rostos; c) Todos somos discípulos
missionários; d) A força
evangelizadora da piedade popular; e)
De pessoa a pessoa; f) Carismas a
serviço da comunhão evangelizadora; g)
Cultura, pensamento e educação.
Sendo
necessária e pedagogicamente limitado nosso espaço, voltaremos a eles, assim
permitindo-o Deus, em nossa próxima carta.
Com
meu abraço fraterno, termino, renovando meus votos fraternos de um Natal de
renovação, de vida nova em Cristo Jesus, prenúncio de um ano de 2015 abençoado
e carregado de frutos para a nossa missão de anúncio da Boa Notícia do Reino.
Pe.José Gilberto BERALDO
Nenhum comentário:
Postar um comentário