“Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há
diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes atividades, mas é o mesmo Deus que realiza
tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito, em vista do bem
de todos... Todas essas coisas as realiza um e o mesmo Espírito, que distribui a cada um conforme quer”. (1Cor 12, 4-7.11)
Muito amados irmãos e irmãs, “renascidos da água e do
Espírito” (Cf Jo 3,5b), permaneçamos abertos – mente e coração - a uma nova
manifestação do Espírito Santo!
Prossigamos, então com nossas reflexões sobre a Exortação
Apostólica “Evangelii Gaudium” – A Alegria do Evangelho (EG) continuando o
Capítulo I: “A transformação missionária da Igreja”, depois de termos
considerado em nossa Carta anterior o parágrafo “Uma Igreja em saída”.
02. “Pastoral em conversão (EG 25-33). Esses parágrafos
fazem-nos lembrar o Documento de Aparecida (DA 365-372) do qual o próprio Papa
Francisco, quando Cardeal, foi um dos principais redatores. De fato, é preciso esforço para avançar na
conversão pastoral e missionária exigindo uma renovação da Igreja inteira, como
consciência de emenda dos defeitos. Numa Igreja sem fidelidade à vocação, suas
estruturas sempre se corrompem. Assim, a verdadeira conversão pastoral leva à
saída para a ação missionária. Por isso, essa saída é exigida de todas as
instituições e movimentos eclesiais. Sobretudo dos movimentos cujo carisma
manifesta a Igreja saindo ao encontro de todos ou, como diz o Papa, saindo para
as “periferias existenciais”, lembrando-lhes que a pastoral em clave
missionária exige coragem e exige ser ousada e criativa.
03. “A partir do coração do Evangelho” (EG 34- 39).
Sobrasai, aqui, a urgência de se levar em conta a maneira de comunicar a
mensagem do Evangelho, pois com as “novidades” da internet e dos meios de
comunicação de massa corremos o risco de mutilar e reduzir seu conteúdo. Daí o
perigo de ficarmos em aspectos secundários da mensagem. Assim identificamos o
secundário com o essencial de Jesus Cristo. Não é o caso de impor doutrinas,
mas anunciar o mais necessário. O núcleo é a beleza do amor salvífico de Deus
manifestado em Cristo. Na hierarquia das virtudes e ações está a fé quando atua
por amor. O destaque principal é a misericórdia, mostrando o amor de Deus. Na
pastoral é preciso olhar a proporção entre os valores anunciados. É o caso de
quando se fala mais de temperança e menos de justiça e caridade. Mais da lei
que da graça; mais da Igreja que de Jesus; mais do papa que da Palavra. Caso
contrário, a mensagem pode correr o risco de perder “o perfume do Evangelho”.
1.4. A missão que se encarna nas limitações humanas (40-45).
Não podemos ficar limitados em nossas imperfeições ao evangelizar. Lembra-se
que a missão dos teólogos é a de ajudar a Igreja a amadurecer seu próprio juízo
de ação. É preciso ouvir uns aos outros para entender melhor o Evangelho. Urge
prestar atenção às mudanças rápidas e permanentes novidades sem nos
escravizarmos a elas, pois acabamos por correr o risco de anunciar um deus que
não é nem cristão. A fé tem o aspecto da cruz, que supõe adesão do coração com
amor. Os preceitos dados por Cristo são pouquíssimos e nos tornam livres. Isso
tem que ser levado em conta ao pensar numa reforma da Igreja. A culpa é
diminuída pela ignorância, pela violência, pelo medo e vários fatores. O valor
do ideal evangélico está na misericórdia e na paciência. A EG faz uma
observação importantíssima referente ao sacramento da reconciliação, afirmando
que o confessionário não pode ser câmara de tortura, mas de misericórdia. Um coração
missionário está consciente das várias limitações humanas. Ele nunca se fecha e
nem opta por agir com rigidez buscando defender-se a si mesmo.
05. Uma mãe de coração aberto (46-49). A Igreja “em saída”
deve estar sempre com as portas abertas. Foi o que fez o pai do filho pródigo
na expectativa de retorno do filho. O evangelizador deve ser paciente na busca
do caído pelo caminho. As portas devem estar abertas para todos, evitando
moralismos. Nem as portas dos sacramentos devem ser fechadas para alguns. O
batismo e a eucaristia são alimentos generosos para os fracos. Temos que agir
com cuidado de não nos tornar controladores da graça e, sim, como seus fieis
facilitadores. O dinamismo missionário deve atingir os pobres, doentes,
esquecidos. Esses são os principais destinatários do Evangelho de Jesus Cristo.
Conclusão deste
Capítulo I: sair do comodismo e fechamento para buscar quem está na margem
Sugestão para reflexão pessoal e/ou comunitária. A esta
altura de nossas sínteses-reflexões sobre esses parágrafos do Capítulo I da EG
deve ter ficado bem claro o significado ou, melhor a exigência da
“Transformação missionária da Igreja”. Portanto, nunca é demais continuarmos a
nos questionar sobre os nossos raios de ação e de presença missionárias. Permanece
a alternativa de uma resposta à urgente pergunta: os Movimentos ditos eclesiais
(com uma referência muito particular ao Movimento de Cursilhos) já tomaram
consciência da necessidade dessa “transformação missionária” ou continuam,
ainda em inúteis discussões sobre coisas acidentais ou, pelo menos, não tão
importantes para o anúncio da Boa Notícia? Continuam fechados em si mesmos sem
ousar uma saída missionária?
Na próxima Carta pretendemos tratar do Cap.II da EG: “Na
crise do compromisso comunitário” (EG 50-109). Por ora, deixo meus queridos
leitores sob a proteção de Maria, a primeira Evangelizadora, e com meu abraço
amigo e fraterno no Senhor Jesus Cristo.
Pe. José Gilberto BERALDO - Equipe Sacerdotal – GEN
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