1. "VÓS SEREIS MINHAS
TESTEMUNHAS!"
(O comentário do Evangelho abaixo é feito
pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata –
Votorantim – SP
Certa vez um amigo solicitou minha ajuda para atuar como
testemunha a seu favor em um processo trabalhista, antes tive de passar pelo
advogado, que sendo um ótimo profissional quis saber em detalhes tudo o que eu
iria dizer diante do juiz, caso fosse necessário. Um bom testemunho é feito com
firmeza, convicção e clareza de ideia, pois naquele momento a palavra é dele, e
o advogado, promotor, juiz, júri, e as partes envolvidas, apenas o ouvem, uma
palavra errada ou mal colocada, poderá por a perder todo o processo.
O papel de uma testemunha é convencer quem não presenciou o
fato, de que o ocorrido é verdadeiro e não há nenhuma outra interpretação, por
isso, se Jesus fosse como um advogado altamente profissional e rigoroso, nem os
discípulos e muito menos nós, seríamos constituídos suas testemunhas.
No evangelho desse terceiro domingo de páscoa, para início de
conversa o confundiram com um fantasma, e olhe que já era praticamente a
terceira aparição do Senhor, à comunidade. Os dois que iam para Emaús o
confundiram com um forasteiro, na comunidade, as duas primeiras reuniões foram
com as portas fechadas, por medo dos judeus, e ele já tinha aparecido uma vez,
no evangelho de hoje, mesmo ouvindo o depoimento dos discípulos de Emaús, e
vendo Jesus aparecer diante deles, ficaram assustados e cheios de medo. Jesus
falou com eles, mostrou as mãos e os pés, deixou-se tocar, ainda assim não
acreditaram, a ponto do próprio Senhor lhes censurar porque estavam preocupados
e tinham dúvidas no coração.
Em uma audiência diante de um tribunal, essas testemunhas
seriam no mínimo desastrosas, dá até para imaginar o diálogo “Vocês viram Jesus
ou não?”. “Não sabemos Meritíssimo, se realmente era ele, parecia um fantasma, a
gente o viu e o tocou, ele até comeu um peixe assado, pode ser que seja ele
mesmo”. Que “belo testemunho”, não afirma e nem confirma...
No final do evangelho, Lucas afirma que Jesus abriu a
inteligência dos discípulos, para entenderem as escrituras. O pensamento humano
tem uma tampa, um limite aonde chega a lógica humana depois de investigar e
estudar muito alguma questão; dali para frente, há um mistério que só pode ser
compreendido por aquele que crê, ou seja, ler as escrituras apenas com a nossa
inteligência, fechada no horizonte humano, não vamos entender coisa alguma. Mas
se as lermos na perspectiva de Jesus de Nazaré, sua vida, sua história, sua
morte e ressurreição, iremos compreender o sentido da vida, porque nele
encontramos o nosso verdadeiro DNA, a nossa origem e o nosso fim, em Cristo
mergulhamos ao encontro daquele que é a Vida em toda sua plenitude, pois nele
fomos recriados, mudou-se a referência.
Herdamos sim, o pecado original de Adão e Eva, mas agora já
sabemos a verdade, não há possibilidade de a serpente nos enganar, pois
conhecemos aquele que é mais Poderoso e Sábio do que a serpente, nós conhecemos
aquele que esmagou o mal com a sua morte e ressurreição, não há duas
alternativas, só uma e apenas uma, para quem desejar a Salvação: Jesus Cristo, o
Filho de Deus!
Adão e Eva não sabiam o que iria lhes acontecer, não tinham
ainda uma referência. Nós temos: Jesus é alguém da Trindade que se fez homem,
que se faz ouvir, que se deixa tocar, que senta conosco em uma mesa e faz uma
refeição, coloca todas as cartas na mesa, abre o jogo, nada esconde como o
tentador e enganador. Joga às claras, ele é a luz do mundo, o único caminho e a
única verdade, Ele só não pode decidir por nós, por isso o seu reino e o seu
projeto de vida nos são apresentados como uma proposta, cabendo a nós usarmos o
livre arbítrio para aceitá-lo ou recusá-lo.
É esse Jesus Cristo Alfa e Ômega, princípio e fim, Senhor
absoluto da História e Salvador do Homem, que nos congrega como Igreja, que nos
lava de nossas culpas e nos redime dos nossos pecados, que faz de nossas
comunidades um pedacinho do céu prometido, mais ainda, conhecendo nossas
fraquezas e limites, sabendo que temos muitas dúvidas no coração, nos alimenta
com a eucaristia, fala em sua santa palavra, abrindo a nossa inteligência com o
seu espírito que vem do alto.
Embora não sejamos confiáveis para serem suas testemunhas, ele
mesmo nos qualifica: nossas palavras nunca caem no vazio, pois é ele próprio que
fala, e nós, tocados pela graça da eucaristia, conseguimos superar os limites na
nossa relação com o próximo, e se quisermos, o nosso amor será sem limites como
o de Jesus, basta aceitar e querer. Isso se chama santidade de vida, que permite
o entrelaçamento em nós, do humano e divino, aquele que é santo, aceita
participar da nossa vida, mesmo com os seus limites e fragilidades.
Uma vez encarnado em Maria de Nazaré, Jesus se encarna de novo
em cada homem, e em cada mulher, que esteja disposto a acolhê-lo, para fazê-lo
nascer nos corações de outros homens e mulheres, que ainda não o conhecem, é aí
que acontece o testemunho, onde o amor é imprescindível!
“Nisso reconhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes
uns aos outros”. Qualquer outro testemunho ou revelação, que não trouxer a
exigência do amor a Deus e ao próximo, é falso e não será digno sequer de
atenção.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail cruzsm@uol.com.br
2. Um mundo de amor e paz é possível
(O
comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e
disponibilizado no Portal Paulinas)
A narrativa dos discípulos de Emaús é exclusiva de Lucas (cf.
11 abr.). A estrutura da narrativa assemelha-se à estrutura celebrativa da
Eucaristia: a escuta da palavra e a partilha do pão, na qual se reconhece a
presença de Jesus.
Os dois discípulos retornam a Jerusalém para contar o que havia
acontecido no caminho, e comunicam aos apóstolos reunidos o reconhecimento de
Jesus na partilha do pão. Quando estão falando, o próprio Jesus aparece no meio
deles. O encontro com Jesus é o encontro com a paz. É a paz em plenitude, a paz
da participação da vida eterna do Pai, que Jesus traz a todos.
Mesmo depois da crucifixão de Jesus, os discípulos continuavam
com dúvidas sobre o sentido de sua vida. Agora se evidencia que Jesus não foi
destruído pela morte e sua missão de anunciar a conversão para participar da
vida eterna deve ser continuada pelos discípulos em todas as nações. Jesus tem a
vida eterna. Ele continua vivo. Não se trata de um espírito, como era admitido
aos mortos em várias culturas e religiões, mas continua vivo em sua
corporalidade. É o próprio Jesus de Nazaré, com o qual os discípulos conviveram
por alguns anos.
Este texto de Lucas tem um sentido catequético para as
comunidades de cristãos de origem judaica, as quais devem reler as escrituras
sob a ótica da ressurreição, para perceberem a plenitude da vida de Jesus, e o
distinguirem do tradicional messias glorioso esperado por Israel. O equivoco
desta tradicional expectativa messiânica fica em evidência na fala de Pedro aos
"homens de Israel", diante do Templo de Jerusalém, declarando que eles mataram
Jesus, o qual, contudo, foi ressuscitado por Deus (primeira leitura).
As comunidades de discípulos devem viver na paz, conscientes da
presença de Jesus. A paz é aspiração de todos os povos e religiões. Quem faz a
guerra contra a paz são os poderosos na conquista de mais riqueza e poder. A paz
pode ser encontrada em Jesus, que tem a vida eterna e a comunica a todos.
O anúncio da conversão para o perdão dos pecados tem sua origem
na pregação de João Batista. Jesus a assume e a aponta como o caminho para a
vida eterna. Trata-se da conversão à prática da justiça, na plenitude do amor,
pela qual o pecado é removido do mundo. Na observância da palavra de Jesus, o
amor de Deus é plenamente realizado (segunda leitura).
Os discípulos de Jesus, em todos os tempos e povos, são
convocados a testemunhar que um mundo novo onde reinem a paz e o amor, revestido
de eternidade, é possível.
Oração
Senhor Jesus, que tua paz aconteça na minha vida e na
vida das comunidades cristãs, para sermos, assim, testemunhas da tua
Ressurreição.
3. REALIDADE DA
RESSURREIÇÃO
(O comentário do Evangelho abaixo é feito
pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da
FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada
mês).
Após o encontro do túmulo vazio pelas mulheres, Lucas narra as
aparições do ressuscitado aos discípulos de Emaús, e, agora, aos onze apóstolos
e companheiros. Este texto, exclusivo de Lucas, tem um sentido catequético. As
comunidades de cristãos de origem judaica devem reler as escrituras sob a ótica
da ressurreição, para perceberem a plenitude da vida de Jesus e o distinguirem
do tradicional messias glorioso esperado por Israel. O núcleo da narrativa é a
comunicação da paz, a afirmação da realidade corpórea do ressuscitado e o
testemunho missionário. As comunidades de discípulos devem viver na paz,
conscientes da presença de Jesus. A paz é aspiração de todos os povos e
religiões. Quem faz a guerra contra a paz são os poderosos, para conquistar mais
riqueza e poder. A paz só pode ser encontrada em Jesus, que tem a vida eterna e
a comunica a todos. A vida eterna, ultrapassada a condição temporal, como
ressuscitados, envolve a totalidade da pessoa, corpo e alma, e não como um
espírito desencarnado. O ressuscitado não é um espírito. Apresentando-se em
"carne e osso", identifica-se com o próprio Jesus de Nazaré. É o Jesus que
partilhou o pão com o povo, que trouxe paz a todos e que continua presente na
comunidade. Agora, os discípulos devem testemunhar a todas as nações a conversão
à justiça para a remoção dos pecados (primeira leitura). A conversão à prática
da justiça leva à construção de um mundo de paz, liberto do pecado, assumido por
Deus. A conversão à justiça é a prática do mandamento do amor (segunda leitura).
E pelo amor se entra em comunhão com Deus em sua vida eterna.